Combatemos notícias falsas e destacamos as confiáveis
Americana à frente da plataforma de vídeos diz que esforços contra as fake news vêm ganhando corpo durante a pandemia e relativiza o monopólio da rede social
A CEO do YouTube diz que a plataforma age contra a disseminação de fake news no Brasil, inclusive sobre a Covid-19. Hoje limita a visualização de conteúdos que contrariam suas políticas, mas não atendem diretrizes para remoção. Novo recurso fez consumo de notícias de fontes jornalísticas confiáveis crescer 75%, afirma.
são paulo A CEO do YouTube, Susan Wojcicki, tem a resposta pronta quando questionada sobre a disseminação de fake news e conteúdo ofensivo no Brasil pela plataforma.
Destaca ações contra o que chama de “conteúdo limítrofe”, ou borderline, que não é removido, mas tem a visualização restrita. Diz ter reduzido 40% desde o início do ano.
Também afirma que o YouTube passou a ressaltar informação de qualidade. E, sim, “nós removemos conteúdo”. Em caso de violações repetidas das diretrizes, “nós removemos os canais”.
Sobre a concorrência, fala de TikTok, Netflix e outros aplicativos “bem financiados” como prova de uma competição robusta e crescente. Promete novidades em vídeo para celular.
Por outro lado, diferencia a estratégia do YouTube daquela dos serviços de streaming, dando a entender que pretende continuar fora da corrida global por séries, por exemplo.
Wojcicki estava para vir ao Brasil quando o coronavírus bateu na Califórnia. Na entrevista por Meet, serviço de conferência do Google, ela enfrentou os atropelos costumeiros, quando seu cachorro entrou no quarto durante a conversa.
Formada em Harvard e pósgraduada na Universidade da Califórnia, está ligada ao Google desde o início. Em setembro de 1998, a primeira sede da empresa de Larry Page e Sergey Brin, já amigos seus, foi a garagem da sua casa em Menlo Park, na baía de San Francisco.
Em mais de duas décadas, supervisionou ferramentas como AdSense, Analytics e Books. Foi quem propôs a Page e Brin a aquisição do YouTube, que chefia desde 2014 —e que, no ano passado, bateu nos 2 bilhões de usuários mensais. Ela acaba de fazer 52 anos.
O YouTube foi criado como um canal para o conteúdo de vídeo do usuário, caminha em direção ao streaming pago. Como equilibrar os lados?
Queremos investir em ambos. Sem dúvida, investimos em todos os usuários que têm algo a compartilhar. Nossos criadores muitas vezes começam só com uma paixão ou ideia, em seus quartos, filmando. Eles são parte importante do YouTube. Os bem-sucedidos crescem e se tornam o que chamo de empresas de mídia.
Queremos permitir que todos publiquem no YouTube, mas também queremos que grandes plataformas possam ter seu conteúdo nele. Pensamos o mundo em termos do número de canais. O mundo não tem só três ou cinco. Podemos ter milhões de canais.
A plataforma pode se tornar uma concorrente de fato da Netflix?
Não nos vemos como concorrentes diretos da Netflix, que se concentra em conteúdo roteirizado de última geração. Eles compram roteiros, têm muitos atores. Se você observar a produção por minuto, é um custo muito alto.
No YouTube nós nos especializamos em conteúdo de áreas que jamais teriam um programa superproduzido. “Como Consertar sua Máquina de Lavar”, por exemplo. Ou como fazer todo tipo de matemática, como tocar um instrumento. Games, música. E, claro, influenciadores, sejam de família ou de beleza. É tudo que você não verá na Netflix.
Mas vocês também investiram em TV paga. Ser uma empresa de publicidade torna mais difícil usar um modelo de assinaturas?
O modelo de assinatura é com o YouTube TV, só nos Estados Unidos. Parte disso é porque o mercado americano é único, pelo fato de ser tão caro. A maioria dos países têm TV gratuita. A nossa TV é incrivelmente cara. A maioria dos americanos gastava mais de US$ 100 por mês em TV, por isso criamos o YouTube TV.
E estávamos trazendo a tecnologia da internet para a TV. A ideia é pesquisar o conteúdo, poder ver sob demanda, salvar o que você quer ver. O YouTube TV foi uma oportunidade de trabalhar mais perto das emissoras tradicionais.
E o YouTube Music?
Você pode pagar mais e usar sem anúncios. Vemos isso como um modo de melhorar o que o YouTube já faz bem. Muitos usuários acessam porque temos uma coleção de músicas tão ampla. A assinatura aprimora o conteúdo que já temos, não necessariamente roteirizado.
O TikTok se tornou uma força. Foramfeitosquestionamentos à origem chinesa. Qual é a sua opinião sobre isso?
O TikTok é um bom exemplo de como é dinâmico esse mercado, de que uma empresa possa evoluir tão rapidamente. Estamos empolgados em inovar mais.
OTangifoidescritocomouma resposta ao TikTok. Como está indo?
O Tangi não foi produzido pelo YouTube, mas por outra equipe do Google. Portanto, não é algo de que eu tenha uma visão completa.
Há questionamentos nos EUA de que o Google é um duopólio, junto com o Facebook. Há uma investigação em curso. Qual é a sua visão disso?
Nossa opinião é de que este é um espaço muito competitivo. Você acabou de me perguntar sobre o TikTok, que é um exemplo de “player” que surgiu. Também surgiram novos participantes. E eles são bem financiados.
A Apple lançou seu serviço. A Disney lançou. Também vimos investimento da AT&T, com o HBO Max. O Instagram, do Facebook, tem se concentrado em fazer mais em vídeo. Também vemos a Twitch, da Amazon, tentando fazer mais em games. Este é um espaço competitivo, em termos do número de serviços disponíveis.
Qual é a importância do mercado brasileiro?
O Brasil é um mercado importante. Estamos muito felizes por termos tantos criadores de sucesso no país. Mais de mil com 1 milhão de inscritos. Estamos orgulhosos. Foi impressionante ver Marília Mendonça durante a Covid. Ela fez uma transmissão ao vivo de casa e teve mais de 3,3 milhões de espectadores.
O YouTube iniciou um fenômeno, dos chamados influenciadores. Influenciam em questões de saúde, por exemplo. A plataforma não deveria promover especialistas?
Buscamos ressaltar informação com autoridade. Em saúde, trabalhamos duro para garantir que, nas recomendações e nos resultados da pesquisa, o que apresentamos sejam informações confiáveis e de qualidade. Podem não ser influenciadores, mas autoridades.
Fazemos isso de várias formas. Lançamos um novo recurso, só com notícias confiáveis, em 30 países, incluindo o Brasil. E vimos um aumento de 75% desde o início do ano no consumo de fontes noticiosas confiáveis e autorizadas.
Também usamos influenciadores para conectar com autoridades, que por si só talvez não tenham a mesma audiência. Combinamos os dois para mensagens sobre coronavírus.
No Brasil, educação se tornou uma área forte na plataforma, com a pandemia. Isso indica um caminho? No Brasil, há investigações em curso sobre notícias falsas, inclusive em vídeos no YouTube. A plataforma não deveria ter agido antes da polícia e do Congresso?
Bem, tomamos várias medidas para tratar de notícias falsas ou informações prejudiciais. Demos muitos passos.
Primeiro, ressaltamos informações confiáveis. Quando você acessa o YouTube ou procura uma questão política, o que você vai ver recomendado são notícias confiáveis, de jornalismo com autoridade.
A segunda coisa foi reduzir as visualizações do conteúdo no limite. Se um conteúdo vai contra nossas políticas, mas não atende às diretrizes para remoção, ele não será recomendado. Desde o início do ano, tivemos uma redução de 40% no Brasil nesse conteúdo.
E remoção?
Removemos conteúdo também, estamos sempre atualizando nossas políticas. Então, você agora não pode contestar a eficácia do distanciamento social. E não pode dizer que a Covid não é causada por vírus. Se vemos violação, removemos o conteúdo. E, se vemos violações repetidas, removemos o canal.
Procuramos lidar com essas questõesquandonotamosalgo causando dano no mundo real. Revemos as políticas e nos certificamos de que sejam atualizadas para lidar com aquilo. Porque o YouTube não é necessariamente o especialista.