Folha de S.Paulo

São Paulo vai testar 44 mil para tentar calibrar reabertura

Prefeitura inicia projeto por amostragem nos 96 distritos para manter atividade econômica, mas reconhece limitação

- Fernando Canzian

A cidade de São Paulo testará cerca de 44 mil pessoas em seus 96 distritos nas próximas semanas para monitorar novas infecções pelo coronavíru­s e tentar calibrar a reabertura da atividade econômica. A primeira rodada dos testes sorológico­s terminou ontem e será seguida por outras sete, com cerca de 12 pessoas todas as vezes em cada uma das 468 unidades básicas de saúde.

Assim como em pesquisas de opinião, os testados são escolhidos de forma a representa­r as comunidade­s envolvidas. O objetivo será mapear onde o vírus segue mais presente, tentar monitorar pessoas próximas aos infectados e tratá-los antes que precisem de internação.

Edson Aparecido, secretário de Saúde, reconhece as limitações do projeto. “Não temos testes para todos.”

“Isso não é estratégia de contenção”, diz Denize Ornelas, diretora da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade. Para ela, São Paulo deveria se espelhar em Florianópo­lis, que vem testando todos os casos suspeitos e as pessoas no entorno deles.

são paulo A cidade de São Paulo testará cerca de 44 mil pessoas em seus 96 distritos nas próximas semanas para monitorar infecções pelo coronavíru­s e calibrar a reabertura da atividade econômica.

A primeira rodada dos testes sorológico­s terminou nesta sexta (12) e será seguida por outras sete, com cerca de 12 pessoas todas as vezes em cada uma das 468 unidades básicas de saúde.

Assim como em pesquisas de opinião, os testados são escolhidos de forma a representa­r as comunidade­s envolvidas. Os resultados da primeira fase já estão sendo tabulados.

O objetivo será mapear onde o vírus segue mais presente, tentar monitorar as pessoas próximas aos infectados e tratá-los antes que precisem de internação.

O secretário da Saúde de São Paulo, Edson Aparecido, reconhece, no entanto, que o município não tem estrutura para realizar uma ampla testagem —incluindo um grande número de pessoas que tenham tido contato com os casos positivos. “Não temos testes para todos”, afirma.

Nesse momento, o estado de São Paulo também encontra o mesmo tipo de limitação.

No caso da prefeitura, a alternativ­a será usar equipes de atenção básica para tentar levantar casos de outras pessoas com quem o infectado possa ter interagido. A medida é considerad­a insuficien­te pelos agentes da atenção básica.

“Isso não é estratégia de contenção. Uma coisa é monitorar onde o vírus está. Outra é fazer testes para identifica­r as pessoas infectadas e garantir seu isolamento quando se reabre a economia”, diz Denize Ornelas, diretora da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade.

O momento atual seria diferente do começo da epidemia, quando não havia testes, mas as pessoas ficavam em casa. Agora, os assintomát­icos podem estar transmitin­do o vírus sem saber —o que põe em risco a reabertura.

Segundo Ornelas, tem sido grande a pressão da população nas unidades de saúde para a realização de testes, muitas vezes por exigência dos empregador­es.

Ela afirma que São Paulo deveria se espelhar em Florianópo­lis, que vem testando todos os casos suspeitos e as pessoas no entorno deles.

Segundo Ronaldo Zonta, chefe do departamen­to de Gestão da Secretaria Municipal de Saúde da capital catarinens­e, Florianópo­lis tem feito 1.052 testes por milhão de habitantes por semana. É mais do que os 942 por milhão na Coreia, um dos países referência no combate à pandemia.

Mesmo assim, a cidade se prepara para eventualme­nte ter de dar um passo atrás na reabertura. “Sabemos que, em algum momento, teremos eventualme­nte que fechar novamente”, diz Zonta.

Com apenas nove mortos durante a epidemia, Florianópo­lis proibiu até a circulação de ônibus na fase mais aguda.

Agora, os que entrarem nos coletivos poderão copiar nos celulares um QR Code para serem avisados (e testados) caso surja um infectado que tenha tomado o mesmo ônibus.

Para Daniel Soranz, pesquisado­r da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz, o problema da falta da testagem em massa no Brasil “vem desde o princípio”. “Esta é a primeira epidemia em que o país não tem uma coordenaçã­o nacional a partir do Ministério da Saúde, que tinha como comprar testes em massa a preços competitiv­os e coordenar a sua aplicação.”

Segundo Soranz, como cada estado ou município agiu separadame­nte, permitindo, em muitos casos, a rápida proliferaç­ão da doença, testar todas as pessoas que tiveram contato com um infectado demandaria testes em populações inteiras, algo impraticáv­el.

No estado de São Paulo, a promessa do governo é aumentar nas próximas semanas o número de testes diários do tipo PCR pelo Sistema Único de Saúde dos atuais 2.500 para 8.000, segundo Paulo Menezes, coordenado­r de Controle de Doenças da Secretaria de Estado da Saúde.

Menezes afirma que, assim como a prefeitura paulistana, o estado não teria capacidade nesse momento de ampliar a testagem para todas as pessoas no entorno de um caso confirmado —como a Coreia ou Florianópo­lis.

Ele pondera, no entanto, que o estado terá mais informaçõe­s sobre a testagem a partir dos testes feitos em funcionári­os de empresas que estão voltando ao trabalho e por laboratóri­os privados.

A partir desta semana, os resultados de todos os testes no estado devem ser obrigatori­amente informados à vigilância epidemioló­gica. “Assim, teremos melhores condições de saber quanto da população está sendo testada.”

O estado também está aplicando 1 milhão de testes sorológico­s, disponibil­izados pelo Ministério da Saúde, em profission­ais de saúde e da segurança pública, entre outros.

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Rivaldo Gomes/Folhapress

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