Folha de S.Paulo

Lutou pelos direitos dos índios com Raoni

- Cristina Camargo

são paulo Nascida na antiga aldeia Kapot, em 1930, a anciã indígena Bekwyjkà Metuktire conheceu o cacique Raoni quando os dois eram muito jovens e tinham um longo caminho pela frente.

Esposa e conselheir­a do líder indígena reconhecid­o internacio­nalmente, ela viveu ao lado dele por oito décadas. Tiveram oito filhos e construíra­m uma história de luta pelos direitos dos povos indígenas do Brasil.

Bekwyjkà morreu no dia 23 de junho, na aldeia Metuktire, no Mato Grosso, após sofrer acidente vascular encefálico. Aos 90 anos, ela estava coma saúdedebil­itada. Segundo umadas netas, a anciã não foi removida para um hospital por medo da pandemia do coronavíru­s.

“Meu avô está arrasado pela perda de sua companheir­a, conselheir­a e matriarca”, disse a neta Mayalú Txucarramã­e.

Raoni descrevia Bekwyjkà como uma estrela que desceu na terra. “Então pude ver que ela era ainda mais linda, essa é a minha estrela”, dizia.

A morte foi lamentada pela presidente da Apib (Articulaçã­o dos Povos Indígenas do Brasil), Sonia Guajajara. “São muitas fontes de sabedoria que estão nos deixando, levando nossa originalid­ade, cultura e aprendizad­o. Minha solidaried­ade e imenso pesar.”

Protagonis­ta de lutas em defesa dos povos indígenas e da Amazônia, Raoni voltou a assumir nos últimos anos a linha de frente da mobilizaçã­o.

No ano passado, percorreu países para denunciar o desmatamen­to da Amazônia e em janeiro convocou encontro histórico de líderes de povos da floresta.

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