Folha de S.Paulo

Chefe militar se desculpa por ato ao lado de Trump

General caminhou com presidente para fotos enquanto ato era reprimido

- Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves

A principal autoridade militar dos EUA pediu desculpas nesta quinta-feira (11) por ter participad­o de uma caminhada do presidente Donald Trump na praça Lafayette para uma sessão de fotos, depois que forças de segurança usaram gás lacrimogên­eo e balas de borracha para expulsar ativistas pacíficos do local.

“Eu não deveria estar lá”, disse o general Mark A. Milley, chefe do Estado-Maior Conjunto, em discurso em vídeo na Universida­de de Defesa Nacional. “Minha presença naquele momento e naquele ambiente criou uma percepção de que os militares participam da política interna.”

Os primeiros comentário­s públicos de Milley desde a operação de Trump, em que autoridade­s federais atacaram manifestan­tes pacíficos para que o presidente posasse segurando uma Bíblia em frente à igreja de St. John, certamente irritarão a Casa Branca.

Trump passou dias na sede do governo desde o assassinat­o pela polícia de George Floyd, em Minneapoli­s, assumindo posições cada vez mais duras contra o crescente movimento por mudanças no país.

Na quarta, iniciou nova briga com os militares, criticando o Pentágono por pensar em rebatizar bases que levam nomes de oficiais confederad­os que lutaram contra a União na Guerra Civil.

A hesitação demonstra a divisão civil-militar mais profunda desde a Guerra do Vietnã —exceto que, desta vez, os líderes militares, depois de conter os passos no início, agora se posicionam firmemente com os cidadãos que pedem mudanças.

A caminhada de Trump pela praça Lafayette, segundo líderes militares atuais e anteriores, provocou um momento crítico de reavaliaçã­o nas Forças Armadas.

“Como oficial comissiona­do, foi um erro com o qual aprendi”, disse Milley. Ele disse que estava zangado com “o assassinat­o sem sentido e brutal de George Floyd” e repetiu sua oposição às sugestões de Trump de que tropas federais sejam mobilizada­s em todo o país para reprimir protestos.

Amigos de Milley disseram que ele ficou atormentad­o por ter aparecido —com o uniforme de combate que usa para trabalhar— atrás de Trump no percurso pela praça, ato que, segundo os críticos, deu um selo de aprovação militar às táticas linhas-duras usadas para expulsar os manifestan­tes.

O general diz que acreditava estar acompanhan­do Trump e sua comitiva para passar em revista as tropas da Guarda Nacional e outros agentes da lei fora da praça Lafayette, segundo autoridade­s da Defesa.

Nos dias seguintes à sessão de fotos, Milley disse a Trump que estava irritado com o acontecido. Os dois já tinham debatido em 1º de junho, quando Milley envolveu o presidente em uma discussão acalorada no Salão Oval sobre a possibilid­ade de enviar as Forças Armadas às ruas.

Milley afirmou que incêndios ocasionais e saques foram minimizado­s pelos protestos pacíficos e deveriam ser tratados pelos estados, que comandam o policiamen­to local.

Trump concordou, mas continuou ameaçando o envio de tropas para as ruas.

Na semana passada, o secretário da Defesa, Mark Esper, convocou uma entrevista coletiva para anunciar que também se opunha a invocar a Lei da Insurreiçã­o de 1807 para enviar tropas do Exército em todo o país para reprimir protestos, linha que vários oficiais militares dos EUA dizem que não cruzarão.

Segundo assessores, o presidente está furioso com Esper e Milley desde então.

 ?? Brendan Smialowski - 1º.jun.20/AFP ?? Mark Milley (à dir.) ao lado de Trump em praça de Washington, no ato pelo qual general pediu perdão
Brendan Smialowski - 1º.jun.20/AFP Mark Milley (à dir.) ao lado de Trump em praça de Washington, no ato pelo qual general pediu perdão

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil