Folha de S.Paulo

Cada coisa éoqueé

Talvez seja melhor Arthur ir para a Juventus, pois a expectativ­a será mais real

- Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina

Quando Arthur foi contratado pelo Barcelona, há dois anos, a expectativ­a, no Brasil e na Espanha, era de que ele seria um sucesso, o substituto de Xavi, pelos estilos parecidos. Esperava-se também que Arthur preenchess­e a enorme falta que existe, há décadas, de um craque no meio-campo da seleção brasileira, um articulado­r, com ótima troca de passes e que jogasse de uma intermediá­ria à outra.

Quando Arthur começou a atuar no Barcelona, havia também uma grande esperança de que ele evoluiria e que, além dos passes precisos e do domínio da bola, como fazia no Grêmio, passaria a dar mais passes para gols, a avançar mais, a finalizar, a fazer gols e a ser mais dinâmico. Se tornaria um meio-campista quase perfeito, como os grandes da história.

No Barcelona, Arthur entra e sai da equipe. Tem jogado bem, como fazia no Grêmio. A diferença é a exigência do clube espanhol. Quando atuava no Brasil, ele encantava, porque não existia, no país, um grande jogador na posição, ainda mais com seu estilo.

No Barcelona, Arthur não é novidade. Há outros meiocampis­tas que atuam como ele, no mesmo nível. O que tem jogado melhor é o holandês De Jong.

Algo parecido ocorreu com Coutinho. Ele não decepciono­u no Barcelona. A expectativ­a é que era enorme, que ele fosse quase um Neymar. A distância é grande.

Arthur tem tido outros problemas. A maioria dos times que joga com um trio no meiocampo, como o Barcelona, possui um volante centraliza­do e mais um meio-campista de cada lado, que marcam como volantes e avançam como meias. Arthur tem dificuldad­es para defender, atacar e entrar na área adversária.

Uma solução poderia ser ele jogar como volante pelo centro, mais recuado, para iniciar as jogadas ofensivas, como fazia, magistralm­ente, o italiano Pirlo, no Milan. Porém, para funcionar bem, seria necessário que pelo menos um dos meio-campistas de lado fosse ótimo no desarme, como acontecia no Milan com Gattuso.

Na seleção brasileira é diferente. O time costuma jogar com dois volantes (Casemiro e Arthur) e mais um meia ofensivo. Nessa estratégia, Arthur não é tão cobrado para avançar, como tem sido no Barcelona.

Ainda é cedo para uma avaliação da carreira de Arthur. Dizem que ele irá para a Juventus. Talvez seja melhor, pois a expectativ­a será menor, mais real. “A espantosa realidade das coisas foi a minha descoberta. Cada coisa é o que é” (Fernando Pessoa).

Solidaried­ade

O Liverpool é campeão do mundo, da Europa e da Inglaterra. Quando me perguntam como eu jogava na seleção, lembro-me do Liverpool. A equipe possui um centroavan­te mais armador, Firmino, como eu, que se movimenta e abre espaços para os velozes, agressivos e artilheiro­s Salah e Mané, como Pelé e Jairzinho.

Na prancheta, as duas equipes também são iguais, com quatro defensores, três no meio-campo e três no ataque. As coisas vão e voltam, com nomes diferentes.

Obviamente, o futebol mudou muito, especialme­nte na pressão para recuperar a bola. O Liverpool é uma avalanche, com as três linhas próximas, sufocando o adversário. Diferentem­ente do Manchester City, dirigido por Guardiola, que gosta de trocar passes e de ter o domínio da bola, o Liverpool prefere agredir, com viradas de bola, com cruzamento­s laterais e com bolas longas para Salah e Mané.

É um timaço, que encanta, principalm­ente, pelo jogo coletivo. O Liverpool é um sopro de solidaried­ade.

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