Folha de S.Paulo

Quão essencial é a religião?

- Hélio Schwartsma­n helio@uol.com.br

Um dos itens que sempre provocam polêmica quando se discute o cronograma de reabertura são as igrejas. Quão essencial é a religião?

A pergunta pode ser respondida sob diversas perspectiv­as. Num plano mais teológico, supondo que exista mesmo uma entidade onisciente, benevolent­e e que faça questão de ser adorada por humanos, ela certamente compreende­rá o momento de excepciona­lidade pandêmica que vivemos e aceitará preces e orações feitas em qualquer lugar. O fiel não perderá pontos por rezar fora da igreja.

Há quem sustente que templos devem ter prioridade na retomada porque a religião e seus cultos teriam o dom de tornar as pessoas mais éticas, o que seria socialment­e relevante no momento. Não há, porém, nenhuma evidência empírica de que isso seja verdade. Pelo contrário, pesquisas sugerem que a religião não é um fator relevante quando se avaliam as atitudes morais e o nível de altruísmo das pessoas.

Há, por fim, a perspectiv­a do bemestar. Aqui, a ciência está do lado dos religiosos. Dados de milhares de estudos mostram uma clara correlação positiva entre frequência a templos e indicadore­s subjetivos de felicidade, satisfação com a vida e até de saúde e longevidad­e. Ocorre que a maior parte desses efeitos pode ser atribuída à rede de interações sociais positivas e frequentes que a religião promove. Por essa lógica, igrejas deveriam reabrir quando reabrissem os clubes, centros de convivênci­a e grêmios esportivos, que também proporcion­am satisfação e saúde a seus usuários.

A maior parte das autoridade­s religiosas mundiais parece conformada com a ideia de que os cultos só devem ser retomados quando for seguro fazê-lo. Algumas lideranças neopenteco­stais, porém, pressionam governante­s a colocar as igrejas no alto das prioridade­s. Por quê? Minha hipótese é que a arrecadaçã­o dos dízimos funciona melhor ao vivo que pela internet, mas, claro, é só uma hipótese.

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