Folha de S.Paulo

Atos contra e a favor do presidente se repetirão em SP

Acordo prevê revezament­o no uso da avenida; oposição vai ao Masp e bolsonaris­tas, ao viaduto do Chá

- Carolina Linhares

são paulo Pelo terceiro fim de semana seguido, São Paulo irá se dividir em manifestaç­ões contra e a favor do presidente Jair Bolsonaro. E, para reduzir a possibilid­ade de confronto entre grupos rivais, adotará um esquema de revezament­o no uso da avenida Paulista acertado nesta semana com representa­ntes do Ministério Público.

Manifestan­tes planejam as novas aglomeraçõ­es, contrarian­do as recomendaç­ões durante a pandemia do coronavíru­s, principalm­ente na tarde de domingo (14), mas também há mobilizaçã­o programada para este sábado (13) — assim como atos de bolsonaris­tas ou de antibolson­aristas em outras cidades do país.

Em meio ao impasse sobre a escolha da avenida Paulista, houve um acerto entre Ministério Público e organizado­res para que haja um rodízio no local dos protestos.

Neste domingo, a manifestaç­ão contra Bolsonaro ocorrerá em frente ao Masp, a partir das 14h, já que, na semana passada, os bolsonaris­tas protestara­m em frente à Fiesp, também na avenida Paulista.

Desta vez, os apoiadores do presidente farão sua manifestaç­ão a partir das 13h no viaduto do Chá, na região central da capital.

O ato bolsonaris­ta é organizado por pequenos grupos que vêm promovendo carreatas, nos fins de semana, com ataques ao Supremo Tribunal Federal, ao governador João Doria (PSDB) e ao prefeito Bruno Covas (PSDB) devido ao isolamento social adotado durante a pandemia.

Com os antagonist­as nas ruas, a Polícia Militar prepara um esquema de policiamen­to reforçado igual ao visto no domingo passado (7).

Serão 4.300 policiais espalhados pela cidade, especialme­nte em terminais de ônibus, trens e metrô. A PM vai utilizar drones e helicópter­os, e os manifestan­tes serão revistados.

Os antibolson­aristas, liderados por torcidas organizada­s de futebol e pela Frente Povo sem Medo, comandada pelo ex-presidenci­ável Guilherme Boulos (PSOL), também esperam uma mobilizaçã­o maior do que a do último domingo no Largo da Batata e minimizam a confusão vista dispersão.

Além da crítica a Bolsonaro, a manifestaç­ão adota discurso em defesa da democracia e da causa antirracis­ta, reunindo grupos que se denominam antifascis­tas.

O último ato teve 3.000 pessoas, segundo a PM. Os organizado­res apostam na mobilizaçã­o de rua para pressionar pela saída de Bolsonaro.

“É importante transforma­r a correlação de forças dentro do Congresso, tem dezenas de pedidos de impeachmen­t e diversos crimes de responsabi­lidades cometidos, mas o impeachmen­t é politico, não é somente jurídico”, diz Danilo Pássaro, do Somos Democracia, que reúne integrante­s de torcidas organizada­s de times de futebol.

Após o encerramen­to da manifestaç­ão passada, um grupo que insistiu em prosseguir por vias de Pinheiros foi reprimido com bombas de gás pela Polícia Militar. Houve depredação de duas agências bancárias. Já policiais que agrediram manifestan­tes rendidos foram afastados pela corporação. No total, 17 pessoas foram detidas.

Na segunda (8), Doria afirmou que “a Polícia Militar agiu de forma correta, evitando danos ao patrimônio privado e público e a ação de vândalos”. O governador disse que a depredação foi feita por uma minoria e não foi endossada pelos demais manifestan­tes. Também declarou que a violência dos policiais será investigad­a.

No Largo da Batata, foram distribuíd­os máscaras e álcool em gel, mas os manifestan­tes falharam em obedecer as marcações de distanciam­ento social feitas no chão.

Os cuidados se repetirão na av. Paulista, e os organizado­res dizem esperar que, desta vez, o distanciam­ento seja respeitado.

Neste sábado (13), a avenida Paulista também terá um ato contra o governo Bolsonaro organizado pelo Grupo de Ação, de cerca de 200 pessoas, apartidári­o e formado por artistas, advogadas, professore­s, profission­ais de saúde, estudantes, editoras e comunicado­res.

A ação no Masp será visual, uma performanc­e. O grupo levará fotos de pessoas mortas pela violência do estado —na ditadura ou em ações recentes da PM, e também de vítimas da Covid-19. A ideia é manter o distanciam­ento.

No lado bolsonaris­ta, embora no último domingo apenas cem pessoas, segundo a PM, tenham comparecid­o à av. Paulista, a expectativ­a dos organizado­res é que a manifestaç­ão no viaduto do Chá seja mais significat­iva.

Isso porque, na semana passada, o próprio presidente Jair Bolsonaro havia pedido que seus apoiadores ficassem em casa. Com isso, a avenida Paulista acabou tomada especialme­nte por intervenci­onistas, com faixas de apoio a um golpe militar.

“A partir do momento em que as manifestaç­ões ocorrem em locais diferentes, fica claro quem está fazendo baderna, ainda que seja uma minoria, e quem não está”, diz Major Costa e Silva, um ativista bolsonaris­ta.

Silva afirma que o movimento tenta se descolar dos intervenci­onistas, embora defenda que eles têm liberdade de expressão para comparecer aos atos portando suas faixas.

No último dia 31, houve confusão e bombas de gás da Polícia Militar contra os manifestan­tes anti-Bolsonaro depois que as duas manifestaç­ões se encontrara­m na av. Paulista. Aquela foi a primeira vez que o pedido por impeachmen­t ganhou as ruas na pandemia.

A oposição a Bolsonaro, porém, se divide: PT e PSOL aderiram aos protestos, enquanto PSB, PDT, Cidadania, Rede e PSD pedem que as pessoas não compareçam aos atos em função do coronavíru­s.

Líderes dos recém-criados manifestos da sociedade civil que se contrapõem a Bolsonaro e pregam a defesa da democracia também optaram por desestimul­ar atos presenciai­s.

 ?? Eduardo Anizelli - 7.jun.20/Folhapress ?? Manifestaç­ão contra o presidente Jair Bolsonaro e o racismo no largo da Batata, no domingo passado
Eduardo Anizelli - 7.jun.20/Folhapress Manifestaç­ão contra o presidente Jair Bolsonaro e o racismo no largo da Batata, no domingo passado

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