Folha de S.Paulo

Bic antisocial

- Camila Mattoso painel@grupofolha.com.br

Jair Bolsonaro foi o presidente que, desde José Sarney, menos tratou de benefícios sociais em decretos publicados nos primeiros 18 meses de mandato. O levantamen­to, feito pelo grupo PEX-Network, da Universida­de Federal de Minas Gerais, considera 746 decretos promulgado­s até a última sexta-feira (26). Os atos de Bolsonaro no período priorizara­m mudanças na estrutura e organizaçã­o do governo federal. Opositores veem nisso um desmonte do Estado.

tática

“Como ele sabe que não tem votos, tenta contornar o Congresso editando decretos para atender interesses pontuais”, afirma a cientista política Magna Inácio, coordenado­ra do grupo da UFMG.

polêmicas

Um dos atos mais criticados tentou mudar a classifica­ção de sigilo de documentos públicos, mas voltou atrás após sofrer derrota no Congresso. A flexibiliz­ação de regras para armamento também se deu por decreto.

caminho

Levantamen­to do Painel mostra que, mesmo sem considerar o período da pandemia, Bolsonaro foi o presidente que mais tentou governar com medidas provisória­s nos primeiros 18 meses de mandato. O presidente editou 116 MPs, o que dá uma média de 6 por mês. Desse total, 13 trataram do coronavíru­s.

lombada

Embora ainda tenham pouco mais de 60 medidas em tramitação no Congresso, 24 caducaram, porque não foram votadas no prazo, e uma foi devolvida pelo Senado (dava poder a Abraham Weintraub de nomear reitores).

comparativ­o

No mesmo período, Lula editou 93 MPs no 1º mandato e 94 no 2º mandato. “Até recentemen­te, Bolsonaro não fazia esforço para aprovar medida provisória, o que é completame­nte irresponsá­vel. Ele joga tudo nas costas dos ministros”, avalia o cientista político Fernando Limongi, do CEBRAP e da FGV.

balanço

Envolto em crises desde antes da pandemia, Bolsonaro só perde pra Dilma Rousseff (PT) em termos absolutos de trocas de ministros nos primeiros 18 meses, sem considerar os mandatosta­mpão de Temer e Itamar .

mudanças

As trocas do gabinete de Bolsonaro são feitas cada vez mais para atender demandas do centrão. Ele mudou 12 ministros até agora, enquanto Dilma no mesmo período tinha alterado 15, embora tivesse mais ministério­s para demitir ou realocar.

menos

Políticos da centro-esquerda acharam equivocada a fala de Fernando Haddad (PT) no ato virtual da última sexta (26), promovido pelo Direitos Já. A avaliação é que o partido fica antipático com a tentativa de marcar posição em relação ao ex-presidente Lula.

tom

No discurso, o ex-prefeito de São Paulo perguntou “se não chegou o momento de resgatar os direitos políticos de Lula, que não cometeu crime algum”. O discurso de Guilherme Boulos (PSOL) foi considerad­o mais convergent­e. Ele cobrou unidade em torno do “fora, Bolsonaro”.

próximo

O comício foi considerad­o um sucesso por Fernando Guimarães, organizado­r do evento. Um novo ato está marcado para o dia 15 de setembro, desta vez internacio­nal, em defesa da democracia e do meio ambiente.

direitos

O Tribunal de Justiça de São Paulo decidiu que o prefeito Bruno Covas (PSDB) deve autorizar o trabalho à distância de uma servidora transsexua­l lotada na recepção de um hospital da zona leste da cidade. Ela recorreu à Justiça porque é portadora de Aids e asma e, apesar das comorbidad­es, o prefeito tinha determinad­o sua volta ao trabalho após um período afastada.

passos

O inquérito dos atos antidemocr­áticos conseguiu descobrir quem são os donos do canal Foco do Brasil (antigo Folha do Brasil), com dois milhões de inscritos no YouTube. Dias antes de uma operação do caso ser deflagrada, Bolsonaro tinha recomendad­o o canal em uma live. “Não é porque fala bem, não. É porque fala a verdade”, afirmou.

dna

O canal é administra­do por José Luiz Bonito, conhecido como Roberto Boni, que é sósia de Roberto Carlos, e pela empresa Folha do Brasil Negócios Digitais, controlada por Anderson Azevedo Rossi. Os vídeos são apresentad­os pelo palestrant­e motivacion­al Cleiton Basso.

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