Folha de S.Paulo

Coqueiro, papagaio e livros

- Ruy Castro

Por causa de uma lista que publiquei há dias, de livros estrangeir­os que levaria para uma ilha deserta —por ilha, leia-se o confinamen­to a que alguns de nós estamos nos submetendo para não contaminar os autoimunes à Covid que se esbaldam lá fora—, leitores me cobraram a de autores nacionais. Nem era necessário. Já reservei uma cabana, com coqueiro e papagaio, para me instalar e ler meus favoritos. Limitando-me aos autores que já partiram para suas próprias e eternas ilhas, eu levaria —deixem-me ver.

“Memórias de um Sargento de Milícias”, claro, de Manuel Antonio de Almeida. “Lucíola”, de José de Alencar. “Almas Complexas”, de Carmen Dolores. “O Arara”, de Caliban —pseudônimo de Coelho Netto para seus romances semipornog­ráficos, acredita? “Dentro da Noite”, de João do Rio. “Casos e Impressões”, do surpreende­nte Adelino Magalhães. “Quando Veio o Crepúsculo...”, de Théo-Filho. “Mlle. Cinema”, de Benjamim Costallat.

“A Estrela Sobe”, de Marques Rebelo. “A Imaginária”, de Adalgisa Nery. “Marcoré”, de Antonio Olavo Pereira. “Crônica da Casa Assassinad­a”, de Lucio Cardoso. “Asfalto Selvagem”, de Nelson Rodrigues. “Ai de Ti, Copacabana”, de Rubem Braga. “O Cego de Ipanema”, de Paulo Mendes Campos. “Hospício é Deus”, de Maura Lopes Cançado.

“A Milésima Segunda Noite da Avenida Paulista”, de Joel Silveira. “O Rosto”, de Mario Filho. “Pessach: A Travessia”, de Carlos Heitor Cony. “Trinta Anos de Mim Mesmo”, de Millôr Fernandes. “O Pavão Desiludido”, de José Carlos Oliveira. “Cabeça de Papel”, de Paulo Francis. “Os Garotos da Fuzarca”, de Ivan Lessa. “Serpente Encantador­a”, de Telmo Martino.

Platão não queria poetas na sua República. Eu os quero na minha ilha, mas numa lista à parte. E, como você reparou, deixei para trás Machado, Lima Barreto, Graciliano, Guimarães Rosa, Clarice. Se eu precisar, é só pedi-los emprestado ao bananeiro da ilha.

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