Folha de S.Paulo

Múltiplas bizarrices

- Julianna Sofia

brasília Buscou-se um desfecho simbólico —não por isso menos vexatório ou inócuo— para a presepada em torno da medida provisória que dava poderes ao ministro Abraham Weintraub (Educação) para nomear, sem eleições, os reitores de universida­des federais durante a pandemia. Equivocado no nascedouro por patente inconstitu­cionalidad­e (violação da autonomia universitá­ria), o ato foi revogado pelo Palácio do Planalto.

Após sua edição, a MP fora criticada pela cúpula do Legislativ­o, por parlamenta­res e pela comunidade acadêmica. O episódio provocou reações de partidos políticos, que recorreram ao Supremo Tribunal Federal (STF) para derrubar a medida, além de gerar ruído em votações importante­s no Senado.

Nesta sexta (12), o Congresso devolveu o texto ao Executivo. Tratase de algo raro e extremo na relação entre os Poderes. Desta feita, porém, num jogo ensaiado posto em prática por Davi Alcolumbre (Senado). Ele fez chegar sua decisão de devolução, previament­e, a Jair Bolsonaro, depois de articulaçõ­es com o Judiciário —que se preparava para suspender a MP de forma liminar. Das derrotas, julgou-se a menor. Devolução consumada, Bolsonaro revogou a medida já inválida.

A lambança é só mais um tijolinho no muro de múltiplas bizarrices na circunscri­ção de Weintraub. Na paisagem política, aumenta seu desgaste com o centrão, a cúpula do Legislativ­o, os militares e a área econômica. Também cresce a percepção de que seus atos passarão por escrutínio cada vez mais rigoroso —e necessário—, tornando inviável a continuida­de de sua gestão.

O cerco se fecha ainda com os sinais do STF de que não aliviará para o ministro no caso dos impropério­s ditos na fatídica reunião ministeria­l de 22 de abril (“Eu, por mim, botava esses vagabundos todos na cadeia, começando no STF”).

A cada movimento para seu expurgo, entretanto, Weintraub ganha mais apoio entre radicais bolsonaris­tas —Jair incluso.

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