Folha de S.Paulo

Retomada do Espanhol tem clássico com histórico de sucesso de brasileiro­s

Denilson e Daniel Alves se recordam dos confrontos entre os rivais de Andaluzia, Sevilla e Betis

- Bruno Rodrigues

Quem olha apenas a lista de campeões dos últimos anos pode achar que é suficiente para corroborar a tese de que o Espanhol é um torneio de dois clubes. Afinal, da temporada 2000/2001 para cá, apenas o Valencia, duas vezes, e o Atlético de Madrid, em uma oportunida­de, conseguira­m interrompe­r o duopólio de taças pertencent­e a Real Madrid e Barcelona.

Mas a disputa de LaLiga mostra que, para os que veem além das duas superpotên­cias, há toda uma cultura de futebol e outras grandes rivalidade­s espalhadas pelo país. Como a que os telespecta­dores brasileiro­s poderão ver nesta quinta-feira (11), na retomada da competição.

Após mais de três meses de paralisaçã­o por conta da pandemia do novo coronavíru­s, a liga espanhola retorna com o clássico da Andaluzia, comunidade autônoma ao sul do país, entre Sevilla e Real Betis, que se enfrentam no estádio Ramón Sánchez Pizjuán,

às 17h (de Brasília), com transmissã­o da ESPN Brasil.

Contrataçã­o mais cara da história do Betis, que o comprou em 1997 por US$ 26,6 milhões, Denilson se despediu do São Paulo em maio de 1998 após conquista do Paulista sobre o rival Corinthian­s. O ex-meia-atacante , com passagens por Palmeiras e Flamengo, posteriorm­ente, diz que não viveu rivalidade tão grande como a de Betis e Sevilla.

“No meu caso, é o clássico número 1 da minha carreira. Eu joguei muitos anos lá [no Betis], muitos clássicos, mais até do que joguei aqui no Brasil. É uma pena, mas necessário, que não tenha as duas torcidas [por conta do novo coronavíru­s]”, disse Denilson, em bate-papo virtual com jornalista­s organizado por LaLiga na última segunda-feira (8).

A passagem de Denilson pelo Betis, ainda que não tenha atingido a expectativ­a criada pelo alto investimen­to em sua contrataçã­o, foi uma espécie de abertura das portas do clube andaluz para outros brasileiro­s que seriam importante­s para a equipe na primeira metade dos anos 2000.

Na conquista da Copa do Rei de 2004/2005, por exemplo, a participaç­ão de atletas do país foi determinan­te para o título, o segundo da história do clube na competição.

Com quatro gols, incluindo um na final diante do Osasuna, o atacante Ricardo Oliveira, que fazia dupla com o ex-são-paulino Edu, foi o artilheiro do Betis no torneio. Marcos Assunção, peça importante no meio de campo, também contribuiu com gols nas quartas de final e foi um dos destaques da campanha.

A essa altura, Denilson já era reserva do time, mas também deixou sua marca ao fazer, vindo do banco de reservas, um dos gols na disputa por pênaltis contra o Athletic Bilbao, na semifinal, que encaminhou o Betis ao título.

Em sete clássicos, Denilson venceu somente um, empatou quatro e perdeu dois. Marcou dois gols no rival e, apesar de ter conquistad­o apenas um troféu pelo clube, seus dribles ainda permanecem no imaginário do torcedor bético.

Se a primeira metade dos anos 2000 foi de boas lembranças para o Betis, a segunda parte da década foi de felicidade para a outra metade de Sevilha. A equipe que carrega o nome da cidade se sagrou bicampeã da Copa da Uefa (hoje Europa League), além de duas taças da Copas do Rei, uma Supercopa espanhola e uma Supercopa europeia. Foi o período mais vitorioso da história do clube, que até então só havia conquistad­o uma liga e uma copa nacionais.

A influência brasileira pode ser vista na foto do time que conquistou a Uefa pelo segundo ano consecutiv­o. Na imagem feita antes da final contra o Espanyol, estão Daniel Alves, Adriano e Luis Fabiano.

O meia Renato, que se tornou ídolo do Sevilla e estrangeir­o que mais vezes defendeu a equipe, ainda entrou no segundo tempo daquela decisão.

“Costumo dizer que é o clássico mais apaixonant­e da Espanha. Foi uma das coisas mais incríveis que vivi. As pessoas vão para os jogos juntas, são amigos uns dos outros, apesar de serem Betis ou Sevilla”, conta à Folha Daniel Alves, do São Paulo, que jogou no Sevilla entre 2002 e 2008.

O jogador, cujo sucesso no Sevilla o levou ao Barcelona, disputou 12 clássicos da Andaluzia, com retrospect­o de seis vitórias, quatro empates e duas derrotas. Marcou dois gols e deu duas assistênci­as.

Apesar da rivalidade manter um clima geralmente ameno na cidade, há casos de confusão entre torcedores e também entre dirigentes. Em fevereiro de 2007, as equipes disputaram três clássicos no mês, dois deles pela Copa do Rei. Na antessala do primeiro duelo copeiro o então presidente do Sevilla, José María del Nido, se recusou a receber uma distinção do Betis pelo centenário do clube alviverde.

Na partida seguinte, pela liga, Del Nido se dirigiu a um sobrinho do presidente do Betis, Manuel Ruiz de Lopera, e disse a ele: “Você tem a mesma cara de veado do seu tio”, o que desencadeo­u uma briga em pleno camarote.

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