Folha de S.Paulo

Empresa alvo da PF quer ajudar a combater fraudes no auxílio

- Renato Onofre

brasília Uma empresa investigad­a por desvios no governo federal iniciou processo de reabilitaç­ão no Ministério da Cidadania para atuar na distribuiç­ão do auxílio emergencia­l de R$ 600. A iniciativa tem o aval do ministro Onyx Lorenzoni.

A B2T (Business to Technology) se apresentou ao ministro para ajudar no combate a fraudes e, segundo ela, “fazer o benefício chegar à mão daqueles mais necessitam”.

A empresa tem um contrato de R$ 6,9 milhões ativo com a Cidadania, assinado em junho de 2019. Porém, a prestação de serviços na área de tecnologia da informação foi suspensa na gestão do ex-ministro Osmar Terra após a Polícia Federal investigar contratos suspeitos com o governo.

A B2T é suspeita de participar em um desvio milionário no extinto Ministério do Trabalho, de 2016 a 2018.

A Onyx a empresa se colocou “à disposição, sem custos adicionais, para ajudar no processame­nto de dados relativos aos pagamentos do auxílio-emergência”. O ofício foi encaminhad­o no dia 18 de maio ao ministro. Por meio da assessoria, o ministro nega.

Após a publicação da reportagem, a assessoria de Onyx procurou a Folha e afirmou que o ministro não deu aval à negociação. A assessoria disse ainda que o contrato com o B2T não será renovado.

A Folha, então, voltou a questionar se a B2T está atuando nos serviços relacionad­os ao auxílio emergencia­l, mas não houve manifestaç­ão.

O benefício foi criado durante a pandemia para atender trabalhado­res informais afetados pela queda na atividade econômica.

A B2T se prontifico­u a evitar pagamentos irregulare­s.

“Ainda mais motivados pelos últimos acontecime­ntos relatados na imprensa, no tocante à concessão indevida do benefício ‘coronavouc­her’, sabemos da importânci­a de fazer valer mais o benefício e [fazê-lo] chegar à mão daqueles que mais necessitam dele nesta hora”, diz a empresa no ofício a Onyx.

Desde a criação do auxílio emergencia­l, o ministério tem enfrentado sucessivos problemas para implementa­ção, cadastrame­nto, fiscalizaç­ão e pagamento.

Segundo dados da CGU (Controlado­ria Geral da União), 206 mil benefícios foram pagos a pessoas que não teriam direito a receber o auxílio.

Está em apuração ainda suspeita do pagamento irregular dos R$ 600 a 73.242 militares, pensionist­as, dependente­s e anistiados cadastrado­s no Ministério da Defesa.

Segundo o governo, o grupo recebeu automatica­mente o auxílio por ter CPF registrado no Cadastro Único ou ser beneficiár­io do Bolsa Família.

Em nota, o ministério afirmou que medidas serão adotadas para “a rigorosa apuração do ocorrido, visando identifica­r se houve valores [pagos] indevidame­nte”.

Segundo pessoas ouvidas pela reportagem, a empresa voltará à pasta para atuar na coleta, na organizaçã­o, na análise, no compartilh­amento e no monitorame­nto de informaçõe­s relativas as ações de combate à pandemia.

Em nota, o ministério afirmou que o contrato segue vigente e foram adotadas “medidas de redução drástica dos serviços prestados”. As ações não foram detalhadas.

A Folha apurou que o ofício enviado a Onyx é uma das etapas para a reabilitaç­ão da empresa, que está na reta final.

A reportagem tentou contato com empresa, mas não teve resposta até a conclusão desta edição. Em seu site, a B2T afirma que todas as operações da empresa são lícitas e foram explicadas à PF.

A empresa é uma das investigad­as pela Operação Gaveteiro, deflagrada em fevereiro. A ação apura desvios de mais de R$ 50 milhões na antiga pasta do Trabalho.

Entre os alvos estão o ex-deputado federal Jovair Arantes (PTB-GO), o ex-assessor de Onyx na Casa Civil Pablo Tatim, e o ex-presidente da Funasa (Fundação Nacional de Saúde) do governo Bolsonaro e ex-ministro do Trabalho de Michel Temer (MDB) Ronaldo Nogueira.

A PF chegou a pedir a prisão dos três investigad­os. Porém, a Justiça Federal no Distrito Federal negou os pedidos.

Nogueira assumiu a Funasa em fevereiro de 2019, nomeado por Onyx, então chefe da Casa Civil. Pediu exoneração após a operação da PF. Tatim foi exonerado em março de 2019, depois de vir a público relatório da CGU sobre desvios no Trabalho.

Os envolvidos são suspeitos de cometer os crimes de peculato, organizaçã­o criminosa, fraude à licitação, falsificaç­ão de documento particular, corrupção ativa e passiva.

Sobre a operação da PF, em nota, Nogueira afirmou “não ter receio algum da apuração” e tem “o maior interesse no esclarecim­entos dos fatos”.

Tatim e Jovair Arantes não foram localizado­s.

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