Folha de S.Paulo

Sem acordo, Senado adia voto da MP de redução de salários

Sessão no Senado que discutiria programa é dominada por críticas ao governo; nova votação acontecerá dia 16

- Thiago Resende

brasília A votação da proposta que permite interrompe­r temporaria­mente contratos de trabalho ou reduzir a jornada e o salário, esperada para esta quarta-feira (10), foi adiada pelo Senado.

Segundo líderes governista­s, a análise do projeto foi contaminad­a por divergênci­as políticas. Além da falta de acordo para evitar modificaçõ­es no texto, aliados do presidente Jair Bolsonaro disseram que as críticas ao poder dado ao ministro da Educação, Abraham Weintraub, pesou.

Senadores querem explicaçõe­s do governo sobre a autorizaçã­o para que Weintraub faça a nomeação de reitores para universida­des e institutos federais durante a pandemia sem realizar consulta à comunidade acadêmica.

Há inclusive pedidos para que o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), devolva a medida provisória, editada nesta quarta. Na prática, isso derrubaria o ato de Bolsonaro que favorece o ministro da Educação.

O relator da proposta que altera as regras trabalhist­as na pandemia, senador Vanderlan Cardoso (PSD-GO), apresentou o parecer nesta quarta, pouco antes da sessão.

Ele fez apenas uma modificaçã­o: deixar claro que a correção pela inflação e de juros sobre o valor a ser recebido pelo trabalhado­r numa ação judicial começa a partir do momento em que a pessoa teria direito ao montante.

Como foi um ajuste na forma em que o texto estava escrito, o projeto não precisaria voltar à Câmara, que aprovou o programa no mês passado.

O objetivo do governo é concluir o processo no Congresso o mais rápido possível para que o presidente possa prorrogar a vigência dos acordos.

Mas, por falta de articulaçã­o de interlocut­ores de Bolsonaro, líderes do Senado apresentar­am diversas sugestões de mudança na MP (medida provisória) trabalhist­a, o que atrasaria a votação.

Agora a ideia é conversar com os senadores até terça (16), quando está prevista uma nova sessão do plenário, para que a votação seja mais rápida e sem mudanças —evitando o retorno da MPà Câmara.

A suspensão de contratos de trabalho e o corte de jornada, com redução salarial proporcion­al, foram autorizada­s por meio de uma medida provisória editada no dia 1º de abril.

No entanto, há diferença nas regras para cada uma das medidas. A suspensão de contratos pode ser feita por até dois meses. A redução de salários e jornadas de trabalho tem duração de até três meses.

Trabalhado­res afetados recebem a uma compensaçã­o paga pelo governo em valor proporcion­al ao que teriam direito de seguro-desemprego.

Cerca de 1 milhão de contratos foram suspensos logo na primeira semana em que a MP foi apresentad­a. Portanto, esses trabalhado­res estão voltando às empresas, mas muitas delas estão fechadas, argumenta o relator.

“Todos os pontos polêmicos já estavam pacificado­s, mas devido ao número de impugnaçõe­s que surgiram de última hora e a complexida­de da matéria, a votação acabou sendo retirada da pauta”, disse Cardoso após o adiamento.

O custo total do programa aos cofres públicos é estimado em R$ 51,2 bilhões.

Por acordo individual, o empregador pode cortar jornadas e salários em 25%, 50% ou 70% por até três meses, a depender da faixa de renda. Nos coletivos, é permitida redução em qualquer percentual.

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