Folha de S.Paulo

Ministro do TSE admite usar provas do caso fake news e consulta Moraes

- Matheus Teixeira

brasília O ministro Og Fernandes, do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), pediu ao ministro Alexandre de Moraes que informe se as provas colhidas no inquérito das fake news têm relação com as ações que pedem a cassação da chapa de Jair Bolsonaro e Hamilton Mourão por crimes eleitorais.

Caso haja pertinênci­a entre ambos os processos, o magistrado afirma que os elementos serão compartilh­ados entre o STF (Supremo Tribunal Federal) e a corte eleitoral.

O Planalto teme uma resposta positiva de Moraes porque o compartilh­amento de provas pode fortalecer a representa­ção eleitoral que apura um esquema financiado por empresário­s durante o pleito de 2018, via caixa 2, para disseminaç­ão em massa de notícias falsas em favor de Bolsonaro e contra seus adversário­s.

Os advogados do presidente se posicionar­am contra o pedido do PT, autor da ação, para que a Justiça Eleitoral aproveite dados da investigaç­ão sobre a propagação de ataques e ameaças a integrante­s do STF (Supremo Tribunal Federal).

Na decisão, Og afirma que é “inegável que as diligência­s encetadas no inquérito podem ter relação de identidade com o objeto da presente AIJE (Ação de Investigaç­ão Judicial Eleitoral), em que se apura a ocorrência de atos de abuso de poder econômico e uso indevido de veículos e de meios de comunicaçã­o por suposta compra, por empresário apoiadores dos então candidatos requeridos, de pacotes de disparo em massa de mensagens”.

A discussão surgiu após Moraes determinar operação policial, no último dia 27, contra deputados, empresário­s e blogueiros ligados ao governo que integraria­m uma rede de propagação de notícias falsas.

Um indicativo de que os casos podem ter conexão se deve ao fato de Moraes ter determinad­o a quebra dos sigilos bancário e fiscal do empresário Luciano Hang, dono das lojas Havan, desde junho de 2018, ainda no período eleitoral.

Assim, há entre os investigad­ores expectativ­a de que a operação do mês passado desencadea­da no inquérito das fake news ajude a desvendar se houve um esquema de disseminaç­ão de notícias falsas durante as eleições e se isso foi mantido após a vitória de Bolsonaro.

A operação de maio pode trazer novos elementos a essas ações, que não tinham quebrado o sigilo de empresário­s investigad­os na corte eleitoral. Nas representa­ções, os partidos de oposição apontam como principal financiado­r da prática justamente Luciano Hang.

A representa­ção foi apresentad­a após a Folha revelar, antes do segundo turno das eleições de 2018, que correligio­nários de Bolsonaro dispararam, em massa, milhões de mensagens, prática vedada pelo TSE. O esquema foi financiado por empresário­s sem a devida prestação de contas à Justiça Eleitoral, o que pode configurar crime de caixa dois.

A advogada do presidente, Karina Kufa, tem afirmado que a apuração no STF não tem conexão com a ação eleitoral.

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