‘A verdade é que é uma incerteza para todos, para vocês e para nós’
Dia #85 – Sábado, 6 de junho. Cena: na segunda-feira, mais de metade da Espanha entra na fase 3, última etapa da desescalada.
Como contei nesta sexta (5), tive sorte de ter acesso a um teste de coronavírus. Sou a única pessoa que conheço que fez um PCR, a não ser pelos pais idosos de um amigo.
Estar de quarentena depois de um resultado positivo de infecção por coronavírus não é exatamente uma brisa. O que eu imaginava estar acabando, para mim, está só começando. E como é a experiência de um coronapositivo assintomático como eu?
Primeiro passo: comunicar o sistema de saúde, uma vez que meu teste foi realizado em um laboratório privado. O passo seguinte é conseguir falar, finalmente, com minha médica de cabeceira.
Atenciosa, ela vai repassando todas as informações sobre o meu caso e me pergunta por todas as pessoas com quem tive contato físico “por mais de 15 minutos” nos últimos 15 dias.
Em seguida, num intervalo de dois a três dias, todas as seis pessoas que vi nos últimos dias receberão uma ligação de um rastreador, cuja função é mapear e acompanhar a evolução dessa rede.
Segundo o protocolo, depois de sete dias de um primeiro teste PCR positivo, realiza-se outro. Se der positivo, repete-se o teste depois de mais sete dias.
E o que dizer de um teste sorológico (de anticorpos) negativo de dois dias antes, feito no Instituto de Oncologia que me acompanha?
A médica diz que “há distintas possibilidades”, como uma janela imunológica no momento da prova. Pra complicar, “parece que algumas pessoas com sintomatologia muito leve podem acabar não desenvolvendo anticorpos”.
“Mas, com essa enfermidade, vamos aprendendo a cada dia. A verdade é que é uma incerteza para todos, para vocês e para nós também.”
Silêncio ao telefone. Medito sobre suas palavras. E me despeço.