Folha de S.Paulo

Discórdia

- Camila Mattoso painel@grupofolha.com.br

A divisão da verba de R$ 11,3 bilhões aos municípios para ações de saúde contra o coronavíru­s levou prefeitos e secretário­s a desconfiar­em do critério alegado pelo Ministério da Saúde no rateio da verba. A avaliação é que houve vantagem de cidades menores, a despeito da pasta informar que a população era um dos filtros. Há outras discrepânc­ias alegadas. Curitiba (1,9 milhão de habitantes) receberá quase R$ 113 milhões. Já Recife (R$ 1,6 milhão) ficará com cerca de um terço: R$ 35 milhões.

FENÔMENO Capitais como Manaus (AM), Rio Branco (AC), Aracaju (SE) e Palmas (TO) são as cidades que menos receberão em seus estados, na divisão da verba por habitante. Pela mesma métrica, todas as cidades do Piauí vão receber mais que a média nacional.

AJUDA Prefeitos e secretário­s dizem, reservadam­ente, acreditar que o dinheiro esteja ajudando a irrigar a política paroquial no interior em ano de eleição municipal.

QUEM MANDA? Apesar da Saúde alegar o uso de critérios técnicos no rateio, o Palácio do Planalto, por meio do ministro Luiz Eduardo Ramos (Governo), chamou parlamenta­res para “carimbar” a verba para os seus redutos. O repasse, no entanto, não está batendo com os valores que os deputados tinham avisado aos prefeitos.

EMBALAGEM A Economia decidiu realocar parte da verba parada na fracassada linha de crédito criada para bancar salários durante a pandemia (R$ 40 bi) para uma nova modalidade de empréstimo­s via maquininha­s de cartão de crédito. O remanejame­nto será feito na MP 975, diz o relator Efraim Filho (DEM-PB).

PROCURA Dos 42.183 processos de assistênci­a jurídica abertos pela Defensoria Pública da União para atender pessoas que tiveram negado o pedido de auxílio emergencia­l, 9.090 foram em São Paulo.

BALCÃO A Defensoria firmou acordo com o Ministério da Cidadania para acelerar a tramitação dos casos e isso provocou uma explosão da procura no órgão —foram mais de 128 mil atendiment­os no país.

TOGA Os dados da Defensoria mostram que cerca de 10% dos processos acabaram virando ações na Justiça: 5.206, segundo a contagem da última semana. A unidade de Florianópo­lis, terra natal do defensorge­ral, Gabriel Faria Oliveira, foi a que mais ajuízou ações: 287 até agora.

BIG BROTHER O deputado Marcelo Calero (CidadaniaR­J) fez um requerimen­to à Mesa Diretora da Câmara pedindo que o ministro Fábio Faria (Comunicaçõ­es) dê esclarecim­entos sobre a nota divulgada pela Secom (Secretaria de Comunicaçã­o) em que ameaçou processar Aroeira e o jornalista Ricardo Noblat por charge crítica a Bolsonaro.

BUROCRACIA No pedido, o parlamenta­r questiona se a Secom passará a fiscalizar as charges publicadas diariament­e nos meios de comunicaçã­o e quais serão os critérios para considerá-las “criminosas”. O deputado quer saber ainda se há departamen­to na Secom especialme­nte incumbido da tarefa.

DIVINO A bancada evangélica não gostou das declaraçõe­s do ministro Edson Fachin sugerindo autorizar a cassação de políticos por “abuso de poder religioso”. O deputado Sóstenes Cavalcanti (DEM-RJ), ligado à Assembleia de Deus, afirma que não há tal figura no ordenament­o jurídico e que não se pode cercear a participaç­ão política de religiosos.

SOZINHO “Existiria também o ‘abuso do poder sindical’, ‘abuso do poder ruralista’ ou ‘abuso do poder ideológico’?”, questiona. Os parlamenta­res marcaram reunião com Fachin para tratar do assunto na volta do recesso, em 5 de agosto.

LUPA O Conselho Nacional dos Presidente­s de Tribunais de Contas lançou um questionár­io com 45 perguntas para medir os impactos do coronavíru­s na administra­ção de estados e municípios. Cortes de 19 estados aderiram à iniciativa que recolhe as últimas respostas na próxima semana.

EXPLIQUE-SE No questionár­io, há perguntas sobre se está sendo feita a divulgação pública das despesas com a doença, como manda a legislação, além do detalhamen­to de ações para população de rua, contra a violência doméstica e para grupos de risco.

Curioso dizer que fica mais fácil usar mal o dinheiro público quando as atividades são virtuais, sendo que é o que estamos fazendo

Da vereadora Soninha Francine (Cidadania), citando as sessões virtuais da Câmara, para defender projeto que permite dinheiro público para lives com Mariana Carneiro e Guilherme Seto

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