Por segurança, EUA já discutem crédito para rede 5G no Brasil
Embaixador americano afirma que ideia é proteger dados evitando que empresas chinesas forneçam equipamentos a operadoras
Os EUA já discutem com o governo brasileiro e com empresas nacionais o financiamento para compra de equipamentos da Ericsson e da Nokia para a infraestrutura da rede 5G no Brasil. Segundo o embaixador americano no Brasil, Todd Chapman, esse tipo de financiamento é do interesse da “segurança nacional” dos EUA.
A ideia é evitar que empresas chinesas forneçam equipamentos às operadoras de telefonia brasileiras, para que seja possível “proteger os dados e a propriedade intelectual, e também as informações sensíveis das nações”.
O financiamento se daria através do International Development Finance Corporation, banco de fomento criado por Donald Trump no fim de 2018, que age como contraponto à Iniciativa do Cinturão e Rota da China e o crédito do Banco de Desenvolvimento da China para obras de infraestrutura em outros países.
Chapman argumenta que permitir empresas chinesas na estrutura de 5G poderia, inclusive, inibir investimentos de companhias estrangeiras.
“Quem quer fazer investimentos em países onde sua informação não vai ser protegida?”
* Donald Trump anunciou que, para a próxima reunião do G7, que terá os EUA como anfitriões, convidaria Índia, Coreia do Sul, Rússia e Austrália para participar. Posteriormente, Todd Chapman, 58
Embaixador dos Estados Unidos no Brasil desde abril de 2020. Durante sua carreira, o diplomata já serviu nas embaixadas dos EUA no Afeganistão e em Moçambique, além de ter passado por postos na Bolívia, na Costa Rica, na Nigéria e em Taiwan.
Jair Bolsonaro afirmou ter falado com Trump por telefone sobre a participação do Brasil em um G7 ampliado. Qual é o significado dessa reunião ampliada? E o Brasil está convidado?
O calendário está tendo muitas mudanças, o governo americano ainda está vendo exatamente como vai ser a reunião do G7 deste ano. As ideias da Casa Branca estão evoluindo, Trump já falou publicamente, vamos ver exatamente como será o cenário para o G7, quem será convidado. A situação é fluida, mas o que é importante é que os nossos presidentes estão falando, e isso é muito bom. Queremos que Brasil seja parte das grandes conversas que temos no mundo.
Há relatos de que o Brasil estaria interessado em lançar um diálogo trilateral com Japão e EUA, iniciativa que teria sido sugerida pelo governo japonês no ano passado. O sr. poderia falar sobre isso?
Temos conversas em vários formatos com aliados no mundo inteiro. Queremos maneiras de ampliar as conversas com nossos aliados e queremos incorporar mais e mais o Brasil em nossas estratégias mundiais, em nossas ideias de como os países com visões de mundo semelhantes podem avançar juntos. O Brasil faz parte de nossa ideia.
Várias dessas conversas não incluem a China. Um dos objetivos é discutir como esses países com a mesma visão podem se posicionar em relação à expansão da influência da China?
Temos vários foros para conversas diferentes. Quando falamos de economias abertas, liberdade de religião, liberdade de expressão, direitos humanos, a China não tem os mesmos princípios e valores que os nossos aliados.
Como o sr. e o governo americano estão vendo a trajetória da pandemia no Brasil? Qual é o nível de preocupação e como os senhores podem colaborar?
Tem sido um grande desafio para o Brasil, como para os EUA, esse inimigo invisível. Queremos ser um parceiro para o Brasil nesta pandemia. Por isso, já anunciamos mais de US$ 12,5 milhões [R$ 62,5 mi], incluindo mil respiradores. Os EUA devem entregar a primeira remessa de 200 ventiladores em breve.
Tenho muito orgulho do nosso setor privado no Brasil que já contribuiu com mais de US$ 40 milhões de ajuda [R$ 200 mi]. Mas claro que a situação continua muito séria, quando ainda há tantas pessoas sendo infectadas por esse vírus, é muito preocupante.
Há alguma previsão de quando será liberada a entrada nos EUA de pessoas que tenham estado no Brasil?
Não há. É para proteção da saúde no nosso país e é muito similar à medida em vigor no Brasil.
O International Development Finance Corporation tem alguma conversa para financiar vendas de equipamentos da sueca Ericsson para a infraestrutura de 5G no Brasil?
DFC é uma organização fantástica, com capital de US$ 60 bilhões [R$ 298 bi]. Antes ela só podia financiar projetos de empresas americanas, mas a lei mudou, e agora financia projetos de interesse nacional dos EUA. Isso possibilita que a Ericsson e a Nokia recebam financiamento nos projetos de 5G, incluindo aqui no Brasil.
Já existem conversas no Brasil, com o governo ou operadoras de telefonia?
Já houve conversas no Brasil, inclusive com minha participação.
Até agora, quais foram os países que vetaram o uso de equipamentos da Huawei na infraestrutura de 5G?
Austrália, Dinamarca acaba de anunciar que não vai usar nenhum produto chinês, Japão. As grandes operadoras do Canadá anunciaram que não vão usar equipamento da China. Cada vez mais países estão percebendo que esse não é um assunto comercial, é um assunto de segurança nacional e da segurança da própria economia.
Não temos de esconder os fatos usando palavras diplomáticas: a China comunista tem o hábito de roubar propriedade intelectual, isso já é bastante conhecido. Existe uma lei na China que determina que empresas chinesas são obrigadas a entregar informações ao Partido Comunista. Por isso estamos compartilhando essas informações e mostrando nossa preocupação, como um bom aliado.
Mas, no final, são empresas governos e consumidores que vão fazer a sua escolha. Já fizemos a nossa, mais e mais países estão fazendo a mesma escolha, para proteção da economia e o impacto nos futuros investimentos. Quem quer fazer investimentos em países onde sua informação não vai ser protegida?
Isso afetaria a disposição de empresas americanas fazerem investimentos no Brasil?
Tudo isso tem impacto no clima de investimentos no país. As empresas levam em conta as leis da propriedade intelectual e também as leis para proteção de dados. Espero que tenhamos, aqui no Brasil, uma decisão que vai satisfazer seu interesse nacional, econômico e de segurança nacional.
O Brasil tem projeções muito ruins de PIB e desemprego. Como está a disposição das empresas americanas de investirem ou manterem investimentos no país?
Há duas visões. Os que estão aqui estão tentando fazer o melhor que podem, antecipando uma queda no PIB. Ao mesmo tempo, já recebi ligações e emails de grandes fundos de investimento dizendo que este é o momento para fazer grandes investimentos na infraestrutura, ou pensando em fazer aquisições, porque está barato.
Todas as semanas, fazemos videoconferências com empresas americanas. Vamos continuar fazendo isso para que, quando sairmos da crise, existam acordos e os governos e o setor privado estejam prontos para maximizar essas oportunidades.