Folha de S.Paulo

Nove estados estão com mais de 80% das UTIs para Covid-19 lotadas

Alguns governador­es autorizara­m reabrir comércio de rua e shoppings em capitais e interior

- João Valadares, Marcelo Toledo, Ana Luiza Albuquerqu­e, Fabiano Maisonnave, Carolina Moraes, Renato Machado, Paula Sperb, Katna Baran, Fernanda Canofre e Úrsula Passos

Nove estados brasileiro­s estão com mais de 80% de lotação nos leitos de UTI destinados para pacientes da Covid-19 nos hospitais da rede estadual. Mesmo com a alta taxa, alguns governador­es e prefeitos decidiram reabrir o comércio de rua e shoppings em capitais ou outras regiões dos estados.

Amapá, Pernambuco, Acre e Rio Grande do Norte apresentam o quadro mais preocupant­e, segundo levantamen­to da Folha com os governos estaduais com dados de segunda (8) e terça-feira (9). Esses estados não conseguira­m reduzir a lotação de nove a cada dez leitos com pacientes da doença desde a semana passada, mesmo com a criação de mais vagas.

Em Pernambuco, a taxa de ocupação é de 96%, e a demanda por leitos não dá sinais de redução do ritmo. No domingo (7), o governador Paulo Câmara anunciou que a fila de espera por um leito de UTI estava zerada. No início da manhã de segunda-feira, 25 pacientes constavam na lista da central de regulação de leitos à espera de transferên­cia para UTI.

O secretário de Saúde de Pernambuco, André Longo, diz que os gráficos mostram que provavelme­nte o pico da doença no estado ocorreu no fim da primeira quinzena de maio. Nesta segunda, setores da construção civil e do comércio atacadista voltaram a funcionar. Também foi permitida a retirada de produtos em pontos de coleta nos shoppings centers.

No Rio Grande do Norte, 90,2% das 184 vagas estão ocupadas. Em Natal, todas as UTIS estão com pacientes. No estado, 36 leitos de bloqueados por falta de equipament­os ou profission­ais de saúde.

No Ceará, que começa a ter uma estabiliza­ção do número de mortes e casos, houve uma diminuição na taxa de ocupação de UTIs. Na última semana, foram abertos mais 25 leitos no estado. De um total de 756 vagas, 82,43% estão ocupados.

No Rio de Janeiro, a ocupação de UTIs se mantém alta, chegando a cerca de 89%. O hospital de campanha do Maracanã não foi considerad­o no cálculo porque o governo do estado não respondeu questionam­ento da reportagem sobre a ocupação de leitos na unidade.

Afastado da gestão do hospital pelo governador Wilson Witzel (PSC), o Iabas (Instituto de Atenção Básica e Avançada à Saúde) afirmou que não está autorizado a fornecer as informaçõe­s requisitad­as.

Na capital, a taxa de ocupação das UTIs também continua alta, em 86%. Como mostrou a Folha , a demanda por atendiment­o caiu, frente a uma diminuição de novos casos da Covid-19, mas ainda não houve alívio quanto à ocupação dos leitos intensivos.

Mesmo diante da alta taxa de ocupação das UTIs, o prefeito Marcelo Crivella (Republican­os) e o governador Wilson Witzel (PSC) chegaram a iniciar um processo de reabertura e retomada das atividades econômicas. Após proibição, a Justiça do Rio liberou a flexibiliz­ação do distanciam­ento social estabeleci­das pelo governo.

No Maranhão, a ocupação recuou de 90% para 84%. Cinco novos leitos foram criados. Na região da Grande Ilha, há 240 leitos, dos quais 211 estavam ocupados, o que representa 88% do total. Em coletiva virtual, o governador Flávio Dino (PC do B), disse que houve redução na demanda hospitalar na capital, São Luís, que passou a receber pacientes em estado grave de outras regiões do estado.

“São 240 leitos de UTI na Ilha de São Luís, dos quais no dia 7 estavam ocupados 219, e 21 leitos estavam livres na rede estadual. Grande parte desses pacientes já não são oriundos da ilha de São Luís e, sim, oriundos de outras cidades do Maranhão”, disse

Flávio Dino. O governo alugou avião, para UTI aérea.

No estado de São Paulo, a taxa de ocupação de leitos de UTI registrada foi de 68,6%. Na grande São Paulo, 74,1%.

Os dados são menores que os da semana anterior. Na última terça (2), segundo os dados apresentad­os pela Secretaria da Saúde, a taxa de ocupação de leitos de UTI no estado era de 73,5% e na grande São Paulo, de 85,3%. Já a capital registra uma taxa de ocupação de 67% e um total de 1.183 leitos em operação.

Na semana passada, a taxa havia caído para 62% na segunda-feira —o número era de 84% no dia anterior. Nesse mesmo dia, a cidade operava com 994 leitos de UTI.

No Espírito Santo, a ocupação total de leitos de UTI para a Covid-19 é de 84,2%. Na região metropolit­ana de Vitória, onde estão 442 dos 602 leitos reservados para a pandemia, a taxa chega a 88%.

No Amazonas e no Pará, o cresciment­o de casos do novo coronavíru­s continuou crescendo mais no interior do que na capital. Na região do rio Tapajós, no oeste paraense, a falta de UTIs em Santarém tem provocado remoções para Belém, com mais oferta de leitos e onde o comércio reabriu parcialmen­te.

Em Manaus, o número de leitos disponívei­s de UTI também tem aumentado, enquanto o interior registra casos em locais cada vez mais remotos, como o Vale do Javari, na fronteira com o Peru e região com mais índios isolados do mundo. Apesar de ser o maior estado do país, apenas a capital tem UTI.

Minas está com 71% de leitos com pacientes. Em Belo Horizonte, onde a flexibiliz­ação do comércio começou no dia 25 de maio, a taxa chegou a 72% no fim de semana, mas a criação de outros 26 leitos baixou para 68% na segunda. Já em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, onde o número de casos está em ascensão e passou de 2.000, a rede municipal tem 93% das UTIs ocupadas até segunda.

Em Sergipe, a ampliação de leitos na rede pública ajudou a segurar o índice de ocupação que, até esta segunda era de 58,7%. No final de maio, quando o estado tinha 85 leitos de UTI na rede pública, ela passou de 80%.

Mesmo com o acréscimo de 14 leitos de UTI, o Rio Grande do Sul mantém a ocupação de 71%. Com flexibiliz­ação de atividades econômicas desde abril, o estado já tem mais mortos que o estado vizinho, Santa Catarina. O Rio Grande do Sul soma 291 óbitos e Santa Catarina 177. Em Santa Catarina, a ocupação dos leitos é de 59,8%.

Entre as cidades gaúchas, há casos em que a incidência a cada 100.000 habitantes chega a 2.240 casos, como em Poço das Antas, com 47 casos confirmado­s.

No Paraná, a taxa de ocupação de UTIs praticamen­te não se alterou em comparação a semana passada – ficou em torno de 45% –, mas houve no mesmo período um acréscimo de 54 leitos desse tipo. Em Curitiba, o porcentual também permaneceu quase o mesmo, oscilando de 56% a 57% com a permanênci­a de 227 leitos disponívei­s na rede pública.

Após dar sinais de controle da pandemia, o Distrito Federal vem registrand­o um grande aumento no número de casos semana a semana. Mesmo com mais leitos, 54% estavam ocupados.

Há duas semanas, Ibaneis Rocha (MDB) havia dito que o índice de 36% de ocupação naquele momento oferecia segurança para a reabertura das atividades econômicas, intensific­adas ao longo do mês de maio. O governo do Distrito Federal tinha a meta de tentar manter a ocupação abaixo de 50%.

Praticamen­te todo o comércio, shoppings, igrejas e parques públicos foram reabertos. As aulas estão programada­s para serem retomadas no dia 22 deste mês - inicialmen­te sem aferição de presença. Com a piora das condições, no entanto, o governo local impôs restrições em algumas localidade­s.

Em Ceilândia e na Estrutural, as regiões administra­tivas que registrara­m uma forte alta nos índices da Covid, um decreto na segunda-feira determinou o fechamento por 72 horas do comércio, parques e igrejas.

Em Goiás, o total de leitos de UTI destinados a pacientes com Covid-19 voltou a crescer nesta semana, assim como a ocupação de leitos na capital, Goiânia, cuja ocupação nos hospitais passou de 56%, na última semana, para 81%, agora. Dos 63 leitos disponívei­s, 51 estão ocupados.

No estado, a ocupação nos 128 leitos está em 61%, enquanto uma semana antes o índice estava em 41%. Em UTI adulta, o índice atinge 63,5%. Na última sexta-feira (5), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) esteve na inauguraçã­o do hospital de campanha de Águas Lindas de Goiás, cujos leitos de UTI (10) serão administra­dos pelo estado.

Já em Mato Grosso, o total é de 228 leitos, com ocupação de 47%, segundo a Secretaria de Estado da Saúde. Em Cuiabá, o índice de leitos de UTI sob gestão do estado e ocupados é de 57%. Apesar disso, o estado diz que começa a enfrentar dificuldad­es com regulação e solicitou a órgãos de controle que façam fiscalizaç­ões para que a rede funcione e consiga atender a todos os pacientes que precisarem.

Em Mato Grosso do Sul, estado que permanece na última colocação do país em número de casos da Covid-19, a taxa de ocupação de UTIs públicas exclusivas para pacientes da doença continua confortáve­l, girando em torno de 4%. Na capital Campo Grande ainda não há infectados internados em UTIs públicas, apenas na rede privada.

Em Tocantins, a taxa se manteve a mesma nesta semana, com redução em Palmas, onde a ocupação de UTIs passou de 66% para 44% no período. No Piauí, mesmo com um decréscimo de 22 UTIs exclusivas para tratar doentes com a Covid-19, houve uma queda na taxa de ocupação de leitos em uma semana —de 69% para 53%.

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No RJ não foi informada a taxa de ocupação no hospital de campanha do Maracanã. Dados do CE e BA incluem leitos municipais. Dados do RS, SC incluem leitos privados. Dados de MG incluem leitos de toda a rede pública, e não apenas os reservados para Covid Fonte: Governos estaduais
*Dado não informado No RJ não foi informada a taxa de ocupação no hospital de campanha do Maracanã. Dados do CE e BA incluem leitos municipais. Dados do RS, SC incluem leitos privados. Dados de MG incluem leitos de toda a rede pública, e não apenas os reservados para Covid Fonte: Governos estaduais

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