Após 3 meses de pandemia, governo de SP usa 10% dos testes adquiridos
Cinquenta dias após informar que zerou a fila de exames no estado, o governo de São Paulo ainda não processa a quantidade prometida de 8.000 exames diários. A média hoje de processamento é de cerca de 1.700 testes a cada 24 horas.
No final de março e início de abril, haviam mais de 15 mil exames para Sars-CoV-2 represados aguardando análise pelo Instituto Adolfo Lutz, laboratório público até então responsável pelo processamento das amostras em SP.
Para mitigar essa fila, o governador João Doria (PSDB) anunciou, em 2 de abril, a criação de uma rede de 50 laboratórios públicos e privados, coordenada pelo Instituto Butantan, para testar as amostras colhidas de pacientes com suspeita de Covid-19.
Até a última terça (9), porém, o número total de amostras analisadas segundo método de RT-PCR foi de apenas 120 mil, segundo a Secretaria Estadual de Saúde (SES).
Essa quantidade representa menos de 10% do total de testes adquiridos pelo governo para exames desse tipo: foram comprados 1,3 milhão de testes.
Questionada, a SES não respondeu à Folha sobre quais os impedimentos para alcançar a capacidade máxima. Disse que são “questões estruturais, mas que, se necessário, chegaria a essa capacidade”.
O estado lidera o número de contaminados e mortos em razão da pandemia. Até esta quinta (11), mais de 10 mil pessoas morreram em São Paulo, um quarto dos 40 mil óbitos no Brasil.
O governo anunciou na segunda-feira (8) que passará a incluir os testes solicitados nas redes de laboratório privadas e empresas ao total de exames realizados e, com isso, passará a uma capacidade de até 30 mil exames por dia.
A secretaria informou que será obrigatório reportar não só os testes com resultado positivo mas também os resultados negativos feitos na rede privada. De acordo com Patrícia Ellen, secretária de Desenvolvimento Econômico do governo, tal medida irá permitir conhecer mais a pandemia no estado.
As principais dificuldades reportadas pelos laboratórios no início da pandemia para determinação dos pacientes era a falta de insumos. A compra de reagentes em todo o mundo levou à escassez dos kits para testes, o que dificultou a detecção e o isolamento dos contaminados.
Nas redes de laboratórios privados, os exames para Covid-19 representaram um salto de 400% em relação aos demais diagnósticos laboratoriais de rotina.
Dois dos principais centros de diagnóstico particulares do estado, Dasa e Einstein relatam ter feito, desde o início da pandemia, 75 mil exames RT-PCR cada um em São Paulo. Essa quantidade é maior que o total de exames feitos na rede pública até agora.
Além dos exames RT-PCR, o governo informou a compra de 2 milhões de testes rápidos, dos quais 120 mil já foram feitos. Os testes rápidos identificam pessoas que já tiveram contato com o vírus e, por isso, devem ser feitosa partir do 10˚ dia de contágio.
O governo tem defendido o uso dos testes rápidos para detectar pessoas que já foram expostas ao vírus entre os profissionais de segurança pública e familiares, os profissionais de saúde e os detentos no sistema prisional estadual.
O resultado do primeiro estudo sorológico feito nos policiais do estado e seus familiares indicou que cerca de 15% deles já foram contaminados.
Nesta terça (9), o governo estadual reforçou estratégias de implementação dos testes sorológicos como ferramenta adicional para o entendimento da doença no estado.
Segundo dados divulgados, 20% dos diagnósticos para Covid-19 feitos em maio foram com testes sorológicos. Mas a precisão deles, entre 60% e70%,é muito baixa, dizem especialistas, e não apontam com certezas e apessoa teve contato com o vírus.
Paulo Menezes, coordenador do centro de contingência do coronavírus em SP, disse ainda que os testes sorológicos avaliam a disseminação da doença na população, mas não significam imunidade ao vírus. Por isso, quem teve teste positivo deve manter a precaução e o distanciamento social dos que não tiveram contato com o Sars-CoV-2.