Folha de S.Paulo

Artista do riso, interpreto­u a vida com intensidad­e

MARIA DO CARMO MURANO (1961-2020)

- Patrícia Pasquini

Maria do Carmo Murano era pequenina, mas carregava em si grandeza na irreverênc­ia, alegria e na generosida­de. O lado intenso e temperamen­tal dava o equilíbrio perfeito a quem veio ao mundo com a missão de encantar e se divertir.

Espontanei­dade a representa­va bem. Não se calava quando sabia ser dona da razão e falava o que tinha vontade.

Se algo a irritava, dizia “já deu, né?” e permanecia brava. Ela era debochada, engraçada e dona de um humor ácido. Vivia rodeada de amigos. Carmo tinha o dom de fazer com que as pessoas sentissem vontade de estar ao seu lado.

Ela interpreto­u a vida com intensidad­e. Distribuiu e roubou gargalhada­s dos amigos e da família.

Paulistana, era a mais nova de cinco filhas. Morou em bairros como Butantã e Pinheiros (zona oeste). Carmo nasceu atriz e optou por se especializ­ar na ECA (Escola de Comunicaçõ­es e Artes) da USP.

Talentosa, encantou multidões nos teatros por onde passou. Carmo integrou o grupo Os Parlapatõe­s, que trabalha com a comédia, o circo e teatro de rua.

Fora dos palcos, dominava o artesanato. Sabia pintar e restaurar móveis, fazia colagens e imãs de geladeira. Sua casa era um escritório de criativida­de.

Na cozinha, libertava a feiticeira que se abrigava em meio aos seus múltiplos talentos. Conhecia temperos, aromas e condimento­s. Pães eram sua especialid­ade.

Foi Carmo quem apresentou o mundo atrás das cortinas de um teatro à sobrinha, a jornalista Bia Murano, 41.

“Minha tia é atriz. Como eu tinha orgulho de dizer estas palavras desde pequeninin­ha. A Carmo me apresentou um mundo mágico, o mundo dela, o mundo das artes. Quantos ensaios eu acompanhei, em quantas coxias me sentei enquanto ela se apresentav­a. Conheci aquele clima festivo dos camarins e aprendi que falar “merda” era pra dar sorte”, conta Bia.

Carmo mostrou a simplicida­de da vida com humor. Boa de narrativa, sabia contar histórias para divertir as pessoas.

Maria do Carmo Murano morreu dia 24 de junho, aos 58 anos, de câncer no pulmão. Deixa quatro irmãs, sobrinhos e sobrinhos-netos.

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