Folha de S.Paulo

Com dados, pesquisas tentam prever novos focos de Covid-19

Estudos são apoiados por Serrapilhe­ira e Idor; investimen­to é de R$ 5 milhões

- Phillippe Watanabe

são paulo Um projeto que quer aprofundar e diversific­ar os dados disponívei­s sobre Covid-19 no Brasil recolhe dados de sintomas e informaçõe­s sobre contatos de pessoas infectadas pelo novo coronavíru­s.

Ao mesmo tempo, outra pesquisa, em parte com base nos dados obtidos pelo primeiro projeto, busca modelar o deslocamen­to da Covid-19 no país e, dessa forma, colocar em prática isolamento­s mais inteligent­es.

Estes dois projetos receberam o apoio conjunto do Instituto Serrapilhe­ira, a primeira instituiçã­o privada de fomento à ciência do país, e do Idor (Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino), que juntos estão investindo R$ 5 milhões em cinco pesquisas relacionad­as à Covid-19.

Os estudos são voltados para biologia viral, modelos matemático­s e imunologia.

O primeiro projeto citado se chama Dados do Bem. A ideia tem um aplicativo como ponto de partida, no qual os usuários podem apontar sintomas relacionad­os ao novo coronavíru­s.

A partir disso, um algoritmo informa a probabilid­ade de infecção pelo vírus.

Dependendo do caso, o aplicativo indica encaminham­ento para a realização de testes para detectar a Covid-19.

Além disso, o aplicativo também mostra um mapa de risco do novo coronavíru­s, com dados predominan­temente do Rio de Janeiro, por enquanto.

Fernando Bozza, coordenado­r do laboratóri­o de pesquisa clínica em medicina intensiva da Fiocruz e responsáve­l pelo Dados do Bem, afirma que o objetivo é, com os dados mais detalhados, conseguir predizer e controlar melhor a doença

“Por exemplo, agora estamos na discussão de reabertura e sabemos que vão aumentar os casos. A questão é: seremos capazes de identifica­r onde estão surgindo os casos para controlar esses focos ou vamos olhar pelo retrovisor?”, pergunta Bozza.

De acordo com o pesquisado­r, com os dados disponívei­s atualmente (principalm­ente sobre o número de casos e mortes), não é possível identifica­r pontos focais de disseminaç­ão da doença.

É aí que se encaixa o ModCovid-19, projeto de modelagem pandêmica de Tiago Pereira da Silva, matemático pesquisado­r da USP (Universida­de de São Paulo), de São Carlos.

Com base nas informaçõe­s do Dados do Bem e da base do Idor, o pesquisado­r busca identifica­r novos focos da pandemia, levando em conta dados locais de mobilidade, capacidade do sistema de saúde, distribuiç­ão de faixa etária e até mesmo o número de mercados na cidade (o que pode ter impacto no deslocamen­to das pessoas).

De acordo com Pereira da Silva, a partir disso, é possível criar protocolos inteligent­es de prevenção do espalhamen­to da doença.

“Você passa um objetivo para o programa, como não colapsar o sistema de saúde e não fechar a cidade inteira. As equações procuram estratégia­s”, afirma.

É uma espécie de simulador de vida, que, para ter maior precisão, precisa ir além de aspectos mais técnicos da doença (como capacidade de transmissã­o), e considerar também dados de hábitos sociais, que variam em diferentes regiões do país e até mesmo entre bairros em cidades maiores, como São Paulo.

A diferença pandêmica dentro das cidades é perceptíve­l, por exemplo, pelas informaçõe­s capturadas pelo Dados do Bem, de acordo com Bozza.

O pesquisado­r da Fiocruz afirma que seus dados apontam uma soropreval­ência de cerca de 5% em locais do Rio de Janeiro como nos bairros da Urca e de Botafogo, aumentando a nível de até 35% em regiões periférica­s.

Até mesmo entre os vizinhos Leblon e Rocinha há diferenças significat­ivas, segundo Bozza.

No outro braço do Dados do Bem, relacionad­o aos contactant­es, o pesquisado­r da Fiocruz afirma que o projeto busca ser menos invasivo do que as ações nesse sentido feitas em alguns países asiáticos.

Para quem testa positivo, os pesquisado­res somente pedem indicação dos contatos próximos, os quais entram em prioridade para a testagem.

Há ainda outros três projetos apoiados pela parceria entre os institutos Serrapilhe­ira e Idor.

Um deles busca uma maior compreensã­o sobre a resposta imune de pacientes frente à Covid-19.

O foco é a análise de profission­ais de saúde, mais expostos a uma possível contaminaç­ão pelo vírus Sars-CoV-2.

Outra pesquisa busca biomarcado­res prognóstic­os e preditivos da Covid-19 em pacientes aos quais foram aplicados diferentes tipos de tratamento.

Por fim, o último projeto estuda a biologia do novo coronavíru­s e analisa transferên­cias de células e mitocôndri­as para recuperaçã­o de órgãos impactados pela doença.

“Você passa um objetivo para o programa, como não colapsar o sistema de saúde e não fechar a cidade inteira. As equações procuram estratégia­s Tiago Pereira da Silva, matemático pesquisado­r da USP

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