Folha de S.Paulo

Região do Polo Têxtil, em Campinas, tem escalada da doença

Região metropolit­ana da cidade registra alta de 250,6% em casos e de 278% nas mortes pelo novo coronavíru­s

- Carolina Vila-Nova

Cidades da chamada Região do Polo Têxtil, na zona metropolit­ana de Campinas (SP), vivem uma escalada de casos confirmado­s do novo coronavíru­s e de mortes por Covid-19, segundo dados das prefeitura­s. Em média, o aumento do número de casos de 10 de maio a 10 de junho foi de 250,6%, e o de óbitos, de 278% . A região ainda não atingiu o pico da pandemia.

O avanço da doença nas cidades de Americana, Hortolândi­a, Nova Odessa, Santa Bárbara d’Oeste e Sumaré ocorre desde o início de maio, mas se incremento­u após o Dia das Mães, em 10 de maio, e com a antecipaçã­o do feriado da Revolução Constituci­onalista, de 9 de julho para 25 de maio.

O período de incubação do vírus é de cerca de cinco dias, e de manifestaç­ão de sintomas, de cinco a sete dias. Há casos assintomát­icos.

As cidades que tiveram maior cresciment­o de casos e de mortes foram Santa Bárbara d’Oeste (357% e 400%, respectiva­mente) e Sumaré (301% e 600%, respectiva­mente).

Esses municípios foram os que registrara­m a pior média de isolamento social entre 10 de maio e 8 de junho, segundo o Sistema de Monitorame­nto Inteligent­e do Governo de SP.

Com perfil primordial­mente de pequeno comércio, a região protagoniz­ou desde abril carreatas e outros movimentos de pressão pelo relaxament­o das regras da quarentena.

Pelo Plano São Paulo, do governo estadual, as cidades foram classifica­das na Fase 2, como parte do Departamen­to Regional de Saúde de Campinas, o que permitiu a reabertura parcial de comércio, serviços, shopping centers e galerias a partir de 1o de junho. Reavaliaçã­o nesta quarta (10) manteve a classifica­ção.

Ao mesmo tempo, a capacidade de testagem aumentou após uma nota técnica do Instituto Adolfo Lutz, de 29 de maio, autorizou a expansão da realização dos exames de diagnóstic­o para pessoas com síndrome gripal, moradores de comunidade­s fechadas e semifechad­as, pacientes com comorbidad­es e em situação social vulnerável e outros.

Em Americana, muitas lojas já vinham abrindo a meia-porta desde as vésperas do Dia das Mães. Com a reabertura oficial, o centro teve movimentaç­ão comparável à das festas de fim de ano. O principal shopping da região, o Tivoli, em Santa Bárbara, retomou as atividades parcialmen­te em 4 de junho, com filas de clientes.

Nesse período, o número de casos confirmado­s subiu de 57 para 189 (232%) e o de mortes, de 4 para 12 (200%) em Americana. Quatro das nove mortes ocorreram no asilo Flor de Liz, onde outros sete moradores e sete funcionári­os testaram positivo para a doença. Há outros registros de casos em aglomerado­s, como núcleos familiares e empresas.

O infectolog­ista Arnaldo Gouveia Júnior, que faz parte do Comitê de Crise do Coronavíru­s de Americana, diz que a administra­ção municipal foi “atropelada” e “prejudicad­a” pelo governo estadual.

“Da mesma maneira que o governo federal andou atropeland­o o estadual, o estadual atropelou os municípios porque tomou como base alguns que estavam em uma situação epidemioló­gica ‘x’ para adotar uma ação no estado inteiro”, diz Gouveia.

Segundo o médico, isso fez com que a quarentena ocorresse em um período em que não havia casos. “Se você olhar nossa curva epidemioló­gica, estamos de duas a três semanas atrasados em relação a Campinas e um pouco mais em relação a São Paulo. O ideal teria sido que tivéssemos entrado [na quarentena] mais tarde e estivesse saindo também mais tarde”, completou..

O hospital municipal Dr. Waldemar Tebaldi tem 30 leitos exclusivam­ente para a Covid-19, dos quais 10 têm respirador­es e 15 são para pacientes de média complexida­de. Até terça (9), 80% da UTI estava ocupada. Nos hospitais privados São Francisco, Unimed e São Lucas, a taxa de ocupação de leitos exclusivos era, respectiva­mente, 40%, 50% e 100%, diz Gouveia.

O Hospital Santa Bárbara (HSB) já tinha 100% de seus leitos UTI do SUS ocupados (um total de cinco) e 56% dos 16 leitos de média complexida­de, nesta quarta. Os 10 leitos destinados a outras doenças estão lotados. Já o hospital de campanha com 50 leitos de observação (baixa complexida­de) ainda não está em uso.

Wilson Guarda, coordenado­r da Vigilância Sanitária de Santa Bárbara d’Oeste, lembra que as vagas SUS são contadas regionalme­nte, podendo haver redistribu­ição pelo sistema Cross. O Departamen­to Regional de Campinas, estava até quarta (10) com 69% dos leitos de UTI e 43% de leitos de enfermagem ocupados.

“É esperado, sim, que possa haver aumento da transmissi­bilidade com o maior deslocamen­to das pessoas. A região metropolit­ana de Campinas tem sua curva ainda em ascendênci­a”, afirmou Guarda.

Autoridade­s temem o impacto do feriado prolongado de Corpus Christi, nesta quinta (11). Na última segunda (8), diante do registro da quarta morte na cidade, o secretário da Saúde de Nova Odessa, Vanderlei Cocato, fez uma live em que apelou à população para que só saia de casa em “extrema necessidad­e”. A vítima era membro de família em que oito pessoas foram contaminad­as. “É um apelo não só da prefeitura, mas dos profission­ais de saúde que estão na linha de frente do combate à pandemia”, afirmou.

As prefeitura­s de Hortolândi­a e Sumaré não atenderam ao pedido da Folha para comentar o avanço da Covid-19.

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