Gafanhotos no Planalto
brasília Conta-se cerca de um mês que o país deixou de lidar com o despejo de detritos verbais no entra e sai do Palácio da Alvorada. Certamente contribuíram para a quietude da língua presidencial malsã a ofensiva judicial contra apoiadores lunáticos e familiares de Bolsonaro, a prisão do encalacrado Fabrício Queiroz e os laços evidentes com o boquirroto Wassef.
Há quem se aproveite do figurino comedido para vender uma nada convincente predisposição ao diálogo institucional. Tenta-se dar um ar de normalidade às tensões refreadas para retomar a agenda econômica. Mais nociva que a língua presidencial, porém, é sua caneta a nos lembrar quem é Bolsonaro e sua personalidade funesta.
O país está ferido pelo luto. Exausto pela pandemia. Mil famílias choram seus mortos por dia. A marca dos dois milhões de infectados está logo ali. E o que faz Bolsonaro? Veta o uso obrigatório da máscara de proteção em escolas, igrejas, comércio, indústrias, prisões e repartições públicas.
No último sábado, o presidente achou por bem comparecer com quatro ministros militares às comemorações pela independência dos Estados Unidos na casa do embaixador, Todd Chapman, um tipo que se fantasia de cowboy quando vai dar entrevista na televisão. Posou para fotos, fazendo sinal de “positivo”. Ele acabara de sobrevoar a região atingida pelo ciclone, que deixou 12 mortos.
É o mesmo presidente que tem ampliado o acesso da população a armas e munições. A loquacidade contida de hoje contrasta com as línguas soltas da reunião de 22 de abril, aquele, sim, um retrato sem retoques de cafajestice e incompetência explícitas. Sem crédito, empresas quebram país afora, milhões de brasileiros perdem seus empregos e/ou não conseguem o auxílio emergencial. A Saúde e a Educação seguem acéfalas. A nuvem de gafanhotos já chegou. E comanda a devastação confortavelmente instalada no Palácio do Planalto.