Cidades de Minas reforçam medidas na divisa com SP para frear doença
Destinos como Extrema e Monte Verde usam barreiras e toque de recolher e vetam turistas
belo horizonte e ribeirão preto Enquanto o novo coronavírus não para de avançar em cidades do interior de São Paulo, municípios de Minas Gerais que ficam na divisa entre os dois estados temem que a contaminação cresça em seu território e reforçam medidas como fechar o acesso à cidade e criar barreiras sanitárias.
O problema se acentua em períodos como este, do feriado de Corpus Christi, em que os níveis de isolamento despencam em cidades paulistas e milhares de pessoas viajam.
Todos os municípios paulistas que ficam na divisa de São Paulo e Minas Gerais entre Lavrinhas, no Vale do Paraíba, e Franca, no nordeste do estado, têm casos da Covid-19.
São 30 cidades que, juntas, registravam, até quarta (10), 1.913 casos da doença, com 72 óbitos, de acordo com a Secretaria de Estado da Saúde. Já do lado mineiro, em cerca de 35 municípios os casos eram 870, segundo a pasta estadual.
O estado de Minas Gerais, porém, é um dos que menos testa —26.041 testes na rede pública— e pode ter uma subnotificação significativa.
Dos 853 municípios de Minas, 542 têm casos do novo coronavírus e 131 tiveram mortes. Ao todo, até a última quarta, foram confirmados 17.501 casos, com 409 mortes. As hospitalizações por SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave), por exemplo, tiveram alta de 656% em relação ao mesmo período de 2019, segundo boletim da secretaria estadual.
Mas, independentemente disso, e como o vírus não vê fronteira, as cidades mineiras adotam medidas para coibir a disseminação da doença.
Extrema, de 36 mil habitantes, vive uma das situações mais críticas. Desde o dia 5 a cidade registrou 64 novos casos e já são 226 no total.
O panorama na cidade, que já tinha adotado toque de recolher desde o início da quarentena, a fez ampliar a restrição à circulação de pessoas, que vale das 18h às 6h, e a manter barreiras sanitárias nas principais entradas.
Destino procurado por visitantes de São Paulo e Minas para turismo ecológico, a prefeitura avisa já nas redes sociais que as atrações estão fechadas e pede que moradores não recebam visitas.
O aumento dos casos levou refeito, João Batista da Silva (DEM), a publicar novo decreto nesta semana, fechando as entradas da cidade e comércio, que havia sido reaberto. Até as 23h59 de sábado (13), veículos de fora não entram.
A proximidade com São Paulo fez com que uma das primeiras medidas adotadas em Poços de Caldas fosse trancar seus acessos para evitar a entrada de visitantes, logo no início da quarentena.
“Os [casos] que tivemos, especialmente no início, vieram principalmente de São Paulo. A nossa relação com São Paulo é intensa. Fazemos isolamento de quem vem de lá, orientamos quem volta a fazer quarentena e não aceitamos turistas por ora” disse o secretário municipal da Saúde, Carlos Mosconi.
Na cidade de 167 mil habitantes, famosa por suas águas termais, havia 93 casos e quatro mortes até a última quarta. Só entram ali carros com placa local ou que comprovem residência no município. Excursões foram proibidas.
Um dos casos mais recentes confirmados em Camanducaia, também na divisa, foi de uma mulher de 29 anos que trabalha em Extrema (a 27,7 km). Com 68 registros e uma morte, a cidade tinha na quarta ainda 15 deles ativos.
As barreiras sanitárias nas entradas do município, onde são feitas medição de febre e avaliação de quem chega à cidade, foram reforçadas para este feriado e funcionarão 24 horas por dia. A medida visa especialmente o turístico distrito de Monte Verde.
Já Uberaba, que integra a rota entre Ribeirão Preto e Uberlândia, observa o avanço de casos da região, mas não pensa em ampliar restrições, já que a circulação de pessoas de fora tem sido tímida, segundo o secretário da Saúde, Iraci José de Souza Neto. Rodoviária e aeroporto seguem fechados.
“A gente vê o crescimento dessas duas cidades, mas um pouco longe da nossa realidade. Estamos ainda num crescimento de potencial moderado ou leve.” A cidade tinha 370 casos na quarta-feira.
A situação de Ribeirão, porém, preocupa municípios da sua macrorregião, alguns dos quais fazem divisa com o estado vizinho. A cidade chegou na quarta a 2.029 casos da doença, com 53 mortes, data em que o governo de São Paulo
““Os [casos] que tivemos, especialmente no início, vieram principalmente de São Paulo. A nossa relação com São Paulo é intensa. Fazemos isolamento de quem vem de lá, orientamos quem volta a fazer quarentena e não aceitamos turistas por ora
Carlos Mosconi secretário da Saúde de Poços de Caldas
anunciou o rebaixamento da região no plano de reabertura da economia e o consequente fechamento do comércio.
O que a levou para a faixa de alerta máximo foram as altas de internações e mortes nos últimos sete dias em comparação com os sete dias anteriores, segundo o prefeito Duarte Nogueira (PSDB).
A ocupação de leitos de UTI para Covid-19 chegou a 75%, ante 65% de dois dias antes. “Se a gente mantiver o número de internações, sem crescer o que cresceu, e mortes idem, podemos vislumbrar, quem sabe, passar direto da fase de alerta máximo para a amarela [terceira na escala].”
Ele, que decretou o fechamento do comércio nos feriados de quinta (11) e do dia 19, aniversário da cidade, afirmou que o cenário local se deve à interiorização da pandemia, como previsto, mas que a “falta de observância de conduta de regras sanitárias, de protocolos, contribuiu para aumentar um pouco mais”.
Se as cidades mineiras se preocupam com a possível entrada de casos a partir de São Paulo, o contrário, em geral, não ocorre. Não há barreiras na mesma intensidade nem medidas restritivas a veículos de Minas, por exemplo.
Mas há ações tomadas por prefeituras na divisa para evitar o contágio, como em Monteiro Lobato, que tem dois casos da doença e contratou seguranças para dispersar as pessoas em aglomerações, como turistas que se deslocam para o sul de Minas ou que chegam de alguma cidade mineira.