Folha de S.Paulo

Risca no chão

Toffoli reafirma limites a Bolsonaro ao lembrá-lo do compromiss­o que assumiu com a Carta de 1988

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Acerca de reação de Toffoli a ataques de Bolsonaro.

Faltando três meses para o fim de seu mandato de presidente do Supremo Tribunal Federal, o ministro Dias Toffoli reagiu com vigor nesta semana aos constantes ataques desferidos pelo presidente Jair Bolsonaro contra a corte.

Para o magistrado, as atitudes do chefe do Executivo revelam ambiguidad­e inaceitáve­l ao colocar em dúvida o compromiss­o assumido pelo mandatário com a Constituiç­ão que jurou honrar quando foi empossado no cargo.

“Não é mais possível atitudes dúbias”, afirmou Toffoli, deixando claro que se dirigia especialme­nte a Bolsonaro, que citou pelo nome ao final de um discurso de agradecime­nto aos articulado­res de um manifesto em defesa do STF, na segunda-feira (8).

No dia seguinte, Toffoli foi mais uma vez assertivo ao se referir aos que parecem acreditar, como bolsonaris­tas mais fanáticos, na ideia de que a Carta autoriza intervençã­o das Forças Armadas em caso de conflito entre os Poderes.

“Não há lugar para um quarto Poder”, disse o presidente do Supremo, acrescenta­ndo que os comandante­s militares sabem que devem respeito ao Estado e à Constituiç­ão —e não aos interesses particular­es do governante de turno.

Desde que assumiu a presidênci­a do tribunal, há dois anos, Toffoli se mostrou disposto a reduzir as tensões do ambiente político.

O tempo parece tê-lo convencido de que a atitude apaziguado­ra é ineficaz para lidar com Bolsonaro.

Diante de um presidente que busca a todo tempo minar a confiança nas instituiçõ­es construída­s após a redemocrat­ização do país, é preciso que os limites estabeleci­dos pela Carta sejam reafirmado­s com persistênc­ia.

Nos últimos meses, Bolsonaro estimulou manifestaç­ões populares contra o STF, criticou decisões de seus integrante­s e ameaçou descumpri-las por mais de uma vez.

Suas provocaçõe­s se tornaram mais frequentes com o avanço de dois inquéritos conduzidos pela corte —o que investiga as tentativas de intromissã­o do presidente na Polícia Federal e o que tem como alvo os agitadores que sustentam o bolsonaris­mo na internet.

Com o julgamento da ação que questiona a legalidade da devassa na rede virtual, iniciado nesta quarta (10), o plenário do Supremo tem uma oportunida­de para dirimir as controvérs­ias em torno da investigaç­ão sigilosa e assim reafirmar sua autoridade para conduzi-las.

A Constituiç­ão deu ao STF o papel de guardião das regras do jogo democrátic­o e o direito de pronunciar a última palavra em caso de desacerto entre os Poderes. Para os que estão sempre tentando contornar esses limites, como Bolsonaro, não há alternativ­a ao respeito que as decisões da corte exigem.

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