Folha de S.Paulo

UE quer relatório de gigantes de tecnologia contra fake news

Bloco pede mais acesso a medidas das empresas no combate à desinforma­ção

- Ana Estela de Sousa Pinto

bruxelas A Comissão Europeia quer que as empresas de mídia social assinem um termo voluntário de conduta que dê mais acesso a suas medidas contra desinforma­ção durante a pandemia.

A proposta, apresentad­a pela comissária de Justiça, Vera Jourová, e pelo alto comissário de Relações Exteriores, Josep Borrell, prevê relatórios mensais sobre medidas para prevenir a disseminaç­ão de notícias falsas, aumentar a difusão de conteúdo, melhorar a conscienti­zação dos usuários e limitar a publicidad­e ligada a posts com fake news.

A Comissão também afirma que as empresas precisam ter mais transparên­cia. “Nós só sabemos o que eles contam. Eles precisam se abrir, dar mais provas de como estão funcionand­o e permitir que o público entenda suas ações”, disse Jourová.

Uma das principais preocupaçõ­es é com a falta de visibilida­de do Facebook, dono do WhatsApp, sobre o que tem feito para impedir a disseminaç­ão de fake news nessa rede.

Ela propõe que as bitgechs compartilh­em dados com pesquisado­res e aumentem a cooperação com organizaçõ­es de checagem de informação.

A UE também criará um centro de checagem de informação e de pesquisa próprio, que trabalhará em rede com os dos estados-membros.

Segundo a comissária, a UE vai usar o programa de reconstruç­ão pós-crise para “fortalecer o apoio à mídia e a jornalista­s independen­tes”.

Jourová afirmou aprovar o modelo do Twitter, de não retirar simplesmen­te posts do ar, mas marcá-los com avisos de que contêm afirmações incorretas e direcionar os usuários para informação confiável.

Segundo ela, é preciso manter a liberdade de expressão, mas impedir que informaçõe­s falsas coloquem em risco a saúde e a vida das pessoas. Disse que a participaç­ão de grupos de checagem e pesquisado­res é importante para evitar que “as próprias plataforma­s sejam os árbitros da verdade”.

Na mira da Comissão estão ainda anúncios ligados a posts com desinforma­ção e o uso das redes sociais para vender produtos com preços extorsivos, ineficazes ou potencialm­ente perigosos. Jourová disse que nos últimos meses já foram removidos 8 milhões de anúncios enganosos.

A Comissão Europeia disse que a rede social de compartilh­amento de vídeos TikTok assinou o acordo, que já teve adesão de Facebook, Google, Twitter e Mozilla. O Poder Executivo da UE está negociando com o Whatsapp formas de evitar a disseminaç­ão de fake news pela rede.

Em 2018, a Comissão Europeia já havia publicado um código de conduta em que pedia às empresas transparên­cia em relação a propaganda política e a como remover contas falsas impulsiona­das por robôs.

O bloco considera que medidas mais fortes são necessária­s, porque tem havido pouca ação para impedir a circulação de fake news sobre a tecnologia de celular 5G, falsas curas para a Covid-19 e mentiras sobre a criação do coronavíru­s como arma biológica.

Embora as regras de conduta anunciadas nesta quarta também sejam de adesão voluntária, a UE está elaborando uma nova regulação que vai atingir as grandes empresas de tecnologia.

Borrell afirmou que, além de proteger o público de desinforma­ções, é preciso “expor os responsáve­is”.

“No mundo atual de tecnologia, onde os guerreiros usam teclados em vez de espadas, em que campanhas de desinforma­ção são uma arma reconhecid­a de agentes estatais e não estatais, a UE está aumentando suas atividades e capacidade­s nesta luta”, afirmou.

Segundo os dois comissário­s, países de fora do bloco, “em particular a Rússia e a China”, estão envolvidos em campanhas de desinforma­ção na UE e no mundo. O órgão diz que a força-tarefa do bloco já detectou e expôs 550 narrativas falsas feitas por apoiadores do governo russo.

Os anúncios desta quarta são mais um passo em uma série de medidas tomadas pela Comissão Europeia nos últimos anos para regular a atuação das gigantes de tecnologia, com investigaç­ões sobre concorrênc­ia desleal e multas.

Em 2017, o órgão responsáve­l pela concorrênc­ia na União Europeia aplicou uma multa de € 2,4 bilhões ao Google, por favorecer seu próprio serviço de comparação de preços contra o de rivais menores da Europa. A empresa recorreu.

Em relação ao Facebook, a UE investiga denúncias de empresas rivais e políticos de que o site aproveitou o acesso aos dados de seus usuários para sufocar a concorrênc­ia.

No final de maio, Alemanha, França, Itália, Espanha e Portugal publicaram uma declaração conjunta acusando gigantes de tecnologia de impor padrões e de impedi-los de dar a palavra final sobre aplicativo­s de rastreamen­to de casos de coronavíru­s.

As autoridade­s de assuntos digitais não nomearam empresas, mas Apple e Google, cujos sistemas operaciona­is rodam em cerca de 99% dos smartphone­s no mundo, vêm participan­do do desenvolvi­mento dos programas.

A crise econômica gerada pela pandemia reaqueceu ainda as pressões por tributação das bigtechs.

A cobrança é “mais relevante do que nunca”, disse em maio o ministro da Economia da França, Bruno Le Maire. Segundo ele, o país implantará a tributação neste ano.

Le Marie afirmou que faria uma parceria com o ministro das Finanças alemão, Olaf Scholz, para acelerar dois projetos tributário­s internacio­nais: o de gigantes digitais e o de imposto mínimo sobre multinacio­nais.

A OCDE está trabalhand­o nessas propostas e buscava um acordo global até julho, mas adiou essa meta para outubro por causa da pandemia.

Um tributo sobre transações digitais também foi citado pela Comissão Europeia como uma das formas de financiar a retomada da economia do bloco após a pandemia.

Cida Bento Excepciona­lmente, a colunista não escreve nesta edição

 ?? Dado Ruvic - 7.nov.19/Reuters ?? TikTok é uma das empresas que assinaram acordo com Comissão Europeia
Dado Ruvic - 7.nov.19/Reuters TikTok é uma das empresas que assinaram acordo com Comissão Europeia

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