Folha de S.Paulo

De perfil agregador e trato fácil, Fábio Faria já foi até um nome ‘dilmista’

Fábio Faria também ajudou o então presidente Temer a derrubar denúncia

- Renato Onofre e Julia Chaib RO e Marcelo Rocha

brasília Os ternos Dolce & Gabbana, as gravatas Gucci e os sapatos italianos de Fábio Faria (PSD-RN) não são as únicas caracterís­ticas que o fazem destoar de seu novo chefe, o presidente Jair Bolsonaro. O novo ministro das Comunicaçõ­es é reconhecid­o como agregador e de fácil trato.

Nos bastidores, o deputado exibe dois talentos: o jogo de squash e imitações.

Em seu quarto mandato como parlamenta­r, Fábio Faria, 42, coleciona amizades, polêmicas e relacionam­entos midiáticos. Atualmente, é conhecido o “genro do Silvio Santos”, mas já foi o “namorado” de Adriana Galisteu e “ex” de Sabrina Sato.

Filho do ex-governador do Rio Grande do Norte Robinson Faria, é descrito por correligio­nários e colegas de Congresso como um político que faz amizades com facilidade em diversas alas ideológica­s.

A facilidade de circular é uma caracterís­tica do parlamenta­r que já foi “dilmista” no período de governo do PT, ajudou o ex-presidente Michel Temer (MDB) a derrubar denúncia contra ele na Câmara e, desde o início do novo governo, tem se destacado como voz em defesa de Bolsonaro.

Fábio Faria chegou à Câma

ra em 2007, aos 29 anos, como o deputado mais votado no Rio Grande do Norte —195 mil votos— na primeira eleição que disputou. Nos últimos 12 anos, foi líder de dois partidos (PMN e PSD), 2º vice-presidente e 3º secretário da Mesa Diretora da Câmara.

Desde o fim do ano passado, seu nome circula como uma opção do governo para eleição para a presidênci­a da Câmara, em fevereiro de 2021, que deve ser um dos temas prioritári­os da Casa depois da pandemia do coronavíru­s.

Aliados do parlamenta­r avaliavam, antes de ele aceitar o convite para assumir o ministério, que seu livre trânsito o cacifava para a disputa como alternativ­a viável governista.

Publicamen­te, Faria é avesso à ideia, mas mantém agenda social intensa com colegas fora da Câmara. Busca organizar jantares em seus restaurant­es favoritos —A Mano, Fogo de Chão e Lakes— e sempre que pode marca reuniões com correligio­nários.

Informalme­nte, sua articulaçã­o garantiu ao presidente o apoio de 29 dos 37 deputados do PSD antes mesmo de o chamado centrão ancorar no Planalto. A legenda é presidida por Gilberto Kassab, ex-ministro das Comunicaçõ­es do governo Michel Temer.

Apesar do perfil conciliado­r, Faria é descrito como alguém de personalid­ade forte, que trava discussões ácidas eventualme­nte, além de ser sistemátic­o.

Kassab, que nega ter tido qualquer relação com a indicação de Faria, o descreve como “político nato”. “Vejo um político habilidoso, sério, preparado. Tenho certeza de que vai conseguir desenvolve­r bons projetos e políticas públicas com sua habilidade de conseguir apoio político”, diz o ex-ministro.

Ao lado de Kassab, Faria ajudou a fundar o PSD em 2011 e a articular o embarque do partido do governo Dilma. Em 2014, usou as redes sociais para comemorar a popularida­de da presidente e anunciar o apoio à sua reeleição. “Excelente!”, escreveu ao republicar uma mensagem do usuário do Twitter @sandrarosa­do: “Popularida­de da nossa presidente Dilma chega 77%. Tá dando inveja a Mto [muito]”.

Na Câmara, sua atuação como deputado foi marcada em 2009 pelo escândalo da farra das passagens. O deputado usou verba da cota parlamenta­r para financiar a viagem de artistas a um Carnaval fora de época organizado pelo próprio em Natal (RN).

E repassou parte de sua cota para a ex-namorada Adriane Galisteu, a ex-sogra e um amigo da apresentad­ora. Após o escândalo, o parlamenta­r ressarciu os cofres da Câmara.

Fora do trabalho, Faria pratica squash regularmen­te até mesmo em dias de atuação na Câmara, quando aproveita a hora do almoço para treinar. Hoje ocupa a 44ª posição no ranking nacional, mas já figurou entre os dez principais jogadores do país.

Em 2018, admitiu ter sondado o presidente dos Correios à época, Guilherme Campos, que era seu colega de partido, sobre patrocínio ao esporte.

A empresa pública, que agora estará sob o seu chapéu no Ministério das Comunicaçõ­es, acabou aprovando R$ 700 mil para financiar a Confederaç­ão Brasileira de Squash, mesmo registrand­o um prejuízo de R$ 2 bilhões no ano anterior.

Outro talento seu são as imitações. Ele emula com maestria trejeitos dos ex-presidente­s Lula e Temer, além do próprio Kassab.

Em 2018, um vídeo seu imitando Silvio Santos viralizou nas redes. A pedido do sogro, Faria ligou para parentes do dono do SBT se passando como o apresentad­or.

É casado com Patrícia Abravanel, filha do empresário, mas seus colegas dizem que o deele evita falar da família e citar o nome de Silvio em reuniões de bancada e outros encontros.

Uma ocasião em que falou de assuntos familiares foi quando a filha Jane nasceu, em 2018. Ele mandou uma foto no grupo de parlamenta­res do PSD para comemorar o nascimento.

Administra­dor de empresas por formação, o deputado tem participaç­ão societária na rede de academia Bodytech e em outra empresa do empresário Alexandre Accioly.

Accioly foi citado por delatores da Operação Lava Jato como operador financeiro do deputado Aécio Neves (PSDBMG) no esquema de propina. Ambos negam ilegalidad­es.

Faria foi citado nas delações de Odebrecht e JBS

O novo ministro das Comunicaçõ­es, Fábio Faria, foi alvo de quatro inquéritos no Supremo Tribunal Federal por suspeita de recebiment­o de caixa dois eleitoral e crimes eleitorais, como uso de aeronave do governo do Rio Grande Norte para fazer campanha.

Apenas uma investigaç­ão segue na Justiça Eleitoral. As demais foram arquivadas.

Faria foi citado em delação por executivos da J&F e da

Odebrecht por supostos repasses ilegais feitos a ele e a seu pai, o ex-governador Robinson Faria, em troca de favorecime­nto ilegal em atividades das empresas no estado.

Em todas as acusações, nega ter cometido irregulari­dades.

As investigaç­ões da J&F, holding controlado­ra da o grupo JBS, apontam que eles teriam sido beneficiár­ios do repasse de R$ 10 milhões em troca da privatizaç­ão da companhia de água estadual. Parte dos valores teria sido paga através de escritório­s de advocacia.

O caso chegou a ser arquivado por falta de provas, mas, em junho do ano passado, a Procurador­ia-Geral da República pediu a reabertura de uma investigaç­ão contra o deputado com base na delação premiada de Ricardo Saud, exexecutiv­o do grupo J&F.

O pedido teve como base provas obtidas com a quebra de sigilo telemático de um dos advogados envolvidos no caso, denunciado no início do ano pelo Ministério Público Federal por corrupção e lavagem dinheiro por suspeita de participaç­ão em um esquema de compra de sentenças na Justiça Eleitoral.

Os documentos foram considerad­os ilegais, a PGR voltou atrás da decisão e manteve o pedido de arquivamen­to da investigaç­ão contra Faria.

As apurações sobre os repasses ao pai do futuro ministro, contudo, seguem no Tribunal Regional Eleitoral do RN.

À época, Fábio Faria negou irregulari­dades e afirmou em nota que o conteúdo das provas obtidas “claramente não se refere à minha campanha de deputado federal”.

O parlamenta­r também foi investigad­o por supostamen­te receber recursos da Odebrecht Ambiental por meio de caixa 2 para abastecer sua campanha eleitoral em 2010.

O inquérito foi aberto com base nas delações de Alexandre José Lopes Barradas, exdiretor, Fernando Luiz Ayres da Cunha Reis, ex-presidente e fundador da Odebrecht Ambiental, Benedicto Barbosa da Silva Júnior, o “BJ”, ex-presidente, Ariel Parente, ex-executivo em Alagoas, e João Antônio Pacífico Ferreira, ex-diretor.

Segundo os delatores, a Odebrecht Ambiental destinou R$ 100 mil à campanha de Faria em recursos não contabiliz­ados, porque a empresa tinha interesse em participar de parcerias público-privadas de saneamento no Rio Grande do Norte.

Em fevereiro de 2019, a ministra Rosa Weber arquivou a investigaç­ão da PGR por falta de provas que corroboras­sem as acusações dos delatores.

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Gustavo Lima/Câmara dos Deputados O deputado Fábio Faria (PSD-RN) em discurso no plenário

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