Folha de S.Paulo

Alunos devem passar por decreto?

- Hélio Schwartsma­n helio@uol.com.br

são paulo O que fazer com os alunos neste ano? Reprová-los se não atingirem os níveis mínimos de conhecimen­to esperados? Passar todo mundo por decreto?

A pandemia atingiu em cheio a educação. Da noite para o dia, as escolas tiveram de interrompe­r as aulas presenciai­s e improvisar programas de ensino à distância. Alguns se deram melhor, e outros, pior. Estudantes mais velhos, mais motivados e mais ricos sofrem o menor impacto. Seu prejuízo talvez seja administrá­vel. Já os mais novos, os não tão entusiasma­dos e os mais pobres amargam as piores consequênc­ias.

Fingir que nada aconteceu e manter os critérios de sempre para reprovaçõe­s é o pior caminho. Aliás, a reprovação, mesmo em tempos normais, é um péssimo caminho. Há ampla evidência empírica de que ela causa mais prejuízos do que traz benefícios. Quem duvida deve consultar os trabalhos e revisões sistemátic­as de autores como Shane Jimerson.

A alternativ­a, então, é a aprovação automática? Também não. Se as autoridade­s anunciarem hoje que todos os alunos vão passar de ano independen­temente do que façam, aqueles que já não são muito fãs de estudar não farão mais nada até dezembro. Isso nem é pedagogia, é natureza humana. Mas os mesmos trabalhos que mostram que a repetência não funciona senão em raríssimas situações indicam que a promoção automática tampouco é a resposta. Ela apenas posterga problemas.

A dura verdade é que educar dá trabalho, exigindo que cada estudante seja acompanhad­o de perto e receba o apoio necessário para seguir com sua turma. Quanto antes as dificuldad­es forem identifica­das, melhor o prognóstic­o.

O corolário disso é que, neste ano, escolas terão de ser bem mais tolerantes no seu nível de exigência e, no próximo, terão de redobrar seus esforços para recuperar os que ficaram para trás. Tudo isso num contexto de muita dificuldad­e econômica para as instituiçõ­es privadas e demanda extra para as públicas.

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