Morre o designer Milton Glaser, que desenvolveu o logo ‘I NY’
Artista ainda criou cartazes e redefiniu o visual de empresas e publicações
Um dos maiores designers da história e dos grandes responsáveis por mudar af amade NovaYork no final do século passado, o americano Milton Glaser morreu nesta sexta (26), aos 91 anos.
A causa foi um derrame, segundodissesu amu lher,Shirley, ao jornal The New York Times.
Glaser, nascido no Bronx em 1929, era filho de imigrantes húngaros e contava que havia decidido se dedicar à área do design desde que, na infância, um primo mais velho havia desenhado a ele um passarinho numa sacola de papel.
O designer teve aulas de desenho durante a adolescência e começou a trabalhar numa empresa que projetava pacotes antes de ingressar na Cooper Union for the Advancement of Science and Art, instituição de ensino onde se uniria a outros três colegas na fundação da Design Plus.
Sediada no Greenwich Vil lage, a empresa mais tarde viria ase tornara PushPinSt udi os,àqualG lasers e uniu depois detertra balhadona revista Vogue e deter estudado na Escola de Belas Artes de Bolonha, na Itália. A experiência na Europa, onde ele manteve contato próximo com o pintor Giorgio Morandi, o tornou mais afeito à ideia do desenho em detrimento da colagem.
Glaser dizia que se um designer precisava se apoiar em recortes e rearranjos para obter algum efeito que não conseguia reproduzir por meio de seus próprios traços, então ele estaria com problemas.
Também costumava afirmar que todo tipo de criação humana poderia servir de inspiração para o desenho — da técnica de lavagem chinesa aos registros pictóricos da América pré-histórica, passando por art nouveau e adornos do mundo muçulmano.
Um exemplo de como Glaser trabalhava com várias referências é o pôster que ele criou para acompanhar o disco “Bob Dylan’s Greatest Hits”, lançado pelo músico americano em 1967. A imagem parte do mesmo recurso usado por Marcel Duchamp em seu autorretrato em perfil e emprega ondas coloridas, inspiradas em arte islâmica, para compor as madeixas de Dylan.
Foi em sua cidade natal que o designer fez seus principais trabalhos, sobretudo a partir dos anos 1950. Desenhou capas de edições das peças de Shakespeare e de livros infantis. No Push Pin Studios, desenvolveu traços rocambolescos e coloridos que se notabilizariam na década seguinte em ilustrações com alusões psicodélicas, como as do disco “Yellow Submarine”, dos Beatles.
No ano de 1968, Glaser se uniu ao editor Clay Felker e juntos fundaram a revista New York, cujo visual arrojado inspirou diversas publicações nas décadas seguintes. O designer foi o responsável por toda a parte gráfica do veículo pelos próximos nove anos.
Foi em 1977 que Glaser desenvolveu aquela que se tornou a sua criação mais famosa, o logotipo “I Love NY”, que hoje estampa uma centena de badulaques, de chaveiros a camisetas, vendidos para turistas em Nova York.
Na época, a metrópole americana vivia um de seus períodos mais decadentes, com pobreza e violência galopantes. Glaser aceitou a proposta de desenvolver o logotipo para uma campanha que buscava promover o turismo na cidade.
Ele diz que criou o símbolo no banco traseiro de um táxi, usando apenas lápis de cor. O desenho representa em boa medida o trabalho sintético de Glaser, com a sigla NY em preto acompanhada de um coração vermelho rechonchudo.
O logo se tornou o grande emblema do momento, mais amigável, que viveria a cidade décadas depois. Viria, inclusive, a ser retrabalhado após o 11 de setembro, com uma marca preta no coração representando as torres chamuscadas.
Reconhecido por seu trabalho, Glaser fez o logotipo da Aids a pedido da Organização Mundial da Saúde, pôsteres como o da peça “Angels in America” e da série de televisão “Mad Men”, e redesenhou a identidade visual de empresas como a da cadeia de supermercados britânicos Grand Union e dos jornais Washington Post e o brasileiro O Globo.
Suas criações já ganharam retrospectivas em instituições como o MoMA, em Nova York.