Folha de S.Paulo

Safra de caqui vira retrato de desigualda­de na pandemia

Preço da fruta considerad­a popular despenca; variedade nobre fica mais cara

- Bruna Narcizo

O caqui, que era vendido a R$ 3,50 o quilo no início da safra, em março, agora custa R$ 0,50. É mais uma faceta da crise econômica causada pelo novo coronavíru­s e também da desigualda­de do país.

A variedade da fruta que sofre queda acentuada de preço é a mais popular, o rama forte. Já o tipo fuyu, considerad­o mais nobre e consumido principalm­ente por famílias das classe A e B e pela comunidade japonesa, ficou mais caro desde o início da pandemia.

Cláudio Valio Correa, 48, produz caquis rama forte há 20 anos em Pilar do Sul, na região conhecida como cinturão verde de São Paulo.

Ele ainda não conseguiu comerciali­zar toda a safra e já amarga uma queda de 60% no faturament­o, na comparação com o ano passado.

“Não sei nem fazer as contas de quantas toneladas tivemos que jogar fora”, diz.

Ele é quem conta que começou a safra negociando sua produção a R$ 3,50. Quando a pandemia se instalou e o governo estadual impôs medidas de isolamento social, o consumo praticamen­te zerou.

“Depois voltaram a comprar, mas o preço foi para R$ 0,50 o quilo”, afirma.

Na tentativa de diminuir as perdas, ele estendeu o período de colheita. “Geralmente finalizamo­s em maio, mas eu estou tentando prorrogar até o dia 20 de junho. Não sei quanto tempo mais o fruto vai aguentar no pé.”

Correa conta que não sabe como vai conseguir pagar as parcelas do financiame­nto rural que vencem no próximo mês. “O governo precisa fazer algo. Fui tentar renegociar a prestação de uma máquina que venceu no mês passado e o banco não aprovou.”

A situação de Ercílio Hoçoya, 37, cuja família produz caquis do tipo fuyu há 50 anos em Mogi das Cruzes é com

pletamente diferente.

“Antes de começar a quarentena, resolvi aumentar a minha venda direto para o consumidor. Nossa expectativ­a de é cresciment­o de 35% .”

Hoçoya começou a divulgar a venda direta em suas redes sociais e conseguiu cerca de 100 clientes frequentes.

“Antes da pandemia, destinava mais ou menos 60% para Ceagesp, 30% para supermerca­do e apenas 10% para o consumidor final. Neste ano mudou e acabei destinando 60% para supermerca­do, 25% para consumidor final e o restante para o Ceagesp”, afirma.

Na Ceagesp (Companhia de Entreposto­s e Armazéns Gerais

de São Paulo), a comerciali­zação de caqui caiu cerca de 40% na comparação com o período pré-pandemia.

Segundo Gabriel Bitencourt, engenheiro agrônomo e chefe do centro de qualidade em horticultu­ra da Ceagesp, a diferença na situação financeira dos produtores é tipo de fruta que cultivam.

“O rama forte é uma planta mais popular e o público alvo do fuyu é mais refinado. É um fruto mais consumido pela comunidade japonesa”, diz ele.

Ele se baseou nos dados da sessão de economia e desenvolvi­mento do entreposto. “O preço do rama forte chegou a cair 50% durante a pandemia. Já o fuyu chegou a subiu cerca de 20% nestes meses, na comparação com o mesmo período do ano passado”, diz ele.

A maior parte do fruto consumido na capital e região metropolit­ana é produzida no cinturão verde paulista, mais conhecido pela produção de hortaliças.

A área é dividida nos lados leste e oeste. Do lado leste estão Mogi das Cruzes, Santa Isabel e Suzano, com mais de 4 mil pequenos produtores.

Na região oeste, são aproximada­mente 3 mil agricultor­es de municípios como Ibiúna, Piedade e Sorocaba.

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Eduardo Anizelli/Folhapress Trator transporta produção da variedade fuyu colhida em Mogi das Cruzes
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Divulgação Caqui tipo rama forte é descartado em Pilar do Sul após forte queda no consumo

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