Em SP, banhistas zombam da morte
O inverno de 2020 promete em Ubatuba. Se o que vi em 1º de julho for tendência em outras praias brasileiras, a temporada será de agravamento da pandemia de Covid-19. Mais do que a ausência de máscaras, salta aos olhos a ausência de preocupação.
ubatuba (sp) Três adolescentes mais ou menos da mesma idade caminham juntas na praia. Duas são ruivas; a outra tem feições orientais e pele bronzeada de sol. O grupo cruza uma quarta jovem, com a cabeleira parcialmente descolorida, que vinha no sentido oposto.
Elas gritam e pulam e se beijam e se abraçam.
Seriam todas irmãs que moram juntas, num surto inexplicável de bobeira? Remotamente, mui remotamente possível. O mais provável é que sejam amigas, separadas desde o início da pandemia, num efusivo reencontro para férias no litoral.
O inverno de 2020 promete em Ubatuba (SP). Se o que eu vi no dia 1º de julho for tendência em outras praias brasileiras, a temporada será de agravamento da pandemia de Covid-19.
Em tese, as praias estão fechadas para o lazer. É permitida apenas a prática desportiva individual —surfe, natação, corrida e caminhada, entre outras modalidades. Mas a Prefeitura de Ubatuba admite ser incapaz de controlar o acesso de banhistas à faixa de areia. São 70 praias em 80 quilômetros de orla. Em Itamambuca, nenhum fiscal à vista.
Como o banho de mar é vetado, a Cetesb sequer se dá ao trabalho de analisar a água. Os boletins mais recentes de balneabilidade têm a data de 15 de março.
Os visitantes parecem não se importar. Famílias com crianças pequenas rolam na areia grossa da rebentação. No canto sul da praia, o rio Itamambuca despeja uma quantidade variável de esgoto cru no oceano. Quando há a análise microbiológica, a bandeirinha da Cetesb oscila entre o verde e o vermelho, a depender dos humores do céu e do mar.
Tampouco há salva-vidas. No primeiro dia do mês, entretanto, eles estavam em treinamento na praia.
Cerca de 20 bombeiros corriam, entoavam gritos de guerra, erguiam um bote, corriam com o bote erguido e gritavam um pouco mais, sem máscaras e decididamente aglomerados. Um pequeno grupo de curiosos se aglomerava para assistir ao exercício. Sem máscaras. Os salva-vidas, que são policiais militares, se exibiam orgulhosos.
As leis estadual e municipal exigem o uso de máscara na praia, mas ninguém cobre o rosto. Correção: há um sorveteiro mascarado. Perguntei à prefeitura se ele poderia trabalhar ali, mas não obtive resposta.
Mais do que a ausência de máscaras, salta aos olhos a ausência de preocupação.
Os banhistas se reúnem em rodinhas, jogam frescobol, compartilham cigarros e latinhas, aproximam-se sem pudor. Todos riem e se tocam. Fico até constrangido por fugir da presença humana como se fosse a peste. E é.
Na volta da minha caminhada, dois surfistas passaram zunindo no meu ouvido direito, correndo com as pranchas no sovaco. Não os vi chegando e tomei um susto. Compro um retrovisor para o próximo passeio?
Itamambuca, como o Leblon dos botecos lotados, brinca de roleta-russa com o novo coronavírus. Brinca como se fosse o ano passado. Zomba da morte.
Já sabemos como isso vai terminar.
Praias de SP ficam sem monitoramento da qualidade da água
ribeirão preto A pandemia do novo coronavírus fez com que o monitoramento da qualidade das praias de São Paulo fosse suspenso pela Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo).
A interrupção temporária no ocorreu na segunda quinzena do mês de março, quando o governo do estado decretou as primeiras medidas de isolamento social. Em tese, a medida não deveria gerar problema nos últimos quatro meses, já que, ainda que a água estivesse imprópria para banho, ninguém deveria usar as praias.
Mas não foi isso que se viu em algumas cidades. Houve casos em que, para reduzir a presença de banhistas, prefeituras criaram barreiras nas entradas dos municípios e interromperam o acesso de veículos não fossem locais.
Na rodovia dos Tamoios, um bloqueio chegou a ser feito para permitir só a passagem de moradores que comprovassem residência em cidades como Ilhabela, São Sebastião, Ubatuba e Caraguatatuba.
O programa de balneabilidade das praias paulistas existe desde 1968, quando teve início a retirada de amostras da água na Baixada Santista. No fim do ano passado, havia 177 pontos de monitoramento.
No último levantamento, de 15 de março, 55 pontos estavam impróprios para banho.
A Cetesb informou que os resultados históricos de balneabilidade das praias de São Paulo mostram que, no período de inverno, a qualidade da água tende a ser melhor.
“Este fato decorre, principalmente, da diminuição das chuvas, que podem carrear esgoto, lixo e outros detritos para as praias pelas galerias, córregos e canais de drenagem”, diz comunicado da agência.
Não há prazo para o retorno do monitoramento semanal das praias, o que dependerá das orientações das autoridades de saúde, segundo a Cetesb.
Ainda conforme a companhia ambiental, as atividades emergenciais de amostragem de água estão sendo mantidas durante o período e que, devido à quarentena, a população foi orientada a não utilizar as praias para recreação, para evitar as aglomerações.
No fim do ano passado, conforme a Folha mostrou, em todo o estado o total de pontos considerados péssimos quase dobrou, passando de 16 para 29.