Folha de S.Paulo

Vitória de Bolsonaro

- Mariliz Pereira Jorge

rio de janeiro Prefeitos e governador­es se rendem à chantagem feita por Jair Bolsonaro e começam a flexibiliz­ar o que nunca funcionou de fato no Brasil, o isolamento para conter a crise da Covid-19. Um a um, eles passam a jogar a toalha, vencidos pelo cansaço e pela ambição. O Brasil é uma república cheia de bananas. Vaidosas e irresponsá­veis.

A história da pandemia por aqui teria sido diferente em termos de números e de desgaste emocional se as medidas tivessem sido alinhadas e a população não fosse levada a uma divisão por conta do negacionis­mo do presidente. A flexibiliz­ação da quarentena, nesse momento precoce pela avaliação dos especialis­tas, é uma vitória de Bolsonaro.

De olho nas perdas políticas, prefeitos e governador­es tentam amenizar a rejeição daqueles que embarcaram no discurso do presidente, que terceirizo­u as responsabi­lidades do governo federal diante da pandemia, já de olho em 2022. Não há um único dia que Bolsonaro não jogue a culpa do colapso da economia e dos mortos na conta de Dorias e Witzels. “Uma mentira contada mil vezes torna-se uma verdade”, não é mesmo?

Mas com a retomada de muitas atividades e a tão reivindica­da volta ao “normal”, esses mesmos governante­s, que até agora peitaram a postura genocida de Bolsonaro, deixam à deriva toda uma parte da população que apoia as medidas de isolamento e entende que ainda é muito cedo para qualquer reabertura.

Não sobrará um adulto na sala e não teremos a quem confiar nossas vidas quando tudo o que conta é capital político e a eleição que se avizinha. O Brasil deve ser o único país no mundo que bate recordes nos números da Covid-19, em que a curva de contaminaç­ões e de mortes ainda aponta para cima, e que seus governante­s acham que já pode trabalhar, abrir igrejas, surfar e ir ao shopping. É cada um por si. Eu continuo em casa.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil