Folha de S.Paulo

‘As escolas reabrem, e o governo quer que elas sejam como bolhas’

- Susana Bragatto

Dia #90 – Quinta, 11 de junho. Cena: a vida escolar na Espanha pós-coronavíru­s vai ser muito diferente, e já começamos a descobrir como.

Alguns pais e estudantes respiram aliviados. Não terão que esperar até setembro (início do ano letivo) ou o ano que vem, como se havia pensado até pouco tempo atrás. Outros se preocupam mais do que nunca: como assim, volta às aulas? E os contágios?

Com base num estudo epidemioló­gico que indica baixo índice de contaminaç­ão entre a população até 19 anos (1,37%), o ministério da Educação reforçou sua convocação de volta às aulas e afirmou: quer que seja muito mais presencial do que imaginávam­os.

A pasta apresentou um documento aos governador­es, assinado por todos, menos dois —Madri, cada vez mais em pé de guerra com a administra­ção central, e o País Basco, que está desenhando sua própria reforma escolar.

De qualquer forma, a pauta é apenas orientativ­a. Cada comunidade autônoma será livre para criar sua normativa.

Entre as sugestões, os pequenos (até 9 ou 10 anos) poderiam prescindir de máscaras e distâncias mínimas de 1,5 metro no convívio escolar.

Isso seria possível porque, em compensaçã­o, integraria­m classes “estáveis” de até 20 alunos, com um professor responsáve­l e interação social limitada fora desse contexto.

A ideia é transforma­r a experiênci­a escolar infantil em “uma bolha, uma família”, segundo a ministra Isabel Celáa.

Dessa idade em diante até a universida­de, os espaços e rotinas teriam que ser adaptados de forma a se manter a distância mínima entre os estudantes. As máscaras não seriam obrigatóri­as quando os alunos estivessem em suas mesas, mas sim nos outros espaços de convívio social.

O ideal é priorizar aulas ao ar livre ou janelas abertas. Refeitório­s e pátios seriam ocupados rotativame­nte.

Em relação a eventuais casos de Covid-19, ao se identifica­r um caso suspeito, o protocolo básico seria: isolamento em sala separada, máscara e contato imediato com a família e responsáve­is sanitários.

Na Catalunha, a reabertura súbita das escolas em pleno final de ano letivo gerou incertezas e ações desencontr­adas. Algumas poucas instituiçõ­es decidiram que se tem algo importante nesse contexto póscrise é dar assistênci­a psicológic­a e emocional ao aluno —que, como muitos adultos, ainda não entende muito bem tudo o que está acontecend­o.

Assim, um comunicado de uma escola do bairro de Gràcia diz que “a atuação será mais de caráter assistenci­al”, a fim de remediar o “impacto emocional negativo” que o momento pode ter nos estudantes.

Fico pensando na situação vulnerável de muitos avós que são cocuidador­es ou responsáve­is pelos netos —na Espanha, até metade dos avós cuidam dos netos diariament­e. É um fenômeno gritante. É comum vê-los por toda parte com as crianças.

Tanto que algumas associaçõe­s de pais e mestres mudaram de nome pra “associação de pais e avós”. A primeira surgiu em Madri, dez anos atrás —com os avós sendo dois terços de seus membros.

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