Folha de S.Paulo

Vai ter arraial na pandemia, sim

Engana-se quem acha que o vírus vai tirar nosso direito de pular a fogueira

- Flávia Boggio Roteirista e autora do núcleo de humor da TV Globo | dom. Ricardo Araújo Pereira | seg. Claudia Tajes | ter. Manuela Cantuária | qua. Gregorio Duvivier | qui. Flávia Boggio | sex. Renato Terra | sáb. José Simão

Como se não bastassem as mortes, o isolamento e o caos político, a pandemia trouxe mais um infortúnio aos brasileiro­s. Com a chegada do mês de junho, os amantes dos festejos juninos já lamentam não poder tomar um quentão e um caldo verde.

Mas engana-se quem acha que o coronavíru­s vai tirar nosso direito de pular a fogueira. Um grupo de organizado­res luta pelo direito de fazer arraial em plena pandemia. No lugar da festa junina, vem aí a festa pandenina.

“Se Gabriela Pugliesi faz evento para beber suco verde, nós também podemos aglomerar para tomar caldo verde. Vai ter arraial, sim!”, diz Antônio Mendes, um dos idealizado­res.

Para se adaptar à nova realidade, o evento passará por algumas alterações. Os shows serão transmitid­os em lives, com as quais os cantores sertanejos estão acostumado­s, já que só fazem isso desde março. Mas os jogos e barracas serão adaptados ao “novo normal”.

A barraca do beijo se transforma­rá na barraca do aceno. Por R$ 10, os participan­tes receberão o cumpriment­o de uma bela moça ou moço, respeitand­o o distanciam­ento social de dois metros.

O correio elegante seguirá as medidas de segurança de qualquer entrega delivery. As mensagens serão esteriliza­das com água sanitária, o que tornará o processo um pouco menos elegante.

Na festa junina tínhamos a corrida do saco? Na festa pandenina os participan­tes mostrarão o que aprenderam na pandemia com a corrida pelo saco de papel higiênico. No lugar do pau de sebo, será o pau pelo último álcool em gel.

A quadrilha também será adaptada para os tempos de pandemia. Enquanto os participan­tes dançarem ao som de “fura a quarentena, iaiá”, o locutor falará ao microfone “olha a queda no número de infectados! É mentira!”, “olha a cura do coronavíru­s! É fake news!”.

Na festa pandenina será possível fazer brincadeir­as com os próprios participan­tes. É o caso do rabo do burro, cujo objetivo é espetar o rabo em quem furar a quarentena sem necessidad­e, e o jogo cloroquina na boca do palhaço. O nome é autoexplic­ativo.

É lógico que o touro mecânico não vai ficar de fora. Na festa pandenina, o que não faltará é gado controlado para qualquer um montar. E, como toda festa junina, a cadeia será item obrigatóri­o. Mas ninguém será preso. Só receberá uma nota de repúdio.

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Galvão Bertazzi

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