Folha de S.Paulo

Se tem vocação para as vendas, a live é sua chance

O principal truque é justamente não parecer um vendedor, mas sim um ‘amigo’

- Ronaldo Lemos

As lives são a nova encarnação dos canais de venda da TV. O principal truque é não parecer um vendedor, mas um amigo. Quanto mais espontâneo, melhor. Ninguém compra de gente chata.

Abra os olhos e os ouvidos. O novo canal de vendas que despontou em meio à pandemia são as lives.

O fenômeno não é novo. Para quem acompanha a China, sabe que o “livestream­ing” virou uma das principais formas de vender produtos no país. Eu mesmo, na série “Expresso Futuro China”, fiz um episódio dedicado a esse novo fenômeno, mostrando essa modalidade poderosa de fazer comércio.

Os números impression­am. Pegue, por exemplo, o jovem multimilio­nário chinês Jiaqi Li, apelidado de “rei dos batons”. O garoto de 27 anos testa batons nele mesmo ao vivo e já conseguiu a façanha de vender 15 mil tubos em cinco minutos. Ele tem hoje cerca de 40 milhões de seguidores no DouYin (versão chinesa do TikTok) e é considerad­o um dos mestres dessa nova linguagem.

Com a pandemia, a ampliação da atenção com as lives explodiu, tanto no Brasil como na China. Hoje em dia tem até gente que diz que “live boa era antes, hoje é muito popular”. O que só prova a centralida­de desse novo formato de comunicaçã­o.

Isso se reflete nos números. Estimativa da consultori­a iiMedia aponta que as vendas por comércio eletrônico por meio de lives vão bater US$ 129 bilhões neste ano na China.

Engana-se quem acha que as lives são um canal para vender só produtos de varejo mais conhecidos. Uma outra influencia­dora chinesa, chamada ViYa —com 18 milhões de seguidores—, vendeu um kit completo de lançamento de foguetes por US$ 5,6 milhões em uma live, úteis para o lançamento de microssaté­lites em órbita.

As lives são a nova encarnação dos canais de venda da TV (vai aí uma faca Ginsu ou meias Vivarina?). Só que muito mais sofisticad­as.

Nenhum vendedor de live age sozinho. Ele carrega e cultiva seus próprios animadores de audiência, que agitam as pessoas para comprar mais. Trabalham também com modelos agressivos de “marketing de afiliados”.

Além disso, o principal truque de vendas é justamente não parecer um vendedor, mas sim um amigo. Quanto mais espontâneo, melhor. Tudo precisa ser divertido. Ninguém compra nada de gente chata.

Como já dizia o brilhante Doc Searls no manifesto Cluetrain, “mercados são conversas”. Ao entender isso, os vendedores de livestream conseguem despertar todas as ansiedades da internet, como o FOMO (fear of missing out) —medo de perder oportunida­des—, para criar um senso de urgência e vender mais e mais rápido.

Na China, até Xi Jinping já fez uma homenagem aos vendedores “ao vivo”, especialme­nte porque a modalidade tem sido usada para vender produtos rurais, como laranjas e hortaliças, nas regiões mais pobres do país.

No Brasil, o fenômeno já está entre nós. Influencia­dores de primeira linha como Nathalia Arcuri e Rafa Brites já usam o livestream­ing como um canal de vendas, no caso, para cursos de educação financeira e de desenvolvi­mento profission­al. O resultado é impression­ante.

Se você tem vocação para vendas, é hora de abrir o seu canal de vendedor live. Faça isso logo, vá correndo! É uma chance única, imperdível, faça isso agora, é incrível, corra, já! Antes que acabe!

Já era Vender produtos pela televisão

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Já vem vender produtos por lives

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