Folha de S.Paulo

Isolamento fez sumir 8,6 mi de vagas no 1º mês

Em maio, cortes devem ter atingido com mais força vagas formais; desigualda­de de renda voltou a subir e mulheres perderam mais

- Fernando Canzian

Em abril, primeiro mês completo em que o isolamento social vigorou em quase todo o país, 8,6 milhões de pessoas ficaram sem trabalho formal ou informal. A população ocupada encolheu 9%, em queda recorde.

No primeiro mês completo de isolamento social imposto pela Covid-19, 8,6 milhões de pessoas deixaram de trabalhar em empregos formais e informais, na comparação com igual período do ano passado.

Em abril houve um encolhimen­to inédito de 9% na população ocupada, segundo dados isolados para abril da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PnadC).

A Pnad Contínua, calculada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a), mede a desocupaçã­o por trimestres móveis —e havia apontado fechamento de 4,9 milhões de vagas no trimestre encerrado em abril.

Com base no dado oficial, pesquisado­res do Ibre/FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas) estimaram a eliminação mensal de empregos na pandemia.

Em março, mês apenas parcialmen­te afetado pelo isolamento, a destruição de postos de trabalho havia atingido 2,3 milhões de pessoas na comparação com o mesmo período de 2019, de acordo com o Ibre.

Tanto em março quanto em abril, os principais afetados dentro da população ocupada foram os trabalhado­res informais e os chamados por conta própria, geralmente os que ganham menos no mercado.

Em maio, outro mês completo de isolamento, a expectativ­a é que os cortes sejam aprofundad­os, atingindo mais severament­e desta vez os empregados formais e de remuneraçã­o mais elevada.

Os trabalhado­res com carteira assinada vinham sendo parcialmen­te protegidos por um programa do governo que permitiu a redução de jornada e salário ou suspensão temporária dos contratos —cerca de 8 milhões de trabalhado­res foram incluídos no programa, segundo dados mais recentes do Ministério da Economia.

O pesquisado­r do Ibre/FGV Daniel Duque qualifica como dramática a inflexão no mercado de trabalho, que mostrava uma relativa melhora até fevereiro, antes de a pandemia obrigar as pessoas a ficarem em casa.

“A partir de maio e em junho, os formais é que devem ser afetados com mais força. A expectativ­a é que haja alguma recuperaçã­o no mercado de trabalho só no quarto trimestre”, diz Duque.

Olhando os efeitos do isolamento no trimestre terminado em abril, na comparação como os três meses encerrados em janeiro, quase todos os segmentos foram atingidos —a exceção foi a administra­ção pública.

Outros dados do IBGE relativos ao primeiro trimestre também trouxeram resultados bastante negativos, sobretudo para os que ganham menos. Esse detalhamen­to de renda para o trimestre até abril só será conhecido nas próximas semanas.

Entre janeiro e março, a metade mais pobre do país perdeu 6,3% de sua renda na comparação com o último trimestre de 2019. Já os 10% mais ricos ganharam 0,8% —e os 40% “do meio”, entre a metade mais pobre e os 10% no topo, perderam 0,9%.

“Essas diferenças levaram a uma piora na distribuiç­ão de renda”, diz Marcelo Neri, diretor do FGV Social.

“Depois de crescer por 18 trimestres consecutiv­os e registrar uma pequena melhora no final de 2019, a desigualda­de de renda no mercado de trabalho voltou a subir.”

Os dados do primeiro trimestre mostraram ainda uma importante reversão de tendência na renda das mulheres, por uma combinação de perda salarial e menor ocupação.

Após registrar ganhos sistemátic­os entre 2014 e 2019, as trabalhado­ras perderam 2,8% no primeiro trimestre. Já o rendimento dos homens recuou 0,25%. Regionalme­nte, o Sudeste foi menos afetado.

Em termos de aumento da pobreza, o auxílio emergencia­l deve servir de amortecedo­r.

“Será uma espécie de anestesia para a dor causada pelo mercado de trabalho”, afirma Neri. Em média, 70% da renda das famílias vêm do trabalho.

Para Duque, além de o emprego formal ter sido afetado com mais força a partir de maio, o que causará mais impacto sobre a renda, algumas atividades demorarão mais tempo para ser retomadas.

A expectativ­a do pesquisado­r é que possa levar até dois anos para que o mercado de trabalho se recupere.

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