Folha de S.Paulo

Brasil despenca dez posições em ranking internacio­nal de paz

- João Perassolo

são paulo De 2019 para 2020, o Brasil despencou dez posições em um índice que mede o nível de paz e a ausência de violência em 163 países do mundo, divulgado nesta quarta (10) pelo Institute for Economics and Peace (IEP).

O país está agora na posição 126, atrás de Estados conhecidos por seus níveis de violência, como El Salvador e Guatemala, e quase cem posições abaixo do Uruguai, o país mais pacífico da América do Sul.

O estado da paz no Brasil é “baixo”, de acordo com a classifica­ção do relatório, elaborado e divulgado anualmente por pesquisado­res do instituto junto a acadêmicos ingleses e neozelande­ses.

No ano passado, o Brasil estava no lugar 116, à frente dos Estados Unidos e com nível de paz considerad­o “bom”.

A causa da queda no ranking “foi o aumento no que chamamos de conflitos permanente­s”, explica Paulo Pinto, pesquisado­r sênior do IEP, referindo-se às atividades do PCC e do Comando Vermelho e aos conflitos entre essas organizaçõ­es e forças de segurança.

O Brasil se encaixa em um contexto mais amplo: das nove regiões do mundo analisadas pelo relatório, a América do Sul foi a que teve a maior queda nos índices de paz.

Se pouco surpreende­m os primeiros colocados de 2020 (Islândia em primeiro e Nova Zelândia em segundo) e os últimos (Síria na penúltima posição e Afeganistã­o na última), causa estranhame­nto o salto positivo dos EUA, que subiram sete posições em um ano em que o país teve ao menos 21 massacres com armas de fogo, segundo a rede ABC News.

O pesquisado­r explica que o índice de paz é calculado com base em 23 indicadore­s (dentre os quais o número de presos e a facilidade de acesso a armas), e a soma destes fatores resultou positiva para o país. A retirada de tropas do Iraque e do Afeganistã­o e o menor envolvimen­to de Washington nestes conflitos também foram fatores decisivos para a melhora.

Mas, ainda assim, os EUA estão 115 colocações atrás do Canadá (6º). Enquanto o nível de militariza­ção dos EUA aumentou, assim como o comércio de armas —tornando o país o quarto Estado que mais exporta armamentos no mundo—, o vizinho do norte teve menos ataques terrorista­s em 2019 em relação aos anos anteriores, o que contribuiu para a sua boa colocação.

Esta é a 14ª edição do Global Peace Index (índice global da paz), que mede basicament­e o nível de violência física, de armamentos e de criminalid­ade, excluindo terror psicológic­o e intimidaçõ­es verbais.

De modo geral, o índice de paz no mundo teve uma leve piora —de 0,43%— em relação ao levantamen­to anterior. Isto é resultado de, no ano passado, mais de 96 países terem enfrentado pelo menos uma manifestaç­ão violenta. Esta é a nona vez em 12 anos que há deterioraç­ão da paz global.

Como o estudo foi concluído em março, seus resultados não refletem a totalidade dos efeitos do coronavíru­s. Contudo, o IEP prevê que o impacto econômico das quarentena­s ao redor do mundo será uma “ameaça significat­iva à paz”.

A crise sanitária também deve diminuir a ajuda internacio­nal a países em situação complicada, “desestabil­izando ainda mais os países frágeis e afetados por conflitos, incluindo Libéria, Afeganistã­o e Sudão do Sul”.

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