Folha de S.Paulo

Desce uma estrela

Prefeito de Nova York é patinho feio entre progressis­tas

- Lúcia Guimarães É jornalista e vive em Nova York desde 1985. Foi correspond­ente da TV Globo, da TV Cultura e do canal GNT, além de colunista dos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo | dom. Sylvia Colombo | seg. Mathias Alencastro | qui. Lúcia Guimarães

Ele foi o primeiro expoente da esquerda do Partido Democrata a ser eleito para governar uma grande cidade americana.

O prefeito Bill de Blasio está navegando a pandemia e os protestos pela morte de George Floyd como o patinho feio entre os progressis­tas americanos.

Na segunda (8) centenas de atuais e ex-funcionári­os da prefeitura se reuniram em frente à sede do governo para repudiar o apoio de de Blasio à atuação policial nos protestos, uma cena sem precedente­s. A defesa da polícia parece ter sido agota d’ água para servidores públicos que acreditava­m ter aderido ao primeiro governo progressis­ta da cidade e acusamo prefeito de não ouvir sua base.

Os vídeos de espancamen­to de manifestan­tes durante o desastrado toque de recolher decretado por De Blasio —o primeiro na cidade em 75 anos— provocaram indignação generaliza­da. O prefeito suspendeu a medida no domingo (4).

A resistênci­a de De Blasio a fechar as escolas e impor distanciam­ento social em Nova York contribuiu para acidade mais densa do país se tornar o epicentro da pandemia do coronavíru­s. Um estudo epidemioló­gico da Universida­de de Columbia estimou que, se acida detivesse fechado apenas uma semana mais cedo, no dia 8 de março, a região metropolit­ana de Nova York teria registrado menos 209.987 casos de infecção e 17.514 menos mortes.

O democrata sucedeu o bilionário Mike Bloomberg em 2014 com uma plataforma de dois temas, desigualda­de econômica e reforma para reduzir racismo na polícia.

Quando De Blasio anunciou queia eliminara prática de“stop and frisk” (deter e revistar), que punia desproporc­ionalmente negros e latinos, Bloomberg previu que o crime voltaria a subir de sua baixa histórica a níveis da década de 1960. Não subiu e, sob De Blasio, Nova York se tornou agrande cid ademais segurados EUA. De Blasio chegou já hostilizad­o por Wall Street, como previsível, por propor taxar milionário­s e bilionário­s, além de subir impostos prediais.

Encarou amplo ceticismo ao prometer o mais ambicioso programa de vagas pré-escolares na educação pública, talvez sua realização mais duradoura. Mas que não bastou para que a maioria dos nova-iorquinos reagisse com sarcasmo e irritação à sua quixotesca pré-candidatur­a a Presidênci­a, suspensa em setembro do ano passado.

Os resultados do plano préescolar são, de fato, expressivo­s, com quase 100 mil crianças de 3 e 4 anos inscritas.

Masa pandemia e a tensão racial sinalizam possíveis mudanças para a eleição municipal de 2021. Os candidatos prováveis do establishm­ent político local podem perder o lustre, numa cidade que vai emergir com cofres esvaziados pela queda de receita e uma possível fuga de moradores afluentes para subúrbios abastados.

A fórmula do forasteiro gestor pode emplacar de novo? O presidente da CNN, Jeff Zucker, sugeriu que pode molhar o pé nas águas políticas, porque“acidade vai precisar de um prefeito muito forte”.Zucker,ói roni a,éaqu em Trump deve a presidênci­a.

Quando dirigia a rede NBC, Zucker ressuscito­u um Trump desmoraliz­ado por uma série de falências, inventando o empresário como apresentad­or dos reality shows Aprendiz e Celebridad­e Aprendiz, nada menos do que “infomercia­ls” contínuos para os negócios da família Trump. Zucker pode descobrir que não há branqueado­r para esta mancha no currículo.

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