‘As escolas reabrem, e o governo quer que elas sejam como bolhas’
Dia #90 – Quinta, 11 de junho. Cena: a vida escolar na Espanha pós-coronavírus vai ser muito diferente, e já começamos a descobrir como.
Alguns pais e estudantes respiram aliviados. Não terão que esperar até setembro (início do ano letivo) ou o ano que vem, como se havia pensado até pouco tempo atrás. Outros se preocupam mais do que nunca: como assim, volta às aulas? E os contágios?
Com base num estudo epidemiológico que indica baixo índice de contaminação entre a população até 19 anos (1,37%), o ministério da Educação reforçou sua convocação de volta às aulas e afirmou: quer que seja muito mais presencial do que imaginávamos.
A pasta apresentou um documento aos governadores, assinado por todos, menos dois —Madri, cada vez mais em pé de guerra com a administração central, e o País Basco, que está desenhando sua própria reforma escolar.
De qualquer forma, a pauta é apenas orientativa. Cada comunidade autônoma será livre para criar sua normativa.
Entre as sugestões, os pequenos (até 9 ou 10 anos) poderiam prescindir de máscaras e distâncias mínimas de 1,5 metro no convívio escolar.
Isso seria possível porque, em compensação, integrariam classes “estáveis” de até 20 alunos, com um professor responsável e interação social limitada fora desse contexto.
A ideia é transformar a experiência escolar infantil em “uma bolha, uma família”, segundo a ministra Isabel Celáa.
Dessa idade em diante até a universidade, os espaços e rotinas teriam que ser adaptados de forma a se manter a distância mínima entre os estudantes. As máscaras não seriam obrigatórias quando os alunos estivessem em suas mesas, mas sim nos outros espaços de convívio social.
O ideal é priorizar aulas ao ar livre ou janelas abertas. Refeitórios e pátios seriam ocupados rotativamente.
Em relação a eventuais casos de Covid-19, ao se identificar um caso suspeito, o protocolo básico seria: isolamento em sala separada, máscara e contato imediato com a família e responsáveis sanitários.
Na Catalunha, a reabertura súbita das escolas em pleno final de ano letivo gerou incertezas e ações desencontradas. Algumas poucas instituições decidiram que se tem algo importante nesse contexto póscrise é dar assistência psicológica e emocional ao aluno —que, como muitos adultos, ainda não entende muito bem tudo o que está acontecendo.
Assim, um comunicado de uma escola do bairro de Gràcia diz que “a atuação será mais de caráter assistencial”, a fim de remediar o “impacto emocional negativo” que o momento pode ter nos estudantes.
Fico pensando na situação vulnerável de muitos avós que são cocuidadores ou responsáveis pelos netos —na Espanha, até metade dos avós cuidam dos netos diariamente. É um fenômeno gritante. É comum vê-los por toda parte com as crianças.
Tanto que algumas associações de pais e mestres mudaram de nome pra “associação de pais e avós”. A primeira surgiu em Madri, dez anos atrás —com os avós sendo dois terços de seus membros.