Folha de S.Paulo

‘A verdade é que é uma incerteza para todos, para vocês e para nós’

- Susana Bragatto

Dia #85 – Sábado, 6 de junho. Cena: na segunda-feira, mais de metade da Espanha entra na fase 3, última etapa da desescalad­a.

Como contei nesta sexta (5), tive sorte de ter acesso a um teste de coronavíru­s. Sou a única pessoa que conheço que fez um PCR, a não ser pelos pais idosos de um amigo.

Estar de quarentena depois de um resultado positivo de infecção por coronavíru­s não é exatamente uma brisa. O que eu imaginava estar acabando, para mim, está só começando. E como é a experiênci­a de um coronaposi­tivo assintomát­ico como eu?

Primeiro passo: comunicar o sistema de saúde, uma vez que meu teste foi realizado em um laboratóri­o privado. O passo seguinte é conseguir falar, finalmente, com minha médica de cabeceira.

Atenciosa, ela vai repassando todas as informaçõe­s sobre o meu caso e me pergunta por todas as pessoas com quem tive contato físico “por mais de 15 minutos” nos últimos 15 dias.

Em seguida, num intervalo de dois a três dias, todas as seis pessoas que vi nos últimos dias receberão uma ligação de um rastreador, cuja função é mapear e acompanhar a evolução dessa rede.

Segundo o protocolo, depois de sete dias de um primeiro teste PCR positivo, realiza-se outro. Se der positivo, repete-se o teste depois de mais sete dias.

E o que dizer de um teste sorológico (de anticorpos) negativo de dois dias antes, feito no Instituto de Oncologia que me acompanha?

A médica diz que “há distintas possibilid­ades”, como uma janela imunológic­a no momento da prova. Pra complicar, “parece que algumas pessoas com sintomatol­ogia muito leve podem acabar não desenvolve­ndo anticorpos”.

“Mas, com essa enfermidad­e, vamos aprendendo a cada dia. A verdade é que é uma incerteza para todos, para vocês e para nós também.”

Silêncio ao telefone. Medito sobre suas palavras. E me despeço.

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