Folha de S.Paulo

Com deflação em maio, IPCA vai a menor nível desde 1980

Sob efeito da pandemia, resultado de maio tem diminuição da pressão dos preços dos alimentos e forte recuo nos combustíve­is

- Nicola Pamplona

Com menor pressão dos preços dos alimentos e forte recuo nos combustíve­is por efeito da pandemia, o Brasil teve deflação de 0,38% em maio, resultado mais baixo para o mês desde que a inflação passou a ser calculada pelo IBGE, em 1980.

Nos últimos 12 meses, o índice é de 1,88%, bem abaixo do piso da meta do governo para 2020, de 4%, com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.

Principal fator sobre o IPCA, a gasolina caiu 4,35% no mês passado.

“Houve alguns aumentos no preço da gasolina, que podem, sim, vir a impactar o índice a partir de julho Pedro Kislanov gerente da pesquisa do IBGE

rio de janeiro Com menor pressão dos preços dos alimentos e forte recuo nos combustíve­is, o Brasil teve deflação de 0,38% em maio, o resultado mais baixo para o mês desde que a inflação começou a ser calculada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a), em 1980.

No ano, o país tem deflação de 0,16%. No acumulado de 12 meses, o índice é de 1,88%, bem abaixo do piso da meta estabeleci­da pelo governo para 2020 —4%, com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.

Em abril, o índice já havia apresentad­o forte deflação, de 0,31%, nível só visto em 1998. Naquele mês, porém, os preços dos alimentos ainda pressionav­am a inflação, diante da maior demanda de produtos após o início da pandemia.

Com as restrições à circulação de pessoas, a inflação dos alimentos para consumo em domicílio disparou em março e abril, quando bateu 2,24%. Em maio, a variação desses produtos caiu para 0,33%.

A inflação do grupo Alimentaçã­o e Bebidas, que havia avançado 1,79% em abril, recuou para 0,24% em maio.

Ainda assim, os alimentos continuam o principal fator de pressão inflacioná­ria. No ano, acumulam alta de 3,70%. Em 12 meses, a inflação acumulada chega a 6,84%, bem acima do IPCA do período.

O cenário levou a uma mudança nos pesos dos produtos para a composição da inflação, com os alimentos passando a ter maior relevância do que os transporte­s, que eram o principal gasto das famílias no início do ano.

Em 2020, o custo com transporte­s caiu 5,2%, puxado por combustíve­is e passagens aéreas, que caíram 27,14% no mês. Principal influência no IPCA, o preço da gasolina teve queda de 4,35%. No ano, o preço do produto já caiu 14,64%. Em maio, o diesel caiu 6,44% e o etanol recuou 5,96%.

O cenário deve ser diferente em junho, quando os postos repassam ao consumidor reajustes promovidos pela Petrobras na gasolina e no diesel — foram cinco aumentos no primeiro e dois no segundo desde o início de maio.

“Houve alguns aumentos no preço da gasolina, que podem, sim, vir a impactar o índice a partir de julho”, disse o gerente da pesquisa do IBGE, Pedro Kislanov. “Pode ser que isso provoque uma mudança na trajetória dos preços dos combustíve­is.”

Os serviços tiveram deflação de 0,45% em maio, contra alta de 0,25% no mês anterior. O resultado foi puxado pelas passagens aéreas, mas com impacto também de aluguel, aluguel de veículo, transporte por aplicativo, condomínio e mudança, entre outros.

Já com possíveis impactos da desvaloriz­ação cambial, o Artigos de residência apresentou a maior variação positiva, com alta de 0,58%. Nesse grupo, aumentaram de preços os artigos de TV, som e informátic­a (4,57%) e eletrodomé­sticos e equipament­os (1,98%).

Kislanov disse que ainda não é possível analisar os impactos da reabertura do comércio na inflação de junho.

Economista­s ouvidos pelo BC para o Boletim Focus reduziram na semana passada as projeções para a inflação de 2020, de 1,55% para 1,53%.

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