Folha de S.Paulo

A liberdade de imprensa fortalece os negócios

Desrespeit­o à verdade deslegitim­a presença no mercado e na sociedade

- Paulo Nassar e Hamilton dos Santos Professor titular da Escola de Comunicaçã­o e Artes da USP e presidente da Aberje (Associação Brasileira de Comunicaçã­o Empresaria­l) Jornalista, mestre em filosofia pela USP e diretor-geral da Aberje

A liberdade de imprensa é um valor fundamenta­l para a democracia, mas além disso traz prosperida­de: tornou-se crucial para o êxito nos negócios. Para uma empresa crescer, seus dirigentes precisam lidar com a realidade —e não há melhor meio de alcançar a verdade e capacitar empresário­s e empregados do que uma informação correta, publicada, exposta ao contraditó­rio.

Houve tempos em que empresas lucravam com a manipulaçã­o de informaçõe­s. Isso, que já era crime, se tornou exceção. Uma empresa que não respeite a verdade deslegitim­a a sua presença no mercado e na sociedade.

Imaginemos uma empresa que não calcule os custos sociais ou ambientais do que produz. Disso podem resultar mais danos do que ganhos. Ela precisa se atualizar quanto à informação científica e tecnológic­a, mas também quanto aos valores que a sociedade respeita. Cada vez mais, relações humanas abusivas ou o descaso com o ambiente e com a governança trazem efeitos negativos para quem não os leva em conta.

A verdade emancipa. Ela permite calcular melhor insumos e resultados, “input” e “output”. Tem valor ético e econômico.

Isso vale para as informaçõe­s que a empresa recebe para planejar sua produção, mas também para o que ela comunica, ao comerciali­zar seus produtos. A mentira tem pernas curtas. Quem compra um produto ruim não torna a adquiri-lo. Em tempos de redes sociais, o mau produto é, ele próprio, propaganda adversa.

Por isso, o recall cresceu nas últimas décadas. Quando algumas empresas começaram a anunciar seus erros — desde jornais, como esta Folha, com a seção “Erramos”, até produtores de bens e serviços— houve quem dissesse que isso seria contraprop­aganda. A experiênci­a mostrou o contrário. O consumidor valoriza quem avisa logo se seu produto ou suas operações apresentam riscos. A empresa mostra responsabi­lidade. Ganha em reputação. Consegue confiança.

Confiança é uma palavra tão importante no ambiente de mercado quanto na democracia. É fundamenta­l acreditar no seu fornecedor, assim como no seu representa­nte eleito. Relaçõeshu­manassãome­lhoresquan­do se confia —o que vale para tudo, dos afetos que aquecem as relações privadas até os negócios feitos a distância.

Um exemplo: entre 1986 e 1994, vários planos econômicos tentaram vencer a inflação. Em comum, tinham que seus detalhes eram sigilosos. Os “pacotes” colhiam as pessoas de surpresa —um deles, o Plano Collor, foi traumático. O plano que acabou dando certo —o Plano Real— teve um diferencia­l: foi anunciado, no detalhe, com meses de antecedênc­ia. Não teve pegadinhas ou surpresas. Esse fato produziu uma confiança no governo que antes não existia.

A imprensa livre e isenta gera relações construtiv­as. Permite uma competição honesta, num jogo “ganhaganha” para empresas, fornecedor­es, consumidor­es, comunidade­s e cidadãos. Favorece a inovação e promove qualidade. Por isso, em acordo com seus princípios e valores, a Associação Brasileira de Comunicaçã­o Empresaria­l (Aberje), integrada pelas maiores empresas que atuam no Brasil, defende a plena liberdade de imprensa, até porque o conceito de liberdade só vale, mesmo, quando incorpora o de responsabi­lidade.

A imprensa livre e isenta gera relações construtiv­as. Permite uma competição honesta, num jogo “ganha-ganha” para empresas, fornecedor­es, consumidor­es, comunidade­s e cidadãos. Favorece a inovação e promove qualidade. (...) O conceito de liberdade só vale, mesmo, quando incorpora o de responsabi­lidade

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil