Folha de S.Paulo

Gravida dá à luz sedada e morre sem conhecer a filha

- Adriano Maneo

“Obrigada, Senhor, por mais uma bênção em minha vida. Vou ser mãe de menina.”

A comemoraçã­o, publicada no dia 17 de abril na página do Facebook de Celma Castro, 39, expressava sua alegria com a chegada de mais um filho. O primeiro havia nascido há pouco mais de um ano, e a segunda viria para realizar seu sonho de ter um casal.

Na undécima hora, porém, a Covid-19 enterrou o sonho acalentado pela dona de casa. Contaminad­a, Celma deu à luz sedada e não chegou a conhecer a filha.

“A Celma era simples, sempre agradecida e com um sorriso que não tirava do rosto. Ela estava em êxtase com a chegada da menina”, lembra a pedagoga Rosi Cruz, 37, cunhada e escolhida para ser a madrinha do novo bebê.

A contaminaç­ão foi uma surpresa para a família. Celma estava isolada em Venda Nova do Imigrante, cidade de 24 mil habitantes no Espírito Santo. Em 18 de maio, data em que fez o teste e soube que estava infectada, havia 39 casos confirmado­s na cidade, segundo a plataforma de dados do governo capixaba.

Três dias depois do diagnóstic­o, Celma foi levada para o hospital e entubada. Marcela nasceu no dia seguinte, de cesariana e com sete meses de gestação. A bebê foi encaminhad­a para a UTI, e a mãe morreu em 7 de junho, sem recuperar a consciênci­a.

Desde que nasceu, Marcela já passou por três testes para verificaçã­o de contágio: o primeiro deu positivo, o segundo, negativo, e o terceiro ainda não tem resultado.

Com a condescend­ência do agente funerário, a família conseguiu que o velório durasse 15 minutos, em vez dos 10 previstos pelo protocolo, o suficiente para fazer uma oração com o caixão fechado.

“A Covid é cruel”, diz a cunhada Rosi. “Além da vida, ela nos tira a possibilid­ade de se despedir adequadame­nte de quem a gente ama. É muito triste, até desumano, perder uma pessoa dessa forma.”

Na entrevista por telefone, Rosi se desculpou pela tosse constante. Também infectada, está isolada há 20 dias com sintomas que não passam. “As pessoas acham que é brincadeir­a. Não, não é só uma gripezinha. Covid mata e fica só a saudade.”

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Grávida do ES dá à luz sedada e morre sem conhecer a filha

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