Folha de S.Paulo

Entre política e celebração, Paradas LGBTI+ reivindica­m direitos

- Naná DeLuca

Combinando política e festa, as Paradas do Orgulho LGBTI+ reivindica­m anualmente direitos para a comunidade formada por lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuai­s.

O primeiro evento ocorreu em Nova York em 1969, como resposta ao episódio ocorrido no bar Stonewall Inn. Frequentad­ores da boate resolveram reagir às frequentes e violentas batidas policiais no local no dia 28 de junho, data que marca, hoje, o Dia do Orgulho LGBTI+.

A primeira edição brasileira da marcha ocorreu em 28 de junho de 1997, em São Paulo, reunindo cerca de 2.000 pessoas sob o tema Somos muitos, estamos em várias profissões. Em 2002, o evento reuniu 400 mil pessoas, segundo estimativa da Polícia Militar, e tinha uma visibilida­de midiática significat­iva.

De lá para cá, cresceu vertiginos­amente e passou a integrar o calendário turístico da cidade. No Brasil, hoje, ocorrem 250 marchas por todo o território nacional.

A 23ª Parada em São Paulo, no ano passado, movimentou R$ 403 milhões, de acordo com a prefeitura. Este ano, por causa da pandemia do novo coronavíru­s, o evento foi adiado para novembro, mas ganhou uma edição em formato digital no mês de junho.

“Hoje, estamos em uma estrada bem asfaltada, em que faltam, contudo, algumas leis. No começo era um matagal, não tinha nada”, lembra Beto de Jesus, que foi presidente da Associação da Parada do Orgulho LGBTI+ entre 1999 e 2002.

Jesus aponta que, além da aliança com movimentos sindicais, o “pulo do gato” para que, de uma marcha com 2.000 pessoas, a parada paulistana se tornasse a maior do mundo, foi a atuação de pessoas LGBTI+ que não eram até então “ativistas orgânicas”, mas usaram suas expertises a favor da comunidade.

“A parada despertou para o mundo que nós somos muitos, estamos em todos os lugares e somos muito diversos”, diz Toni Reis, diretor da Aliança Nacional LGBTI+.

Para ele, é especialme­nte nas paradas que a pluralidad­e da comunidade LGBTI+ se evidencia, demonstran­do como pessoas de diversas classes sociais, raças e gerações adotam diferentes posturas e estéticas para expressar sua sexualidad­e e gênero.

Em sua cobertura do evento em 2019, a Folha sublinhou a mescla entre “tom político” e “micareta”. Tal mistura é própria da história das paradas ao redor do mundo e, em particular, as nacionais.

“As paradas brasileira­s lembram o estilo de blocos carnavales­cos, com trios elétricos. Na cidade de São Paulo, representa­ram uma apropriaçã­o festiva do espaço público”, afirma o antropólog­o e professor da USP Júlio Simões.

A origem das paradas brasileira­s está em 1978, duas décadas antes da primeira edição. Trata-se do encontro entre o ativista João Antônio Mascarenha­s e Winston Leyland, editor da Gay Sunshine Press, dos EUA. Da reunião, surge o jornal Lampião da Esquina e o coletivo político Somos.

Esta conjunção marca o início oficial do movimento LGBTI+ brasileiro, dez anos após a revolta no Stonewall.

Os propósitos da parada, no entanto, não são consensuai­s dentro da comunidade LGBTI+, como se constata pela existência da Caminhada de Mulheres Lésbicas e Bissexuais de São Paulo, que sempre acontece no sábado que antecede a parada.

“A caminhada é organizada de maneira desvincula­da à Parada LGBTI, que em seu formato não contempla as pautas específica­s das mulheres lésbicas e bissexuais”, afirma Ana Amorim, uma das organizado­ras do evento.

 ?? Nelson Marias/Arquivo Pessoal ?? Ativistas na primeira Parada do Orgulho LGBTI+ de São Paulo, em 1997
Nelson Marias/Arquivo Pessoal Ativistas na primeira Parada do Orgulho LGBTI+ de São Paulo, em 1997

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