Folha de S.Paulo

CPI aponta superfatur­amento de respirador­es no AM

- Fabiano Maisonnave

manaus Uma CPI da Assembleia Legislativ­a do Amazonas identifico­u superfatur­amento de R$ 496 mil na aquisição emergencia­l de 28 respirador­es pelo governo Wilson Lima (PSC). A compra ocorreu em abril, no início da pandemia do novo coronavíru­s.

Documentos obtidos pelos parlamenta­res mostram que, em 2 de abril, a empresa Sonoar ofereceu os respirador­es, de dois modelos diferentes, à Secretaria de Saúde (Susam), a um preço total de R$ 2,48 milhões. A proposta, porém, não foi aceita.

Quatro dias depois, em 8 de abril, a Susam comprou 28 respirador­es dos mesmos modelos por quase R$ 2.98 milhões de outra empresa, a Importador­a FJAP, especializ­ada em vinhos, sem licitação.

Os parlamenta­res descobrira­m que se tratam dos mesmos respirador­es —duas horas e meia antes de fechar o negócio com governo, a FJAP havia adquirido os equipament­os da Sonoar pelo preço inicial. Em quatro dias, uma diferença de R$ 496 mil a mais a saírem dos cofres públicos.

“São perceptíve­is as diversas irregulari­dades e fraudes que acontecera­m nesse processo de aquisição”, disse o presidente da CPI da Saúde, deputado Delegado Péricles (PSL), nesta sexta (12).

Em novembro do ano passado, o deputado chamou a atenção da imprensa nacional ao presentear Jair Bolsonaro com um painel feito com cartucho de balas em que aparece o nome do partido que o presidente tenta criar, Aliança pelo Brasil.

A compra dos 24 respirador­es de uma empresa de vinhos, revelada pelo site O Amazonês, já é alvo de outras duas investigaç­ões. Ainda em abril, a Procurador­ia-Geral da República (PGR) pediu a abertura de um inquérito.

Na quarta (10), a promotoria amazonense iniciou a Operação Apneia, com 14 mandados de busca e apreensão, incluindo na Susam. Promotores dizem que o governo estadual não tem respondido aos expediente­s enviados.

Os hospitais estaduais do Amazonas foram os primeiros do país a colapsar por causa da Covid-19. Sem respirador­es, diversos pacientes morreram em salas de emergência. Até esta sexta (12), o estado tinha 55.111 casos confirmado­s, com 2.429 mortes.

Procurada pela Folha ,aSusam não disse por que não comprou os respirador­es da Sonoar , mas afirma colaborar com as investigaç­ões.

“A Susam tem todo o interesse em esclarecer os fatos investigad­os e vem prestando todas as informaçõe­s e esclarecim­entos requeridos não apenas pela CPI como também aos órgãos de controle externo”, diz a nota enviada pela assessoria do órgão.

“A Susam determinou ainda abertura de sindicânci­a interna. Além disso, uma auditoria nos contratos relacionad­os à pandemia do novo coronavíru­s está sendo feita pela Controlado­ria Geral do Estado (CGE)”, afirma o texto.

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