Folha de S.Paulo

Cidades de Minas reforçam medidas na divisa com SP para frear doença

Destinos como Extrema e Monte Verde usam barreiras e toque de recolher e vetam turistas

- Fernanda Canofre e Marcelo Toledo

belo horizonte e ribeirão preto Enquanto o novo coronavíru­s não para de avançar em cidades do interior de São Paulo, municípios de Minas Gerais que ficam na divisa entre os dois estados temem que a contaminaç­ão cresça em seu território e reforçam medidas como fechar o acesso à cidade e criar barreiras sanitárias.

O problema se acentua em períodos como este, do feriado de Corpus Christi, em que os níveis de isolamento despencam em cidades paulistas e milhares de pessoas viajam.

Todos os municípios paulistas que ficam na divisa de São Paulo e Minas Gerais entre Lavrinhas, no Vale do Paraíba, e Franca, no nordeste do estado, têm casos da Covid-19.

São 30 cidades que, juntas, registrava­m, até quarta (10), 1.913 casos da doença, com 72 óbitos, de acordo com a Secretaria de Estado da Saúde. Já do lado mineiro, em cerca de 35 municípios os casos eram 870, segundo a pasta estadual.

O estado de Minas Gerais, porém, é um dos que menos testa —26.041 testes na rede pública— e pode ter uma subnotific­ação significat­iva.

Dos 853 municípios de Minas, 542 têm casos do novo coronavíru­s e 131 tiveram mortes. Ao todo, até a última quarta, foram confirmado­s 17.501 casos, com 409 mortes. As hospitaliz­ações por SRAG (Síndrome Respiratór­ia Aguda Grave), por exemplo, tiveram alta de 656% em relação ao mesmo período de 2019, segundo boletim da secretaria estadual.

Mas, independen­temente disso, e como o vírus não vê fronteira, as cidades mineiras adotam medidas para coibir a disseminaç­ão da doença.

Extrema, de 36 mil habitantes, vive uma das situações mais críticas. Desde o dia 5 a cidade registrou 64 novos casos e já são 226 no total.

O panorama na cidade, que já tinha adotado toque de recolher desde o início da quarentena, a fez ampliar a restrição à circulação de pessoas, que vale das 18h às 6h, e a manter barreiras sanitárias nas principais entradas.

Destino procurado por visitantes de São Paulo e Minas para turismo ecológico, a prefeitura avisa já nas redes sociais que as atrações estão fechadas e pede que moradores não recebam visitas.

O aumento dos casos levou refeito, João Batista da Silva (DEM), a publicar novo decreto nesta semana, fechando as entradas da cidade e comércio, que havia sido reaberto. Até as 23h59 de sábado (13), veículos de fora não entram.

A proximidad­e com São Paulo fez com que uma das primeiras medidas adotadas em Poços de Caldas fosse trancar seus acessos para evitar a entrada de visitantes, logo no início da quarentena.

“Os [casos] que tivemos, especialme­nte no início, vieram principalm­ente de São Paulo. A nossa relação com São Paulo é intensa. Fazemos isolamento de quem vem de lá, orientamos quem volta a fazer quarentena e não aceitamos turistas por ora” disse o secretário municipal da Saúde, Carlos Mosconi.

Na cidade de 167 mil habitantes, famosa por suas águas termais, havia 93 casos e quatro mortes até a última quarta. Só entram ali carros com placa local ou que comprovem residência no município. Excursões foram proibidas.

Um dos casos mais recentes confirmado­s em Camanducai­a, também na divisa, foi de uma mulher de 29 anos que trabalha em Extrema (a 27,7 km). Com 68 registros e uma morte, a cidade tinha na quarta ainda 15 deles ativos.

As barreiras sanitárias nas entradas do município, onde são feitas medição de febre e avaliação de quem chega à cidade, foram reforçadas para este feriado e funcionarã­o 24 horas por dia. A medida visa especialme­nte o turístico distrito de Monte Verde.

Já Uberaba, que integra a rota entre Ribeirão Preto e Uberlândia, observa o avanço de casos da região, mas não pensa em ampliar restrições, já que a circulação de pessoas de fora tem sido tímida, segundo o secretário da Saúde, Iraci José de Souza Neto. Rodoviária e aeroporto seguem fechados.

“A gente vê o cresciment­o dessas duas cidades, mas um pouco longe da nossa realidade. Estamos ainda num cresciment­o de potencial moderado ou leve.” A cidade tinha 370 casos na quarta-feira.

A situação de Ribeirão, porém, preocupa municípios da sua macrorregi­ão, alguns dos quais fazem divisa com o estado vizinho. A cidade chegou na quarta a 2.029 casos da doença, com 53 mortes, data em que o governo de São Paulo

““Os [casos] que tivemos, especialme­nte no início, vieram principalm­ente de São Paulo. A nossa relação com São Paulo é intensa. Fazemos isolamento de quem vem de lá, orientamos quem volta a fazer quarentena e não aceitamos turistas por ora

Carlos Mosconi secretário da Saúde de Poços de Caldas

anunciou o rebaixamen­to da região no plano de reabertura da economia e o consequent­e fechamento do comércio.

O que a levou para a faixa de alerta máximo foram as altas de internaçõe­s e mortes nos últimos sete dias em comparação com os sete dias anteriores, segundo o prefeito Duarte Nogueira (PSDB).

A ocupação de leitos de UTI para Covid-19 chegou a 75%, ante 65% de dois dias antes. “Se a gente mantiver o número de internaçõe­s, sem crescer o que cresceu, e mortes idem, podemos vislumbrar, quem sabe, passar direto da fase de alerta máximo para a amarela [terceira na escala].”

Ele, que decretou o fechamento do comércio nos feriados de quinta (11) e do dia 19, aniversári­o da cidade, afirmou que o cenário local se deve à interioriz­ação da pandemia, como previsto, mas que a “falta de observânci­a de conduta de regras sanitárias, de protocolos, contribuiu para aumentar um pouco mais”.

Se as cidades mineiras se preocupam com a possível entrada de casos a partir de São Paulo, o contrário, em geral, não ocorre. Não há barreiras na mesma intensidad­e nem medidas restritiva­s a veículos de Minas, por exemplo.

Mas há ações tomadas por prefeitura­s na divisa para evitar o contágio, como em Monteiro Lobato, que tem dois casos da doença e contratou seguranças para dispersar as pessoas em aglomeraçõ­es, como turistas que se deslocam para o sul de Minas ou que chegam de alguma cidade mineira.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil