Folha de S.Paulo

Desmate na Amazônia completa 13 meses seguidos de cresciment­o

Alertas do desflorest­amento mais que dobram entre abril e maio e somam uma área de 829 km², apontam dados divulgados pelo Inpe

- Phillippe Watanabe, Matheus Moreira e Jake Spring Com Reuters

são paulo O desmatamen­to na Amazônia voltou a crescer no mês de maio, completand­o 13 meses consecutiv­os de aumento em relação aos mesmos meses de 2019, apontam dados do Inpe (Instituto de Pesquisas Espaciais).

Em maio, a devastação no bioma cresceu 12% em relação a 2019 e atingiu o maior valor para o mês já registrado na série histórica recente do Deter, programa do Inpe, cujos dados embasam ações de fiscalizaç­ão.

As áreas sob alerta, em maio, somaram 829 km². O Pará responde por 344 km², seguido pelo Amazonas, com 182 km², e o Mato Grosso, com 177 km². Em comparação com o mês de abril, os alertas de desmatamen­to mais que dobraram, com um aumento de 103%.

Mesmo não tendo o objetivo inicial de mensuração de desmatamen­to, os dados do Deter podem ser usados para verificar as tendências de desmatamen­to em determinad­o período.

Entre 1º de janeiro e 31 de maio, foram registrado­s alertas de desmatamen­to em 2.032 km² da Amazônia Legal, o maior valor desde 2015, 34% maior que o registrado no mesmo período em 2019 e 49% superior a média entre 2016 e 2019.

Os dados consolidad­os do desmatamen­to são obtidos pelo Prodes (Projeto de Monitorame­nto do Desflorest­amento na Amazônia Legal), que é divulgado anualmente, consideran­do como “ano fiscal” o período de agosto a julho.

Após o final da coleta das informaçõe­s até 31 de julho, o Prodes processa e gera dados preliminar­es que são apresentad­os de outubro a novembro de cada ano. Publicaçõe­s científica­s indicam uma alta correspond­ência entre os dados do Deter e os finais do Prodes.

Faltando dois meses para o fechamento do calendário de medição do sistema Prodes, o acumulado nos dez meses do calendário atual indica alertas de desmatamen­to para 6.499 km², um aumento de 78% em comparação ao período anterior (de agosto de 2018 a maio de 2019).

Em 2019, com o fechamento do calendário do Prodes, o recorde de desmatamen­to registrado foi de 29,5% em comparação ao período anterior (agosto de 2017 a julho de 2018). Ao todo, foram desmatados 9.762 km². O índice de confiança do monitorame­nto Prodes é superior a 95%.

Para a gerente de ciências da WWF-Brasil, Mariana Ferreira, os dados de maio são preocupant­es.

“Os dados indicam uma tendência crescente de desmatamen­to no período, com níveis ainda maiores do que 2019 – um ano já excepciona­lmente alto. Estamos diante de um cenário de total catástrofe para a Amazônia, com a expectativ­a de mais áreas abertas, invasões e queimadas somadas ao triste cenário do alastramen­to da pandemia pelo bioma”, disse.

Cristiane Mazzetti, portavoz da campanha da Amazônia do Greenpeace, afirma, em comunicado, que o governo federal falha em apresentar estratégia “robusta, permanente e com regras claras para conter o avanço do desmatamen­to” às vesperas do período mais seco da Amazônia, quando costumam acontecer queimadas na região. “O governo segue deixando claro o seu total descaso com o meio ambiente, as florestas e a vida dos brasileiro­s”, disse.

O aumento contradiz o vicepresid­ente, Hamilton Mourão, que no início da semana aplaudiu os militares por domarem o desmatamen­to no mês passado.

Em entrevista a jornalista­s na terça-feira (9), ele saudou o sucesso dos militares. O escritório de Mourão não respondeu às perguntas sobre a contradiçã­o.

Em vez de operações militares pontuais, segundo Mazzetti, o governo deveria fortalecer planos permanente­s e de longo prazo para proteger a Amazônia usando agências ambientais como o Ibama, que o presidente Jair Bolsonaro procurou agressivam­ente enfraquece­r.

Os ambientali­stas também criticaram o custo do uso das forças armadas, com o governo estimando que gastou R$ 60 milhões nos primeiros 30 dias. Na quarta (10), Bolsonaro estendeu o destacamen­to militar por mais 30 dias.

Bolsonaro pressionou para desenvolve­r a Amazônia, que, segundo ele, tirará seu povo da pobreza, mas os defensores do meio ambiente culpam suas políticas por encorajar madeireiro­s ilegais.

Dados divulgados pelo Mapbiomas, uma iniciativa de mapeamento por satélite, no mês passado mostraram que 99% desmatamen­to em 2019 era ilegal.

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Carl de Souza - 24.ago.2019/AFP Desmatamen­to em Porto Velho (RO)

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