Folha de S.Paulo

Mecânico é o primeiro metroviári­o morto de SP

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A pandemia fez, na quarta-feira (17), sua primeira vítima entre os funcionári­os da ativa do Metrô de São Paulo. Armando Ramos Norberto, o Armandinho, morreu aos 59 anos, 31 deles passados na companhia.

Mecânico do pátio de manutenção e estacionam­ento de trens de Itaquera, na ponta leste da linha vermelha, era, segundo os companheir­os, uma das grandes lideranças dos metroviári­os paulistas.

Churrasque­iro respeitado, era ele que organizava as festas de fim de ano que atraíam centenas de pessoas ao pátio.

Armandinho também era figura central na igreja evangélica que frequentav­a, em Guarulhos. Ali atuava como diácono, liderava reuniões de casais e foi padrinho de dezenas de casamentos e festas de debutantes.

O mecânico era filiado ao PCdoB, militante da Central dos Trabalhado­res e Trabalhado­ras do Brasil e foi diretor sindical por três mandatos. Como membro da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (Cipa), liderou as demandas coletivas por equipament­os proteção individual (EPI) e segurança no trabalho, desde antes da pandemia, contam os colegas.

Com o novo vírus, exigiu distribuiç­ão adequada de máscaras protetoras e propôs regimes diferentes de jornada de trabalho para aumentar a segurança. Também sempre cobrava o uso correto dos equipament­os.

Armando deu entrada no Hospital São Camilo no dia 6 de junho, com sintomas leves, sentindo-se ofegante e com leve arritmia. A tomografia revelou que 50% dos pulmões já estavam comprometi­dos.

Na quinta-feira anterior, ele havia recebido o resultado negativo de um exame de sorologia (que indica se já houve contato com o novo coronavíru­s). Era falso negativo: o teste não captou a presença dos anticorpos contra a doença.

Sua esposa, Claudirce, com quem era casado havia mais de 30 anos, havia sido internada

com a doença alguns dias antes, mas não chegou a ser entubada e teve alta enquanto ele estava internado.

Inicialmen­te sua saúde parecia evoluir bem, mas piorou, e ele foi entubado. Morreu após 13 dias de internação. Segundo a família, o sindicalis­ta não tinha doença agravante, não fumava e mantinha hábitos saudáveis.

O enterro seguiu os protocolos de combate à Covid-19, com cerimônia rápida, distanciam­ento social e poucos presentes. Na mesma hora, os companheir­os mais próximos

do Sindicato dos Metroviári­os de São Paulo fez uma live em sua homenagem, com a participaç­ão de seu filho Leonardo nos minutos iniciais.

Nascido em Cornélio Procópio, norte do Paraná, Armandinho chegou a São Paulo com cerca de 20 anos. Na capital paulista encontrou e se casou com a também paranaense Claudirce. Moravam no Jaçanã, bairro da zona norte paulistana, com o filho e a neta.

Armandinho deixa a esposa, dois filhos e três netos. Guilherme Pereira Botacini

 ?? Reprodução ?? Armando Ramos Norberto, o Armandinho, mecânico do Pátio Itaquera
Reprodução Armando Ramos Norberto, o Armandinho, mecânico do Pátio Itaquera

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