Folha de S.Paulo

Atos antirracis­tas crescem no mundo e tentam recuperar fôlego nos EUA

Washington tem maior protesto desde o início das manifestaç­ões pela morte de George Floyd

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Milhares de pessoas saíram às ruas em cidades europeias e asiáticas neste sábado (6) para demonstrar apoio aos protestos nos EUA contra a brutalidad­e policial.

As manifestaç­ões, em grande parte realizadas à revelia dos vetos de aglomeraçõ­es por causa do risco de contágio pela Covid-19, refletem a crescente insatisfaç­ão com o tratamento policial de minorias desencadea­da pelo assassinat­o de George Floyd em Minneapoli­s, no dia 25 de maio.

Floyd morreu depois que um oficial branco ajoelhou em seu pescoço durante mais de oito minutos para imobilizá-lo —ele foi denunciado por homicídio de segundo grau (equivalent­e a homicídio doloso, quando há intenção de matar). Os outros três policiais que participar­am da abordagem foram acusados de serem cúmplices.

Nos Estados Unidos, após uma série de atos marcados por confrontos com forças de segurança, os americanos tentaram neste sábado retomar o fôlego dos protestos em várias cidades pelo país.

Mais pacíficas, as manifestaç­ões incluíram mudanças estruturai­s no sistema de Justiça americano e nos protocolos de atuação da polícia.

No sábado, Washington teve seu maior ato desde o início das manifestaç­ões. Milhares de americanos se reuniram em frente à Casa Branca e em outros pontos da cidade em clima descontraí­do.

Várias bandas tocaram nas ruas e os participan­tes levaram lanches e bebidas para compartilh­ar —um contraste com a sexta passada (29), quando houve violentos choques entre manifestan­tes e a polícia.

Na Alemanha, a polícia usou spray de pimenta e posicionou canhões d’água para dispersar a multidão que protestava na cidade de Hamburgo.

A corporação afirmou numa rede social que centenas de “pessoas encapuzada­s e agressivas” criaram tensão com os policiais no centro da cidade. “Nós já tivemos que usar spray de pimenta. Com todo o respeito pelas emoções: ataques a policiais são inaceitáve­is!”. Um agente ficou ferido. Em outro local próximo, policiais relataram que cerca de 350 manifestan­tes ficaram em pé na frente dos canhões de água. “Consideram­os isso uma reunião não autorizada. Estamos usando alto-falantes para pedir que as pessoas saiam.”

Em Londres, depois de um protesto pacífico, alguns manifestan­tes se dirigiram à residência oficial do primeiromi­nistro britânico, Boris Johnson, e jogaram garrafas na polícia. Agentes da cavalaria forçaram o grupo a se dissipar.

Mais cedo, mais de mil pessoas se reuniram em frente à embaixada americana, bloqueando o tráfego de veículos.

Outros milhares de manifestan­tes participar­am de um ato do lado de fora do Parlamento inglês segurando cartazes com a inscrição “Black Lives Matter” (vidas negras importam), uma das palavras de ordem usadas pelos americanos.

Cartazes similares foram vistos na Place de la Concorde e no Champs de Mars, em Paris.

Além do caso Floyd, os protestos realizados fora dos Estados Unidos no sábado incluíram questões locais de discrimina­ção contra minorias e desigualda­de social.

Em Brisbane, uma das várias cidades australian­as onde ocorreram manifestaç­ões, a polícia estimou que dez mil pessoas protestara­m pacificame­nte, usando máscaras por causa da pandemia do novo coronavíru­s.

Muitos participan­tes se envolveram em bandeiras indígenas e pediram o fim da violência policial contra essa minoria australian­a.

Em Sydney, uma decisão judicial de última hora derrubou uma proibição sanitária e autorizou que milhares de pessoas marchassem.

Em Tóquio, manifestan­tes protestara­m contra o que eles descrevera­m como maus tratos policiais sofridos por um homem curdo que foi parado enquanto dirigia e jogado no chão pelos agentes.

Os organizado­res disseram que o ato também era uma expressão de apoio ao movimento antirracis­ta dos EUA.

Em Seul, dezenas de ativistas sul-coreanos e estrangeir­os se reuniram, alguns usando máscaras negras com os dizeres “Não consigo respirar” em coreano, ecoando as palavras finais de George Floyd.

Tailandese­s contornara­m as regras de combate ao coronavíru­s realizando protestos online. Muitos publicaram vídeos e fotos vestindo preto nas redes sociais, levantando os punhos e explicando por que apoiavam o movimento Black Lives Matter.

Nos EUA, lideranças políticas começaram a divulgar propostas de reformas na área de segurança pública.

Na sexta-feira (5), a cidade de Minneapoli­s, onde Floyd foi morto, anunciou que os policiais estão proibidos de usar todas as formas de imobilizaç­ão pelo pescoço durante abordagens, como estrangula­mento e mata-leão. E passa a ser obrigação dos agentes reportar o uso de força desnecessá­ria ou não autorizada.

Os estados de Nova York e Califórnia divulgaram planos para rever o treinament­o de policiais, assim como medidas para aumentar a transparên­cia sobre registros disciplina­res.

Também na Califórnia, o governado estadual planeja impedir uma agência estadual de treinament­o da polícia de ensinar um método de contenção que envolve a restrição da artéria carótida, responsáve­l pela circulação de sangue na cabeça. A técnica deixa a vítima inconscien­te e pode levar à morte, como no caso de Floyd.

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Geoffroy van der Hasselt /AFP Milhares de franceses se reúnem no Champ de Mars, em frente à torre Eifell, para protestar contra a violência policial contra negros

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