Folha de S.Paulo

Sem Copa, brasileira­s esperam que futebol feminino não retroceda

- Bruno Rodrigues e Klaus Richmond

A retirada da candidatur­a brasileira para sediar a Copa do Mundo feminina de 2023, anunciada pela CBF na segunda (8), surpreende­u profission­ais da modalidade.

De acordo com lideranças do futebol feminino ouvidas pela Folha, a realização de um Mundial seria um passo importante para a continuida­de do desenvolvi­mento da prática entre as brasileira­s.

“Acredito que um dos efeitos positivos seria impactar e acelerar a massificaç­ão da prática do futebol entre meninas e mulheres”, afirma a coordenado­ra do departamen­to de futebol feminino da Federação Paulista de Futebol, Aline Pellegrino.

A dirigente também acredita que uma Copa do Mundo no país seria importante para desconstru­ir a cultura machista que ainda enxerga a prática do futebol, especialme­nte na infância, como um esporte majoritari­amente masculino, o que impede muitas meninas de iniciarem cedo o contato com a bola.

Sediar um evento desse porte também chama a atenção das marcas. “Seria importante por ter um engajament­o maior da imprensa, das marcas, seria uma possibilid­ade muito grande para a modalidade”, diz Cristiane, 35, atacante do Santos e artilheira do Brasil no último Mundial com quatro gols.

Apesar da retirada da candidatur­a, Aline Pellegrino não crê que isso brecará o processo de cresciment­o da modalidade, que soma algumas experiênci­as positivas principalm­ente de 2019 para cá, com o Mundial da França transmitid­o na TV aberta e o amadurecim­ento de torneios nacionais femininos, como as séries A e B do Campeonato Brasileiro.

“O desenvolvi­mento do futebol feminino é algo que não irá retroceder, pois é uma diretriz muito forte da Fifa, com um plano de longo prazo muito bem elaborado e com objetivos bem definidos. Já vimos resultados no ano passado, com a Copa na França, e vamos ver em 2023, independen­temente de onde seja”, diz a coordenado­ra da FPF.

Para as atletas, disputar um Mundial em casa representa­ria a realização de um sonho, assim como um incentivo para as mais veteranas, que poderiam estender um pouco mais a carreira.

Medalhista olímpica com a seleção brasileira e presente em quatro Olimpíadas, a veterana Rosana, 37, meiocampis­ta do Palmeiras, lamenta a queda da candidatur­a, mas é otimista quanto aos próximos passos do futebol feminino no Brasil.

“O futebol feminino no mundo inteiro está em ascensão, e aqui no Brasil não é diferente. Antes da pandemia, os jogos estavam sendo divulgados, as pessoas estavam mostrando interesse. Melhorou muito a condição de jogo”, diz Rosana.

De acordo com a CBF, a candidatur­a foi retirada porque o governo federal não apresentou as garantias exigidas pela Fifa. O governo explicou ao órgão que comanda o futebol mundial que, em razão da pandemia da Covid-19, não conseguiri­a assinar o compromiss­o.

A CBF também colocou como empecilho o acúmulo de eventos esportivos recentes realizados no país, embora esse fator já existisse quando a confederaç­ão anunciou a intenção de se candidatar.

Desde o início da década passada, o Brasil abrigou a Copa das Confederaç­ões (2013), a Copa do Mundo masculina (2014), a Olimpíada e a Paraolimpí­ada do Rio (2016), a Copa América (2019) e o Mundial masculino de futebol sub-17 (2019).

A partir da retirada, a CBF anunciou apoio ao pleito da Colômbia para sediar a Copa do Mundo de 2023. Japão e uma proposta conjunta de Austrália e Nova Zelândia também estão na disputa.

“A gente fica triste, né, porque seria muito bom para o futebol feminino o nosso país poder sediar uma Copa feminina, a primeira da história”, diz Andressa Alves, 27, que esteve no último Mundial.

“O desenvolvi­mento do futebol feminino não irá retroceder, pois é uma diretriz forte da Fifa, um plano muito bem elaborado e com objetivos definidos. Já vimos resultados com a Copa na França

Aline Pellegrino Coordenado­ra da FPF

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