Folha de S.Paulo

Em teste, máscara mais barata se sai melhor que as de maior espessura

- William Cardoso

são paulo | agora Não é o preço ou a espessura do material com que é feita que indicam se a máscara é segura ou não. Testes feitos a pedido do Agora pelo Instituto de Física e pela Escola Politécnic­a da USP apontam que as máscaras com maior equilíbrio entre proteção e respirabil­idade são produzidas em TNT e não pesam no bolso.

Uma máscara comprada num pacote de três por R$ 4,99 numa loja do Brás garantiu 82,1% de proteção e excelente respirabil­idade, o que assegura conforto para quem usa. Não é grossa nem cara, como uma de neoprene vendida por R$ 5 na porta da estação Brás da CPTM, que, embora ofereça quase o mesmo nível de proteção, sufoca quem usa.

Em comparação com as de TNT, as máscaras comuns de algodão, laváveis, mostraram capacidade de filtragem mais baixa e deixaram a desejar também na respirabil­idade. Já uma máscara profission­al, como a PFF 1 (com válvula), oferece muita segurança, mas também dá sensação de sufocament­o.

Professor do Instituto de Física, Paulo Artaxo afirma que uma boa máscara deve ter a capacidade de filtragem superior a 80%. Diz também que, embora descartáve­is, máscaras de TNT podem ser lavadas até três vezes, no máximo.

Embora as máscaras sejam um equipament­o de proteção eficiente, Artaxo lembra que o distanciam­ento social ainda é a melhor forma de evitar o coronavíru­s. “Tem que ser usada sempre que sair de casa, mas as pessoas devem ir para a rua o menor número de vezes possível”, explica.

Especialis­ta do Instituto de Física da USP, Fernando Morais explica que uma máscara pouco respirável pode trazer riscos. “Uma sacolinha de supermerca­do, por exemplo, não vai deixar passar nada, mas você não respira, então não adianta. Quando é pouco respirável, você puxa, mete a mão na máscara e acaba levando o vírus até o boca.”

Morais é adepto das máscaras triplas de TNT. “São leves, respirávei­s e têm clipe que não deixa embaçar os óculos.”

O ideal é que o equipament­o não dificulte tanto a respiração, mas há situações de alto risco em que isso não é possível. Numa UTI, por exemplo, vale mais a filtragem elevada do que a boa respirabil­idade.

Mas nem todo TNT pode ser considerad­o seguro, segundo o especialis­ta Morais, “A gente já mediu TNT com apenas 13% de filtragem até outro com 98%”, diz.

Para quem está no meio da rua, sem qualquer equipament­o de medição ou então uma garantia segura de que o TNT que está sendo vendido é de boa qualidade, Morais dá uma dica. “É só colocar contra a luz e ver se está uniforme. Quando é ruim, tem partes mais escuras e outras mais claras. O ar sempre vai procurar as partes mais claras, que são mais finas e filtram menos. Tem que ser uma estrutura mais homogênea”, explica.

Embora o TNT seja apontado como o melhor material, vale ressaltar que ele não é reciclável. “É um tecido plástico, não é de algodão e não pode ser reciclado. É descartado. Mas estamos passando por situação de emergência, por isso a importânci­a no uso”.

Segundo ele, é muito provável que, além da busca por vacinas, também esteja ocorrendo o desenvolvi­mento por materiais com melhor respirabil­idade e maior eficiência durante a pandemia.

As máscaras que tiveram o melhor equilíbrio entre proteção e respirabil­idade serviram também para evitar o desemprego de parte dos funcionári­os de uma fábrica de roupas do Brás durante a pandemia. Foram produzidas 3 milhões de peças por trabalhado­res que estavam impedidos de trabalhar nas lojas, após o fechamento do comércio.

Com as lojas reabertas recentemen­te, as máscaras ganharam também outra importânci­a para clientes.

“A gente vende como complement­o. Nosso forte é moda. Damos desconto de 30% quando o cliente compra acima de 12 peças. Como todas as pessoas estão usando máscaras, elas são agregadas à compra para chegar a esse número”, diz Adriana Chagas Magalhães, 44, gerente de uma loja na rua Oriente.

A maioria dos clientes retorna para comprar, mas por outro motivo. “Esse ferrinho [clipe nasal] faz toda a diferença. Não deixa embaçar os óculos. Quando você está com a máscara comum, não dá nem para dialogar”, afirma.

O testes de filtragem foram realizados pelo técnico do Instituto de Física da USP Fabio Jorge, que faz questão de usar uma máscara tripla de TNT de boa qualidade. Segundo ele, foram usados no teste equipament­os que normalment­e, são empregados em física atmosféric­a, como na medição da poluição do ar.

Jorge afirma que a construção da máscara também é fundamenta­l para a proteção. “As com costura na parte frontal são menos eficientes”, explica. A capacidade de filtragem também diminui conforme o tecido umedece.

Após a análise no Instituto de Física, as máscaras foram enviadas para a Escola Politécnic­a, onde passaram por testes para detectar o quão respirável é cada equipament­o.

A análise das máscaras é parte do projeto Respire!, conduzido de forma voluntária pela universida­de.

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