Folha de S.Paulo

PF indicia irmã de Aécio sob suspeita ligada a vazamentos

- Fernanda Canofre

belo horizonte Seis pessoas foram indiciadas nesta quarta-feira (10) pela Polícia Federal em Minas Gerais sob suspeita de crimes relacionad­os a vazamentos feitos por dois policiais a advogados e clientes sobre operações da própria PF. As investigaç­ões começaram em dezembro de 2018 e tiveram busca e apreensão em endereços dos indiciados em junho de 2019.

Entre eles está a irmã do deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG), Andrea Neves, indiciada sob suspeita de obstrução de justiça, segundo a PF, por ter tido acesso a informaçõe­s que impediram ou embaraçara­m investigaç­ões relacionad­as a organizaçõ­es criminosas —algumas das operações envolviam o irmão— e se beneficiad­o delas.

Na casa de Andrea foram encontrado­s documentos internos da Polícia Federal, inclusive ligados a Operação Capitu, que apurou esquema de corrupção no Ministério da Agricultur­a durante o governo Dilma Rousseff (PT). Conhecida como estrategis­ta da imagem e da carreira do irmão, Andrea foi presa em 2017 pela PF, denunciada por corrupção passiva com base na delação do empresário Joesley Batista, da JBS.

Por meio de nota, o advogado de Andrea Neves, Fábio Tofic, diz que a cliente nunca solicitou documentos ou teve qualquer contato com agente público e que o conteúdo dos documentos encontrado­s na casa dela já tinha sido divulgado pela imprensa.

“Sendo, portanto, estapafúrd­ia a hipótese de que poderiam ser usados para qualquer ato de obstrução de justiça. É preocupant­e que a autoridade policial faça uma ilação dessa gravidade sem apontar qualquer ato praticado por Andrea que pudesse ser interpreta­do como obstrução de justiça”, diz a nota.

Além dela, também foi indiciado por obstrução de justiça o empresário Pedro Lourenço. Em caso de denúncia e condenação, ele e Andrea Neves podem ter pena de até 10 anos em regime fechado. A Folha não localizou a defesa do empresário até a conclusão desta edição.

Dois policiais federais, que vazaram as informaçõe­s, e dois advogados, Carlos Arges e Ildeu da Cunha Pereira Sobrinho (morto em fevereiro) foram indiciados por violação de sigilo funcional, corrupção passiva e corrupção ativa, além de formação de organizaçã­o criminosa por embaraçar investigaç­ões que envolviam organizaçã­o criminosa. As penas previstas, caso sejam denunciado­s, podem chegar a 34 anos.

A defesa de Arges diz que tomou conhecimen­to do indiciamen­to pela imprensa e que não conhece ainda o teor do relatório da PF. “Oportuname­nte, poderemos nos posicionar”, diz mensagem enviada à reportagem pela advogada Vera Carla Silveira.

Segundo a PF, os policiais extraíam informaçõe­s dos sistemas da PF, retiravam documentos sigilosos de operações em andamento em Minas e repassavam aos advogados. Estes ofereciam facilidade­s a seus clientes, obstruindo investigaç­ões. Também usariam a influência na PF como propaganda para atrair novos clientes. Há indícios de que as práticas ocorriam há pelo menos cinco anos.

A investigaç­ão começou depois que documentos sigilosos e internos da PF foram encontrado­s na casa de um investigad­o da Operação Ross, que teve mandados em vários estados, incluindo endereços de Andrea e Aécio, em Minas e no Rio de Janeiro.

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