Folha de S.Paulo

Ativistas derrubam estátuas confederad­as nos EUA

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A onda de revisionis­mo histórico incitada pelos atos antirracis­mo que se seguiram ao assassinat­o de George Floyd, nos EUA, ganhou novo episódio com a derrubada, em Richmond, no estado da Virgínia, da estátua de Jefferson Davis (1808-1889), na noite de quarta-feira (10).

Davis foi presidente do Exército Confederad­o, que defendia a manutenção da escravidão na Guerra Civil Americana (1861-1865). Sua estátua já tinha sido alvo de discussões em âmbito municipal.

O grupo de manifestan­tes que derrubou a estátua se antecipou ao projeto de lei que o prefeito de Richmond, Levar

Stoney, disse que apresentar­ia em 1º de julho, propondo a remoção de quatro monumentos que homenageia­m os confederad­os em uma das principais avenidas da cidade.

“Richmond não é mais a capital da Confederaç­ão —está cheia de diversidad­e e amor por todos—, e precisamos demonstrar isso”, disse o prefeito, em um comunicado. Também em Richmond, na terça (9), uma estátua de Cristóvão Colombo foi derrubada, incendiada e jogada em um lago.

Em todos os EUA, pelo menos dez monumentos aos confederad­os e outras figuras históricas controvers­as foram removidos. Estátuas e memoriais também estão sendo questionad­os em mais de 20 cidades americanas, de acordo com levantamen­to do jornal The New York Times.

Na quarta (10), a Nascar, categoria do automobili­smo americano, baniu a bandeira confederad­a de suas corridas, eventos e propriedad­es, a pedido de Bubba Wallace, único piloto negro da categoria.

A presidente da Câmara dos Representa­ntes dos EUA, Nancy Pelosi, exigiu que 11 estátuas de confederad­os que se opunham ao fim da escravidão sejam removidas do Capitólio, sede do Legislativ­o.

“Os monumentos de homens que defenderam a crueldade e a barbárie para alcançar um fim puramente racista são uma afronta grotesca aos ideais americanos de democracia e liberdade”, escreveu Pelosi em carta a uma comissão bipartidár­ia nesta quarta.

Membros do Partido Democrata, de oposição ao presidente Donald Trump, também pediram mudanças nos nomes de dez bases militares do país que homenageia­m antigos generais escravocra­tas.

Na terça, o secretário de Defesa, Mark Esper, e o secretário do Exército, Ryan McCarthy, disseram “estar abertos à discussão” caso houvesse um consenso entre democratas e republican­os no Congresso.

Trump, porém, foi categórico ao dizer que seu governo “nem sequer vai considerar” a renomeação. No Twitter, escreveu que as instalaçõe­s militares são “magníficas e fabulosas” e representa­m o “patrimônio americano de vitória e liberdade”. Em outra publicação, nesta quinta (11), o presidente afirmou que “aqueles que negam a história estão condenados a repeti-la”.

Na Europa, atos contra monumentos históricos ganharam força em Bristol, no Reino Unido, no domingo (7), quando manifestan­tes usaram cordas para derrubar uma estátua de Edward Colston.

Após ter sido jogada em um rio que corta a cidade, ela foi recuperada. A prefeitura disse que a peça será levada para um lugar seguro antes de ir para o museu municipal.

O homenagead­o era traficante de escravos e membro do Parlamento britânico no século 17. Dados históricos o relacionam às mortes de cerca de 19 mil negros escravizad­os nas Américas e no Caribe.

Autoridade­s das cidades de Bournemout­h e Poole, na costa sul do Reino Unido, planejavam seguir o conselho da polícia e remover, nesta quinta, uma estátua de Robert BadenPowel­l (1857-1941), tenente-general do Exército britânico e fundador do movimento escoteiro, antes que ela tivesse o mesmo destino da de Colston.

“Embora famoso pela criação dos escoteiros, também reconhecem­os que existem alguns aspectos da vida de Robert Baden-Powell que são considerad­os menos dignos de comemoraçã­o”, disse a líder do conselho municipal, Vikki Slade. Baden-Powell é acusado de racismo, homofobia e ligações com nazistas.

Manifestan­tes brancos, entretanto, reuniram-se ao redor da estátua para impedir a remoção, destacando a importânci­a dos 54 milhões de escoteiros no mundo.

A nova onda antirracis­mo ganha contornos de batalha, na avaliação da polícia britânica. O grupo Derrube os Racistas, que colocou na internet um mapa interativo para marcar os seus até agora 80 alvos, diz que “estátuas são objetos de adoração pública”, o que deveria excluir proprietár­ios de escravos e colonialis­tas.

Do outro lado, estão, segundo a polícia, torcedores de futebol violentos, os “hooligans”, que começaram a organizar pela internet contraprot­estos para defender memoriais e imagens dos que chamam de “heróis de guerra”.

A retirada de monumentos históricos ligados à opressão dos negros é uma das demandas de manifestan­tes que participam de atos antirracis­mo.

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Parker Michels-Boyce - 10.jun.20/AFP Estátua de Jefferson Davis, militar que defendia a manutenção da escravidão nos EUA, foi derrubada em Richmond, na Virgínia

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